Aos 35 anos, o pesquisador visitante do Instituto Agronômico (IAC-APTA), Bernardo Moreira Cândido, será agraciado com o Prêmio Fundação Bunge na categoria "Juventude". O reconhecimento é pelo trabalho de pesquisa dos processos de mudança da superfície da Terra, com ênfase em erosão do solo, utilizando inteligência artificial, algoritmos de machine learning e drones para identificar padrões de alterações na superfície do solo. É a primeira vez que o IAC tem um pesquisador reconhecido na categoria Juventude que reconhece profissionais até 35 anos. A indicação ao prêmio foi feita pela diretoria-geral do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Neste mês de agosto, Cândido segue para os Estados Unidos, onde atuará como pesquisador e professor na Universidade do Missouri, mas continuará como coorientador no IAC, na área de pesquisas com VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado). A entrega do prêmio será no dia 10 de novembro, em São Paulo, Capital. Ele voltará ao Brasil para receber a homenagem.
Considerado um dos mais importantes reconhecimentos de mérito científico, literário e artístico do Brasil, o Prêmio Fundação Bunge está em sua 66ª edição. "Embora o prêmio seja individual e pelo conjunto do trabalho, avalio que esse reconhecimento só foi possível graças ao trabalho em conjunto com os profissionais das diversas instituições pelas quais passei e formei laços, além do apoio familiar", comenta o jovem premiado.
O diretor-geral do IAC, Marcos Guimarães de Andrade Landell, afirma que entre os objetivos da instituição estão a valorização e a visibilidade dos pesquisadores e colaboradores por sua excelência nas atividades desenvolvidas. "Ao acompanhar e contribuir com o trabalho com dedicação e competência, e ao alcançar o crescimento e o do reconhecimento pela sociedade, renova-se a esperança no futuro", avalia Landell.
Cândido busca democratizar a tecnologia por meio de suas pesquisas. O agrônomo também participa de missões para compartilhar conhecimento em países da África, com o objetivo de melhorar os recursos agrícolas naquela região e a qualidade de vida da população. Desde 2019, atua como pesquisador visitante no IAC e como professor pela Pós-Graduação IAC em Agricultura Tropical e Subtropical. Realizou o trabalho inédito no Brasil ao validar a fotogrametria com uso de drones para diferentes tipos de erosão durante o seu doutorado.
O jovem agraciado se formou em agronomia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), onde também fez mestrado. Seu doutorado tem dupla titulação: pela UFLA e pela Universidade de Lancaster, na Inglaterra. "Desde a graduação foquei em pesquisas voltadas para o solo e a água, isso me conduziu para o mestrado onde avaliei a erosão hídrica e qualidade do solo em sistemas florestais", diz.
Com essa bagagem de conhecimento, Cândido buscou usar técnicas de geociências para área agrícola e ambiental. A sua pesquisa de doutorado permitiu quantificar a velocidade da erosão em áreas degradadas. No IAC, as pesquisas buscaram estimar a erosão do solo em áreas degradadas e cobertas por plantios. Os estudos foram realizados por meio de imagens aéreas, geradas por VANTS, também conhecidos como drones.
"O IAC me concedeu autonomia para que eu criasse um grupo de trabalho, formasse parcerias e abrisse novas linhas de pesquisa. Credito esse acolhimento e liberdade como fatores que permitiram o meu reconhecimento em âmbito nacional e internacional", afirma.
Ao longo de sua carreira, o pesquisador buscou consolidar suas atividades no tripé pesquisa, extensão e ensino. Para ele, essas atividades proporcionam uma maior rede de contatos, ideias, projetos e orçamentos. "Poder colaborar em diferentes áreas nos possibilita interagir com diversos profissionais e produtores e, assim, conhecer os problemas do cotidiano deles. Trabalhar com grupos de diferentes países e instituições, faz com que consigamos unir forças e experiências. Dessa forma posso buscar soluções tecnológicas para os produtores e a sociedade de forma mais assertiva", avalia o pesquisador.
Cândido participa de um projeto de cooperação técnica entre o Brasil e o Mali, África, que envolve a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), Universidade Federal de Lavras e o IAC, com financiamento pela Organização das Nações Unidas (ONU). O projeto objetiva aumentar a produção sustentável de algodão naquele país, que é o maior produtor de algodão da África e um dos maiores do mundo.
Entre os seus planos para o futuro está em democratizar o acesso de dados mais precisos sobre o que ocorre na superfície terrestre. "Tenho como meta avançar com as minhas pesquisas, e assim possibilitar que os produtores tenham acesso a esse conhecimento e com o atrativo da tecnologia despertar o interesse dos jovens no trabalho no campo", diz.
Prêmio Fundação Bunge 2022
Este ano, o Prêmio Fundação Bunge homenageará profissionais com trabalhos relacionados aos temas Crédito de carbono e agricultura regenerativa, na área de Ciências Agrárias e Inteligência artificial e o uso das águas e do solo, em Ciências Exatas e Tecnológicas.
Cândido foi agraciado na temática Inteligência Artificial e o Uso das Águas e do Solo, assunto que tem implicações diretas na forma como se pratica a agricultura no século XXI. Conforme consta no site do Prêmio, "a escolha ressalta a centralidade do desafio que a Fundação Bunge vê como um dos maiores e mais críticos da atualidade: o de produzir alimentos e outros bens essenciais para uma população que poderá chegar a quase dez bilhões de pessoas até a metade do século, com a mínima e mais racional utilização dos recursos naturais do planeta. Trata-se de tarefa que envolve conhecer, analisar e aplicar uma imensidão de dados e variáveis na tomada das melhores decisões para cada localidade específica, a cada momento -- algo que nenhum sistema humano seria capaz de desempenhar tão bem, mas que, com a ajuda de tecnologias e infraestruturas criadas pelo homem, é possível realizar".
O Prêmio Fundação Bunge contempla seis áreas do conhecimento humano: Ciências Biológicas, Ecológicas e da Saúde; Ciências Exatas e Tecnológicas; Ciências Agrárias; Ciências Humanas e Sociais; Letras e Artes. A área de Ciências Agrárias é fixa, sendo contemplada todos os anos. As demais seguem um sistema de rodízio. O Conselho da Fundação Bunge seleciona os ramos dentro da área definida e conduz com extremo rigor o processo de escolha dos ramos de atividade e dos homenageados. As categorias são Vida e Obra e Juventude.
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