Por: Wilson Nascimento
O recente ataque fatal de uma onça-pintada a um caseiro de 60 anos no Pantanal sul-mato-grossense reacende uma discussão urgente sobre os limites da convivência entre humanos e grandes predadores. Embora ataques como esse sejam raros, eles não são inéditos e revelam tensões crescentes em uma região onde o turismo de observação de onças se tornou uma das principais atividades econômicas.
Segundo o pesquisador Diego Viana, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), fatores como a defesa de filhotes, ferimentos ou a prática ilegal da "ceva" — alimentar animais selvagens para atraí-los — podem aumentar o risco de ataques. A "ceva", em particular, é preocupante, pois condiciona os animais a associar humanos à comida, reduzindo seu medo natural e aumentando a probabilidade de encontros perigosos.
Outros incidentes recentes reforçam a necessidade de atenção. Em agosto de 2023, um trabalhador rural foi atacado por uma onça na região do Paiaguás, também no Pantanal, sofrendo ferimentos graves nos braços e pernas. Em dezembro de 2024, um trabalhador foi encontrado morto em Tapurah, Mato Grosso, com sinais de ataque de onça-pintada. E em agosto de 2023, um indígena em Alta Floresta sobreviveu a um ataque, recebendo 150 pontos na cabeça após tentar proteger seus sobrinhos.
Esses casos, embora isolados, evidenciam a necessidade de medidas preventivas. O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) recomenda, entre outras ações, evitar andar sozinho em áreas de risco, fazer barulho para alertar os animais da presença humana e não se aproximar de carcaças de animais, que podem ser fontes de alimento para onças.
O turismo de observação de onças, quando realizado de forma responsável, pode ser uma ferramenta poderosa para a conservação da espécie e o desenvolvimento sustentável da região. No entanto, é fundamental que práticas inadequadas sejam combatidas e que haja uma conscientização contínua sobre os riscos e responsabilidades envolvidos.
A coexistência harmoniosa entre humanos e onças-pintadas no Pantanal exige respeito mútuo, educação ambiental e políticas públicas eficazes. Somente assim poderemos garantir a segurança das comunidades locais e a preservação desse magnífico felino em seu habitat natural.
Wilson Nascimento é diretor executivo do Portal Canal da Cana