Estudo revela presença de agrotóxicos em água da chuva em cidades paulistas, incluindo substâncias proibidas no Brasil

Análises indicam contaminação por atrazina e carbendazim em 36 meses de coletas em Brotas, Campinas e São Paulo

Estudo revela presença de agr

Um estudo recente realizado por pesquisadores da Unicamp e publicado na revista Chemosphere revelou dados alarmantes sobre a qualidade da água da chuva em três cidades do Estado de São Paulo: Brotas, Campinas e a capital. As análises identificaram a presença de 14 tipos de agrotóxicos e cinco compostos derivados, com destaque para a atrazina, detectada em 100% das amostras, e o carbendazim, um fungicida já proibido no Brasil, presente em 88% das coletas.

A pesquisa foi coordenada pela professora Cassiana Montagner, do Instituto de Química da Unicamp, e se baseou em amostras coletadas entre 2019 e 2021. O objetivo foi compreender como os agrotóxicos aplicados nas lavouras se dispersam na atmosfera e retornam ao solo por meio da chuva, contaminando o ambiente mesmo em áreas urbanas distantes das plantações.

Além da atrazina e do carbendazim, outras substâncias preocupantes foram encontradas, como o herbicida tebuthiuron, identificado pela primeira vez em água da chuva e presente em 75% das amostras. O herbicida 2,4-D, conhecido por sua toxicidade e já proibido em aplicações aéreas pela Anvisa, apresentou as maiores concentrações na cidade de Brotas.

Também foi detectado o inseticida fipronil, classificado como altamente tóxico para abelhas e persistente em ambientes aquáticos. Mesmo banido na União Europeia, o produto foi identificado em 67% das amostras analisadas no Estado de São Paulo.

Os pesquisadores alertam que, embora as concentrações detectadas estejam abaixo dos limites permitidos para água potável, muitos dos agrotóxicos encontrados sequer possuem parâmetros de segurança estabelecidos no Brasil. Além disso, a exposição crônica, mesmo em pequenas doses, pode causar sérios danos à saúde humana e ao meio ambiente.

O estudo utilizou a metodologia de mesocosmos, que simula ecossistemas naturais em estruturas controladas, permitindo avaliar o impacto ambiental real desses produtos. A mesma técnica está sendo aplicada em novos estudos sobre os efeitos combinados de agrotóxicos e microplásticos, liderados pelo pesquisador Walter Waldman, da UFSCar.

Diante do avanço do uso de agrotóxicos — o Brasil é o maior consumidor mundial — e da crescente dependência de água da chuva por parte da população, os cientistas defendem o fortalecimento de políticas públicas voltadas ao monitoramento e ao tratamento da água, baseadas em evidências científicas sólidas.


Fonte: Agência FAPESP

Notícias relacionadas
© Restrições a defensivos químicos ameaçam agricultura na Europa, aponta especialista

Restrições a defensivos químicos ameaçam agricultura na Europa, aponta especialista

© Área tratada por defensivos agrícolas no Brasil cresce 9,2% em 2024

Área tratada por defensivos agrícolas no Brasil cresce 9,2% em 2024

© Morte de abelhas leva a Polícia Científica do Paraná a identificar agrotóxico usado irregularmente no Brasil

Morte de abelhas leva a Polícia Científica do Paraná a identificar agrotóxico usado irregularmente no Brasil

© Feroce, inseticida da UPL, obtém registro para combater 'cascudinho' da soja

Feroce, inseticida da UPL, obtém registro para combater 'cascudinho' da soja

Comentários 0
Deixe seu comentário
or

For faster login or register use your social account.

Connect with Facebook