Juros no Brasil: especialistas comentam expectativa para queda da Selic

Este deve ser o quarto corte desde agosto, quando o comitê iniciou o processo de queda de juros.

Juros no Brasil: especialistas
Nesta quarta (13), o Copom - Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne no oitavo e último encontro do ano para anunciar a decisão sobre a nova taxa Selic. É consenso do mercado uma queda provável de 0,50 pp com a redução dos juros de 12,25% para 11,75% ao ano. Este deve ser o quarto corte desde agosto, quando o comitê iniciou o processo de queda de juros.
Caio Canez de Castro, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, não acredita que poderia haver uma mudança na comunicação do Copom nesse momento. "É dado como certo os próximos dois cortes de 0,5% nas duas próximas reuniões e em 2024 poderemos ver algumas demonstrações com relação a aceleração nos cortes. Até lá, a discussão será até onde poderá ir esse corte de juros", afirma o especialista.
Para ele, mesmo com a Selic em queda, os juros ainda seguem em patamares altos e isso ajuda a renda fixa a se manter um investimento atrativo. "Além disso, a renda fixa possui um acréscimo que são os prêmios de risco e estes seguem em patamares altos. Isso segue atraindo recursos dos investidores", comenta Castro.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores, concorda que a renda fixa deve continuar atrativa ainda que haja cortes. "Ainda mais em um cenário de juros altos nos EUA, a renda fixa global tende a seguir atrativa há algum tempo. Sem falar que qualquer taxa maior que 10% ao ano não é de se jogar fora", comenta.
Segundo Jorge, para o investidor pessoa física, LCI / LCA ou mesmo debêntures incentivadas são as melhores escolhas. "A recomendação é escolher bem o emissor e não extrapolar o limite do FGC porque são produtos isentos e de baixo risco. Outro ponto é que eles geralmente pagam mais que outros investimentos como os CDBs e títulos públicos, por isso vejo mais vantagens", explica. Ele lembra que em vários casos o dinheiro fica preso até o final, logo, é preciso investir o que não irá precisar de liquidez. Já para recursos com liquidez imediata, os CDBs, de acordo com ele, são as melhores opções. "Ainda acredito também nos prefixados de três anos aproximadamente. Os ativos ligados à inflação também são boas opções para quem quer se proteger. O importante é o investidor ter uma carteira bem diversificada e se atentar bem para os prazos e liquidez", diz.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, acredita que mesmo uma Selic em 7%, por exemplo, ainda assim vai valer a pena se a inflação continuar caindo junto. "Nesse cenário de Selic caindo, a gente tem bolsa subindo e fundos imobiliários também. E aí o investidor precisa começar a diversificar. Já está na hora de começar a olhar bolsa há muito tempo, mas fundos imobiliários também. Nunca é tarde", indica. Cohen também prefere os ativos ligados ao IPCA em vez de ativos pós-fixados ou prefixados.  "Os ativos prefixados, na minha visão, só valem quando a Selic está muito alta e a gente não tem expectativa de novas altas. Mesmo assim é um risco. O pós-fixado pode ser uma boa alternativa, mas o investimento pode sofrer com a inflação, caso venha a subir", complementa.
Para Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, outros investimentos que voltarão a ficar atrativos para o investidor com o processo de queda da Selic são as debêntures, os CRIs e CRAs. "Acredito que as perspectivas para esses ativos irá passar a ser positiva se comparado ao que tivemos neste ano, principalmente quando voltamos o início dele em que tivemos a desagradável surpresa com o caso da Americanas. Naquele momento o mercado de crédito se retraiu e uma crise de confiança foi estabelecida, havendo o risco de contaminação para outras empresas", diz. Passado esse momento, ela explica que as emissões de dívidas voltaram a ser retomadas e a continuação da queda da taxa Selic poderá encorajar as empresas a tomarem dívida no mercado de capitais brasileiro.
Em se tratando de crédito privado, Ana acredita que um dos principais pontos a serem observados é a qualidade da empresa e sua capacidade para tomar dívida. "Outro cuidado importante é a velha e boa diversificação e não concentrar em papeis da mesma empresa ou setor, fazendo assim alocações equilibradas em diversos setores da economia. Além disso, é importante alocar em papeis com diferentes indexadores, diversificando entre juros reais (juros + IPCA), prefixados e pós-fixados e prazos de acordo com a necessidade de liquidez e apetite para risco", explica. Ela ressalta que um título prefixado pode até oferecer taxas atrativas, mas a depender do prazo pode ser arriscado dadas as incertezas no comportamento de inflação e juros ao longo do tempo.    
Com o ciclo de queda de juros tendo continuidade no próximo ano, Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital, não vê muita atratividade em fundos majoritariamente de títulos públicos pós-fixados, que devem ficar para trás: "Na minha visão, foram os grandes vencedores nos últimos dois anos com os juros altos, mas olhando para frente com a queda dos juros vão render cada vez menos".
Falando de renda fixa, Fonseca acredita em ativos de crédito prefixados com vencimentos entre 3 e 5 anos. "Podem ser uma opção interessante. Claro que sempre é preciso entender o risco da empresa emissora do crédito para não contratar uma excelente taxa e não obter o rendimento devido a falência ou pedido de RJ da companhia", diz. Outra opção, sempre vencedora no longo prazo, são os títulos indexados à inflação, em que ainda é possível obter bons rendimentos reais e que protegem o investidor do maior vilão da economia, inflação. "Em termos de rentabilidade na curva pode não ser o melhor ativo, mas na marcação a mercado o investidor deve se beneficiar sim", acrescenta Fonseca.
Em relação aos próximos meses, Ricardo Aragon, sócio-fundador da Matriz Capital, enxerga a gestão fiscal como fator importantíssimo para que o Banco Central possa seguir com a agenda de corte de juros, fomentando cada vez mais a economia real. "Em caso de maior endividamento, o dólar tende a migrar para um país emergente mais seguro, resultando numa apreciação maior da moeda estrangeira perante o nosso real, por isso a importância desse tema", comenta.  Para Aragon, caso a inflação volte a se apreciar devido a uma política expansionista sem muitos parâmetros fiscais, é possível contemplar um dólar tranquilamente acima de R$5,50 no final do ano.
Além disso, "o mercado vai ficar atento na política fiscal, se a Reforma Tributária realmente começará a afetar positivamente a economia, principalmente no que diz respeito a eficiência do setor de consumo e se o arcabouço fiscal será realmente suficiente para reduzir os recorrentes déficits do governo", finaliza.

Foto: Marcello Casal JR
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