Acelerar a transição energética é urgente para se atingir o net zero (Net Zero Carbon Emissions), e isso implica em uma responsabilidade coletiva, com governo, indústria e academia focados na busca por soluções competitivas. No entanto, o desenvolvimento e a implantação de inovações em escala industrial pedem cautela. O suficiente para se avançar de forma rápida, mas sem colocar em risco a sustentabilidade das empresas de energia e a segurança no abastecimento. Essas foram algumas das conclusões das apresentações feitas na abertura da 6ª Conferência de Pesquisa e Inovação em Transição Energética (ETRI – Energy Transition, Research and Innovation Conference), que começou ontem (7/11) na USP, em São Paulo (SP), com o patrocínio da Shell Brasil.
O diretor geral de Pesquisa e Desenvolvimento da Shell Brasil, Olivier Wambersie, citou o exemplo de uma empresa, cujas ações caíram depois que a mesma apresentou, neste semestre, problemas inesperados em sua divisão de turbinas eólicas, causando prejuízos vultosos. “Esse é o risco de se avançar demais”, disse, lembrando da complexidade dos desafios na transição energética. “O objetivo do net zero permanece inalterado; todos queremos um sistema energético limpo e sustentável, mas há aspectos complexos – técnicos, comerciais, regulatórios, sociais – que precisam ser superados”, disse.
Entre os desafios, o maior dilema, na visão de Carlos Américo Pacheco, diretor executivo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), é produzir tecnologias competitivas com soluções para setores economicamente consolidados. “Isso exige uma ciência de excelência, a exemplo do que é feito RCGI [Centro de Pesquisa e Inovação em gases de Efeito Estufa], em conjunto com parcerias sólidas”, disse ele.
O diretor técnico da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Daniel Maia Vieira, destacou a importância do apoio pela agência às startups, que “são os catalisadores de soluções disruptivas” na transição energética. A ANP, que registrou recorde de investimentos (R$ 4,4 bilhões) no ano passado em projetos de PD&I feitos por empresas e instituições de pesquisa, está, segundo ele, atenta às inovações e aos aspectos regulatórios das novas tecnologias. “E também atenta aos programas do governo em transição energética e procurando integração com outras áreas, como a naval, por exemplo”, afirmou.
Já o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo do Estado de São Paulo, Vahan Agopyan, destacou a importância de transformar o conhecimento gerado nas instituições de pesquisa em inovação. Ele pontuou que o estado vem investindo 7% do seu orçamento em ciência e no ensino superior, e isso possibilitou criar um sistema robusto de ciência e tecnologia. O desafio é a inovação. Nesse sentido, “o RCGI é um modelo, um orgulho para o nosso estado, pois é focado em inovar em uma área muito relevante”. Essa visão foi compartilhada pela pró-reitora de Pesquisa da USP, Susana Inés Córdoba de Torresi: “Ninguém vai fazer a transição energética sozinho, e a existência de centros de pesquisa como o RCGI é fundamental.”
Segundo a Chair do evento, Karen Mascarenhas, o RCGI se tornou referência internacional na área porque está focado em soluções para reduzir as emissões de CO2, de forma a levar o Brasil a alcançar suas metas nas das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Tudo isso feito em parceria com governo e empresas (a chamada hélice tríplice), dentro do modelo de inovação aberta.
“Há dois anos, iniciamos projetos de pesquisa em diversos programas, como CCUS [captura, armazenamento e uso de carbono], NBS [soluções baseadas na natureza], e GHG [gases de efeito estufa), entre outros, e agora temos um novo programa, o InnovaPower. Nesse período, fomos visitados por ministros de estado [do Brasil e exterior], o que mostra o quanto o que se faz aqui no centro é relevante para a sociedade. Mais do que gerar conhecimento, buscamos a inovação”, disse o diretor geral do RCGI, Julio Meneghini.
A conferência ETRI 2023 acontece até amanhã, quinta-feira. Promovido pelo RCGI, o evento reúne cientistas, representantes do governo e executivos de grandes empresas, do Brasil e do exterior. As inovações tecnológicas e as políticas públicas necessárias para a descarbonização do setor energético no Brasil pautam as principais discussões.