Por: Eduardo Takahashi
É inegável que o agronegócio brasileiro cresceu e evoluiu de uma forma impressionante nos últimos anos, conquistando marcas, tornando-se referência em tecnologia e inovação e alcançando cifras incríveis.
Basta vermos as estimativas feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que está prevendo que a safra 2023/2024 deve quebrar novos recordes, chegando a mais de 300 milhões de toneladas.
Essa safra recorde mostra claramente como o agronegócio ganhou justa relevância na economia do Brasil. Entre 2002 e 2022, o Produto Interno Bruto do agronegócio cresceu cerca de 300%, alcançando a impressionante marca de US$ 500 bilhões, o equivalente ao PIB de uma Argentina.
Mas, como qualquer ramo de negócio, ele também está sujeito a intempéries, sejam ambientais ou econômicas. Justamente por isso, vimos o mercado de seguro agrícola crescer 30% em 2022, com R$ 6,3 bilhões pagos em apólices, segundo dados da Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg). Ainda de acordo com a mesma entidade, a expectativa é que essa modalidade de seguro cresça nos mesmos patamares em 2023.
Contudo, novos fatos podem frustrar essa expectativa. Com os efeitos do El Niño cada vez mais visíveis, vimos a FenSeg se pronunciar recentemente afirmando que a subvenção ao seguro rural pode esgotar já neste mês. Segundo a entidade, o R$ 1,06 bilhão não será suficiente para apoiar o produtor rural.
Se isso se concretizar, o agronegócio brasileiro estará à mercê de diversos riscos, que podem refletir em aspectos econômicos. Analisando os dois últimos períodos, vimos o agro enfrentando secas e períodos chuvosos atípicos, sendo que boa parte desse prejuízo foi reparado financeiramente pelas seguradoras, o que possibilita ao produtor rural a continuidade do seu negócio.
É preciso criar mecanismos e ferramentas para incentivar, valorizar e fortalecer a adesão ao seguro rural. Além da proteção, temos um papel muito mais amplo, sendo um importante e forte elemento de apoio aos negócios.
O segmento de seguros, de uma forma simples e prática, tem como objetivo antecipar riscos, criar soluções de prevenção e desenvolver alternativas para resolver esses obstáculos antes que eles efetivamente explodam. E, caso essa explosão aconteça, atuar de forma rápida e eficiente para minimizar os danos e reverter a situação e, finalmente, reintegrar o prejuízo sofrido dando sustentabilidade às operações do agronegócio.
Esse protagonismo é tão nítido, que estamos vendo o desenvolvimento e fortalecimento de diversas modalidades de seguros destinadas exclusivamente aos produtores rurais.
O mais conhecido continua sendo o seguro rural tradicional, que protege os produtores rurais e as suas produções, independentemente de quais sejam os sinistros, como geadas e furtos, por exemplo. Mas outros estão ganhando cada vez mais notoriedade, contribuindo para o fortalecimento do agronegócio.
Podemos citar, o seguro floresta, que protege as áreas ambientais dentro das propriedades rurais, que são frequentemente assoladas por queimadas, sendo uma importante forma de garantir a sustentabilidade e a adesão aos padrões ESG, tão exigidos pela sociedade atualmente.
Dados do Ministério da Agricultura mostraram que o seguro floresta registrou um aumento de 20% na procura por esse tipo de produto, que cobre não apenas incêndios, mas também outros fenômenos naturais como geada, seca, granizo, chuvas excessivas, ventos fortes e queda de raio.
Há também soluções alternativas para a transferência de risco, como o seguro paramétrico, o qual tem despertado o interesse de diversas empresas e produtores rurais. Esse tipo de seguro oferece cobertura vinculada a elementos como variações no nível de chuva, possíveis focos de incêndio e outros cenários de risco.
Outra modalidade que também tem ganhado destaque é o seguro de crédito para empresas do agronegócio, que agora podem incluir produtores rurais sem CNPJ em suas apólices. Com isso, elas estão protegidas contra eventuais calotes, garantindo que recebam por seus produtos. Só ele, segundo dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), foi responsável por R$ 1 bilhão em indenizações pagas de janeiro a abril deste ano, uma alta de 411% em relação ao mesmo período de 2022.
É curioso, inclusive, notar como tudo se completa. O produtor rural que adere ao seguro está mais protegido contra um eventual sinistro, que prejudicará sua produção, que pode resultar em um não cumprimento de suas obrigações financeiras, onde seria necessário acionar o seguro de crédito.
Ao analisarmos o cenário geral fica cada vez mais nítido a importância do seguro para o agronegócio, como um elemento de continuidade e equilíbrio das atividades financeiras.
Eduardo Takahashi é Country Leader da WTW Brasil