Fertilizantes orgânicos na trilha da sustentabilidade

Por: Fernando Carvalho Oliveira

Fertilizantes orgânicos na tr

Por: Fernando Carvalho Oliveira

O cenário geopolítico mundial, especialmente a guerra entre Rússia e Ucrânia, que são grandes produtores de adubos minerais, e as dificuldades logísticas resultantes evidenciam o risco da dependência desses insumos. No caso do Brasil, que importa até 85% do que consome, é fundamental aumentar a produção nacional e expandir o uso de fertilizantes orgânicos oriundos das chamadas cadeias emergentes. Estes não só proporcionam benefícios econômicos e ambientais, mas também contribuem para o aumento da produtividade das culturas e promovem um equilíbrio saudável ao sistema solo-planta.

O Brasil destaca-se mundialmente pela geração de resíduos orgânicos nas atividades agropecuárias, agroindustriais e urbanas, especialmente nas industriais e de saneamento. Dessa forma, é notável a combinação perfeita entre a demanda e produção potencial dos fertilizantes orgânicos compostos. Os organominerais representam apenas 5% do total utilizado pelo agronegócio nacional e os orgânicos, 1,6%, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias em Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo). A obtenção desses fertilizantes por meio da técnica da compostagem termofílica de resíduos orgânicos é um modelo perfeito de economia circular, pois aquilo que seria passivo ambiental e/ou aumentaria o volume destinado aos aterros sanitários retorna ao ciclo econômico, gerando empregos e divisas, além de promover a reciclagem de nutrientes.

Assim, é primordial avançarmos na produção desses fertilizantes e difundir as múltiplas vantagens de sua aplicação. Para isso, há duas principais frentes de mobilização: a primeira – atrelada a políticas públicas e ao atendimento ao Novo Marco do Saneamento, que estabelece a livre concorrência e incentiva os investimentos privados no setor – é universalizar o tratamento de esgotos, que ainda não está disponível para os domicílios de cerca de 50 milhões de brasileiros, ou um quarto de nossa população, conforme aponta o Censo de 2022 do IBGE; a segunda vertente é a disseminação de valores da sustentabilidade ambiental para que mais e mais geradores, nos diversos ramos empresariais, destinem seus resíduos à compostagem.

Neste segundo caso, há uma operação consolidada e bem-sucedida com a utilização do lodo biológico de esgoto gerado pela Estação de Tratamento de Jundiaí, no interior paulista, o qual se soma a resíduos orgânicos gerados por agroindústrias e pelo setor de comércio e serviços, tais como lodos de sistemas de tratamentos de águas residuárias, cinzas da queima exclusiva de biomassa e restos inservíveis de alimentos pré e pós-consumo segregados na fonte e coletados de maneira diferenciada. As empresas que encaminham seus resíduos para serem tratados em processo de compostagem para produção de adubos orgânicos, além de atenderem aos preceitos da governança ambiental, social e corporativa (ESG), cumprem a legislação e têm vantagens financeiras, pois a solução é mais barata do que manter estruturas próprias para o descarte ecologicamente correto. Algo também muito importante refere-se aos ganhos de reputação e imagem perante clientes, consumidores e todos os seus stakeholders.

Quanto ao agronegócio, diversos estudos científicos demonstram os benefícios dos fertilizantes orgânicos compostos para a produção. Eles incrementam a produtividade de várias culturas, fornecem nutrientes essenciais às plantas, promovem a melhoria da estrutura do solo, aumentam sua capacidade de retenção de água e reduzem a erosão. Também estimulam a atividade microbiana benéfica, contribuindo para a saúde e fertilidade da terra no médio prazo.

O seu grande atributo está no conteúdo de matéria orgânica, substâncias húmicas, microrganismos, macro e micronutrientes. Outra vantagem é que podem substituir em até 50% os fertilizantes minerais, em aplicações conjugadas, contribuindo para o seu máximo aproveitamento.

Considerados os ganhos referentes à qualidade do solo, meio ambiente, economia de recursos e produtividade, é muito importante para o agro e para o Brasil que o setor intensifique o uso de fertilizantes orgânicos em adição às bem-sucedidas ações que têm realizado em termos de produção sustentável. Esse avanço específico está em linha com a atitude consciente dos produtores rurais de nosso país sobre a importância da preservação dos recursos naturais e ganhos de produtividade.


Fernando Carvalho Oliveira é engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia, com ênfase em Solos e Nutrição Mineral de Plantas, pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP). Especialista em fertilizantes orgânicos e economia circular, atua como responsável técnico pelos fertilizantes orgânicos compostos da Tera Nutrição Vegetal. Atuou como professor universitário por sete anos e foi membro titular do Conselho Deliberativo da ABISOLO (2018-2023), além de participar da elaboração das Resoluções Conama 375/2006, 481/2017 e 498/2020.

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