Algodão: o pequeno notável

Por: Ciro Rosolem

Algodão: o pequeno notável

Por: Ciro Rosolem

Neste 7 de outubro será comemorado, pela primeira vez, o dia Mundial do Algodão. A data foi instituída pela ONU, em reconhecimento à importância da cultura, que sustenta mais de 100 milhões de famílias em todo o mundo. Então por que pequeno? Pequeno porque no Brasil tudo relacionado ao agro é superlativo. Cultivamos mais de 44 milhões de hectares de soja, 22 milhões de hectares de milho, mais de 8 milhões de hectares de cana-de-açúcar. E o algodão? Pouco mais de 1,6 milhão de hectares. E por que notável? Notável porque, neste ano, provavelmente o Brasil se tornará o maior exportador de algodão, ultrapassando os Estados Unidos. Só não exportará mais porque o consumo interno é grande. Estima-se que a indústria têxtil nacional, quase 30.000 empresas, empregue 1,5 milhão de pessoas.

Mas nem sempre foi assim. No final dos anos 1980 o Brasil chegou a ser um dos maiores importadores de algodão do mundo. Tudo vinha muito bem, até que a inflação, o imposto de exportação e erros do Mercosul quase mataram a cultura, que era feita principalmente por pequenos agricultores nos estados do nordeste, de São Paulo e Paraná. Além do polo têxtil, que empregava muita gente já naquela época. Políticas erradas causaram o sumiço de estimados 1.500.000 empregos na época.

Mas o custo da produção em grande escala ainda permitia o cultivo, que se deslocava para Minas, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Depois Bahia, Maranhão, Piaui e outros estados com produção menor. Com algumas modificações tributárias, mais a lei Kandir, que isentou a exportação do ICMS, mais um trabalho muito bem feito de toda a cadeia produtiva da pluma, ou do ouro branco, resultou no protagonismo de hoje.

Pesquisa que desenvolveu tecnologia nacional, possibilitando o cultivo do algodoeiro em segunda safra, depois da soja, associada ao arrojo e inteligência de produtores, fizeram com que nosso algodão, que sofria deságio nas bolsas mundiais, seja hoje produto premium. A ABRAPA (Associação Brasileira de Produtores de Algodão) teve papel fundamental. Acionou os Estados Unidos contra os pesados subsídios praticados, e ganhou a causa, o que possibilitou a criação do Instituto Brasileiro do Algodão. Campanhas como, por exemplo, o Algodão Brasileiro de Qualidade, que permite o rastreamento completo da cadeia, com sustentabilidade e qualidade, e Sou de Algodão, que agrega empresas que utilizam e comercializam o produto, tem tido papel importante na divulgação do algodão brasileiro. A ABRAPA, juntamente com a ANEA (Associação Nacional dos Exportadores de Algodão) desenvolveram um programa chamado Cotton Brazil, que tem inclusive escritório em Cingapura, para promover exportações. Há que se ressaltar ainda o papel do MAPA, com participação ativa e profissional nas últimas décadas.

Isso tudo apesar dos governos e desgovernos. Então fica a mensagem: tudo é possível com determinação, trabalho, organização, conhecimento e, lógico, investimento e marketing inteligente.


O pequeno pode ser notável.


Ciro Rosolem é membro do Conselho Científico Agro Sustentável e Professor da Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP


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