O período mais seco do ano, entre os meses de junho e setembro, traz o risco de aumento de incêndios criminosos ou acidentais nos canaviais do estado de São Paulo. Esses focos ocorrem, principalmente, em áreas limítrofes com rodovias ou que tenham acesso fácil da população. Por isso, a conscientização das comunidades locais é muito importante.
Com quase 100% da cana colhida mecanicamente, o uso do fogo como método pré-colheita é restrito a pequenas áreas. Assim, incêndios em canaviais representam grandes prejuízos financeiros para usinas e produtores rurais, já que a cana-de-açúcar é o principal ativo. O custo do plantio de um hectare de cana gira entorno de R$ 15 mil, valor investido em mudas de qualidade e preparação do solo para um bom rendimento ao longo do ciclo, que tem média de 5 anos. Os cuidados com a cana representam, aproximadamente, 60% dos custos de produção de açúcar e etanol.
“Com a eliminação da queima como método pré-colheita, as usinas adequaram toda a sua infraestrutura para processar a cana colhida de forma mecanizada, ou seja, os processos de lavagem prévia e limpeza da cana queimada deixaram de existir. Aqui temos dois desafios logísticos: o primeiro é que as unidades precisam criar um fluxo dedicado de operação para moer essa matéria-prima que foi atingida pelos incêndios, uma vez que a cana queimada traz impurezas; o segundo é a própria operação de colheita em si, uma vez que na maioria das vezes essa cana atingida por incêndios não está programada para ser colhida, resultando em deslocamento de frentes de corte e queda de produtividade. Outro fator de preocupação é o risco desses incêndios se alastrarem para as áreas de vegetação nativa das usinas. Esse é o pior cenário possível, pois além do prejuízo financeiro, temos o dano ambiental da perda da vegetação recuperada pela usina”, ressalta a coordenadora de Sustentabilidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), Renata Camargo.
Ao longo dos últimos anos, o setor sucroenergético vem investindo em alta tecnologia para mitigar e combater os focos de incêndios. Hoje, os canaviais são monitorados com imagens de satélites e por câmeras em tempo real, que auxiliam a rápida detecção do princípio de focos de fogo. “Além do investimento em tecnologias de monitoramento e prevenção, o setor investe na qualificação das suas brigadas. O setor se transformou na referência de combate aos incêndios em campo, sendo frequente a sua atuação para auxiliar em combates de incêndios fora dos canaviais, como unidades de conservação e estações ecológicas”, explica Renata.
Campanhas de conscientização
Em parceria com o governo estadual o setor atua junto no trabalho de prevenção, fiscalização e conscientização na Operação Corta Fogo, além de realizar campanhas específicas, como a “Fogo é Fogo”. Desenvolvida em parceria pela Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto (Abagrp), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), produtores ruais e usinas, a campanha está em sua nona edição.
Dados da Abagrp, com base em levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), dentro do Programa Queimadas, mostram que em 2020 e 2021, foram registrados 6.123 e 5.469 focos, respectivamente. No ano passado, o número reduziu para 1.599, o menor índice desde o começo do monitoramento em 1998.
A melhor distribuição de chuvas explica parte desse resultado positivo. “O trabalho de conscientização e prevenção desenvolvidos pelas usinas também refletiram nessa redução. Temos que ser proativos, pois o setor produtivo não tem interesse no fogo”, destaca a coordenadora da campanha, Valéria Ribeiro.
A campanha, iniciada em 2015, conta com peças divulgadas em emissoras de rádios e tvs nas regiões mais críticas, além de placas distribuídas ao longo das rodovias com os números dos Corpo de Bombeiros e da Brigada de Incêndio mais próxima, o que dá rapidez ao combate do fogo. “É importante uma união de esforços para atingirmos os melhores resultados. Todos somos responsáveis. Por isso, além das parcerias com os órgãos oficiais, estamos fazendo uma ação forte de educação, com professores e alunos, buscando sempre a conscientização”, reforça a presidente do conselho da Abag, Mônika Bergamaschi.
Trabalho conjunto
A redução dos focos de incêndio também é reflexo do trabalho conjunto entre o governo do Estado de São Paulo e o setor, que atuam na prevenção, fiscalização e conscientização sobre a Operação Corta Fogo.
Entre as ações estão a manutenção de equipes brigadistas e caminhões tanque; a limpeza dos aceiros para evitar que os focos se alastrem para as áreas de vegetação nativa; a instalação de torres de observação; a formalização de Planos de Auxílio Mútuo (PAMs); o monitoramento por imagens de satélite, e a vigilância por câmeras. Usinas também trabalham em parceria com o Corpo de Bombeiros no combate à incêndios florestais.
“Esse tipo de trabalho é muito produtivo, pois a troca de informações entre o setor e o poder público é essencial para avançarmos no combate aos focos de incêndio. Nos últimos anos, o setor tem evoluído muito no trabalho de prevenção”, destaca o comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar Ambiental, tenente-coronel Alessandro Daleck.
Nesta quarta-feira (14), foi realizado em Sertãozinho, interior de São Paulo, um encontro regional da Polícia Ambiental e o setor. “Nesses eventos, as usinas e fornecedores podem esclarecer dúvidas práticas com os agentes de fiscalização ambiental. É uma oportunidade importante de aproximação e diálogo entre todos”, afirma Renata Camargo.
Fonte: Unica