Por Regiane Nitsch Bressan
A presença de onze lideranças na Cúpula da América do Sul, a convite do presidente Lula, representa uma nova fase à política externa brasileira, com chances concretas para o Brasil recuperar determinado protagonismo na região.
Desde 2004 não houve reunião similar entre os Estados sul-americanos. O aceite ao convite, vinda e participação dos presidentes Alberto Fernández (Argentina), Luís Arce (Bolívia), Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Guillermo Lasso (Equador), Irfaan Ali (Guiana), Mário Abdo Benítez (Paraguai), Chan Santokhi (Suriname), Luís Lacalle Pou (Uruguai) e Nicolás Maduro (Venezuela), confirmam a relevância desse encontro e o vigor da política externa brasileira em reunir os países do entorno. Ademais, o encontro denota o interesse, não apenas do Brasil, pela retomada das relações regionais entre governos que pendulam entre os espectros políticos ideológicos da direita e esquerda.
Segundo o Itamaraty, a Cúpula de 2023 tem como objetivos reavivar o diálogo regional, buscar uma agenda concreta de cooperação em áreas como infraestrutura, saúde e combate ao crime organizado, bem como retomar a própria União das Nações Sul-Americanas (Unasul), esvaziada na última década.
As relações regionais são imprescindíveis na medida em que o Brasil faz fronteira com a maioria dos países sul-americanos, compartilhando desafios comuns, como migrações, questões sanitárias, meio ambiente, narcotráfico, entre outros, que denotam a crescente interdependência das relações internacionais.
A cooperação em uma agenda diversificada é um desdobramento do ponto anterior que reforça a necessidade de somarmos esforços para trabalhar temas comuns. Questões ligadas à infraestrutura, manejo de recursos naturais, preservação ambiental, combate ao narcotráfico, enfrentamento à desigualdade econômica, crescimento econômico, emergência de pautas sociais e dinamização comercial ilustram a amplitude da agenda de cooperação.
Reativar a Unasul é um objetivo instaurado pelo Governo Federal desde abril de 2023. O Brasil deixou essa organização em 2019 em um momento de esvaziamento da dela. O seu retorno indica uma retração da política externa brasileira em relação à América Latina. A relevância em retomar a Unasul, a qual acomoda quase todos os países da América do Sul, constitui necessidade imperiosa para reconstruir espaços de diálogos e possibilidade de negociações, inclusive em temas mais áridos e divergentes. A própria situação da Venezuela ilustra esse caso, sendo bastante problematizada nesse encontro.
A aproximação e retomada das relações do Brasil com a Venezuela é fundamental na medida em que temos uma vasta fronteira e enfrentamos problemas oriundos dessa relação. Recobrar a dívida da Venezuela e tentar influenciar sua política doméstica a favor da democracia se somam aos objetivos dessa estratégia de reaproximação.
O isolamento, a falta de diálogo e o esgarçamento das relações regionais com a América do Sul apenas complicaram mais a política internacional da região na última década. A presença dos vizinhos nessa cúpula comprova a expectativa positiva em torno do Brasil como líder regional com capacidade de enfrentamento de tantos desafios comuns.
Regiane Nitsch Bressan é professora do curso de Relações Internacionais da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (EPPEN), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – campus Osasco; e do Programa Interinstitucional (Unesp, Unicamp e PUC-SP) de Pós-graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas