Usina solar em áreas agrícolas — o meio ambiente e o agricultor agradecem

Usina solar em áreas agrícol

Por Rodrigo Leite

Calcula-se que mais de US$ 4 trilhões anuais serão necessários para neutralizar os níveis atuais de emissão de carbono e evitar o aumento da temperatura global acima de 1,5ºC, como prevê o Acordo de Paris, de 2015. O dado, de tão gigantesco, parece distante da nossa realidade. Mas existem ações locais que podem - e devem - ser incentivadas, de forma a que muitos tenham a chance de contribuir com a preservação do planeta e possam aderir à transformação da economia global em um sistema de baixo carbono.

Em particular, no campo, há uma importante oportunidade para que os proprietários de terras contribuam com a redução das emissões. Melhor ainda, ela traz renda extra ao agricultor. Como? Dez hectares de terra podem neutralizar a emissão de 500 toneladas de CO2/ano, o equivalente ao plantio de 3,5 mil árvores. O pulo do gato está em se “plantar energia solar”, isto é, em se destinar parte do terreno à produção de energia fotovoltaica de geração distribuída (GD). Ou seja, usinas elétricas relativamente pequenas, de até 5 MW, que geram uma energia limpa, renovável e de baixo impacto ambiental.

São mais de uma centena de milhar os terrenos que aderiram a essa onda de energia limpa. Há quatro anos, a potência de geração distribuída de energia solar no campo não passava dos 47 MW, produzidos em 3 mil sistemas. Hoje, segundo a ABSOLAR, os 112 mil sistemas da área rural respondem por mais de 2 GW na matriz elétrica brasileira, ou perto de 14% da potência de GD existente no País.

Chama a atenção, ainda, o fato de que o agricultor que se dedicar ao “plantio” de energia solar não precisar investir um único centavo no projeto. Se suas terras forem propícias às companhias de energia, receberá pelo seu arrendamento um retorno muito superior às culturas tradicionais locais.

Para se ter uma ideia, segundo dados do IBGE de 2021, dez hectares de cana em São Paulo renderam, em média, perto de R$ 6 mil mensais no ano passado e o feijão R$ 10 mil mensais aproximadamente. Na Bahia, a soja rendeu R$ 8,5 mil mensais nessa área no mesmo período. Em Pernambuco, a cana, em média, trouxe ao proprietário de dez hectares R$ 6,8 mil por mês. A exploração em terrenos de dez hectares com o arrendamento a projetos de energia solar de geração distribuída, a depender de suas características, pode resultar entre R$ 5 mil e R$ 11 mil mensais de renda aos proprietários, por períodos que superam duas décadas.

Na ponta do lápis, o valor pago aos arrendatários por suas terras é calculado em função de variáveis como a irradiação solar na região, inclinação do solo, sua distância de uma subestação de energia da distribuidora local, tipo do solo entre outros fatores. O rendimento dos arrendamentos desses terrenos é pago mensalmente, garantindo ao agricultor um fluxo de caixa previsível e distribuído ao longo do ano, o que o ajuda a financiar a entressafra de outras culturas da fazenda.

Mas não é apenas o agricultor que lucra com esse modelo. Do ponto de vista macro há, ainda, mais benefícios: quando a geração de energia é pulverizada em muitos locais em todo o país, tornando-se mais próxima do consumo, ela diminui os gargalos do sistema elétrico nacional, enquanto reduz a necessidade de investimentos em transmissão. Ou seja, estamos diante de um cenário em que ganham o agricultor, o meio ambiente e o sistema elétrico nacional.

E, como afirmou o economista e co-fundador da consultoria Systemiq, Jeremy Oppenheim, de passagem pelo Brasil dias atrás: “As agendas econômicas e climáticas têm de se apoiar mutuamente, sem competição entre si”. Melhor ainda se o meio ambiente, o sistema elétrico e o agricultor saírem lucrando.


Rodrigo Leite é sócio-diretor da Apolo Renováveis

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