O Brasil não é considerado um país com alta adoção da tecnologia de irrigação, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA, 2021) apenas 12% de toda a área agricultável do país possui irrigação. E esses números são menores ainda na cultura da cana de açúcar, onde estima-se que apenas 1 milhão de hectares são irrigados com água, sendo que a grande maioria se encontra no nordeste brasileiro.
Mas por que isso ocorre? Por uma resposta muito simples e usual. Porque a cultura da cana de açúcar é rústica e o Brasil é um país tropical, onde tem uma boa quantidade de chuva, ou seja, um mínimo de manejo que faço, eu consigo superar o déficit causado pelas estiagens.
No entanto, nos últimos anos, estamos presenciando uma realidade totalmente diferente, pois além das mudanças climáticas que estão ocorrendo, a cana de açúcar está se expandindo para novas áreas (centro – oeste) onde o déficit hídrico é maior. Com ambas as ocorrências os fornecedores e indústrias vem tomando a decisão de investir em irrigação.
Dentre os vários equipamentos de irrigação adotados, citamos o canhão para irrigação de salvamento, o pivô para irrigação com déficit e o gotejamento como irrigação suplementar ou plena.
Para se falar em irrigação, vamos evidenciar a irrigação por gotejamento, devido a sua grande eficiência, versatilidade de manejo e alta sustentabilidade.
Existente há mais de 25 anos no Brasil, essa irrigação está em alta adoção no mercado e já há dados comprovados de inúmeras vantagens como: aumento da produtividade, que pode se elevar acima de 50%; aumento de longevidade (12 anos) e outras vantagens intrínsecas como redução de custo de produção, possibilidade de tratos culturais via sistema; dentre outras.
Entretanto, ainda observamos muitos erros cometidos por irrigantes que acabam não obtendo todos os benefícios da irrigação e se frustram. Mas esses erros são totalmente mitigados quando adotamos a cultura da irrigação e seguimos uma simples mensagem: Cana de açúcar irrigada é diferente de cana de açúcar mais água.
Primeiramente temos que entender que a água é um insumo de produção, ou seja, faz parte de uma série de variáveis que compõem a produtividade agrícola, se é 30 – 40 – 50% isso é pouco relevante e mutável de acordo com ambiente de produção, mas é importante salientar que nunca é 100%, ou seja, mesmo uma cana de açúcar irrigada há a necessidade em se realizar um bom preparo de solo, mudas de qualidade, escolher a época adequada de plantio, uma variedade bem alocada e responsiva a irrigação e a realização dos tratos fitossanitários necessários.
E para o manejo de irrigação e adubação? Esse pensamento é uma realidade, realizar o monitoramento da água no solo é um fator crucial, pois entenda-se uma verdade “Primeiro irrigamos o solo e após isso o solo irriga a planta”. Conhecer o solo em que estamos trabalhando, sua capacidade retenção de água, sua textura é de suma importância para um bom manejo de irrigação, para isso, use e abuse das ferramentas de mensuração de umidade do solo: tensiometria, sondas, avaliação táctil; isso pouco importa, o importante é por dados técnicos (e não achismo) tomar a decisão de quando e quanto de água aplicar.
Para a adubação é o mesmo pensamento. Lembre-se que as curvas de adubação que encontramos na literatura são, em sua grande maioria, realizadas em casos de cana de açúcar de sequeiro. Procurem pela literatura por canaviais irrigados, onde seja possível seguir a curva de absorção, ou seja, usar o nutriente que a planta precisa, quando ela precisa e na quantidade que ela precisa. E mais uma sugestão: “Existem três coisas na vida que nunca voltam atrás: A flecha disparada, a palavra dita e a fertirrigação perdida” O que quero dizer com isso, atrasou a fertirrigação, não aplique tudo de uma vez, reparcele, ninguém passa fome por 15 dias e come 10 kg de comida em um único dia para compensar. A planta não é diferente.
Levando em conta esse pensamento, em outras palavras, adotando a cultura da irrigação e adotando o gotejamento como sistema de alta eficiência o sucesso é iminente.
Daniel Pedroso, especialista agronômico da Netafim Brasil