A Coface, líder global em seguro de crédito comercial e em serviços especializados, prevê uma forte desaceleração do PIB brasileiro, em linha com desempenho da economia mundial que deve ser impactada pela recessão na Europa. A expectativa é que o Brasil encerre o próximo ano praticamente estável, com uma leve alta de 0,2%, após uma expansão do PIB projetada para 2022 de 2,6% e de 4,6% em 2021.
A América Latina como um todo também terá uma forte desaceleração, com avanços de 3,1% em 2022 e 0,9% em 2023, após expansão de 6,9% no ano passado. Para Argentina e Chile, a expectativa é de recessão, com quedas de -0,5% e -1% no PIB, respectivamente, no ano que vem.
Segundo Patrícia Krause, economista-chefe da Coface América Latina, a inflação permanece perto ou no pico na maioria dos mercados da região. Para ela, o aperto monetário nos países latino-americanos está chegando ao fim, mas seus efeitos serão sentidos em 2023.
“O que pesa na região são fatores comuns ao cenário externo. Ainda que seja esperada uma desaceleração, a inflação ainda vai estar elevada e continuará acima das metas nos países que adotam esse sistema. A taxa de juros seguirá alta e há uma expectativa de acomodação dos preços das commodities”, disse a economista no webinar “O aumento da inflação e das taxas de juros serão o gatilho para a queda da economia?” , realizado pela Coface Brasil.
Para a economista, essa conjuntura de taxa de juros elevada e acomodação de preços de commodities terá impacto na economia brasileira, mas há viés de alta para as projeções da Coface de crescimento do PIB tanto para este ano como para o próximo. “No Brasil, chegamos ao final do ciclo de alta de juros. O BC salientou que continuará monitorando o cenário e mudará de posição se for surpreendido, mas em princípio a ideia é que taxa continue em 13,75% pelo menos até o final do primeiro semestre, podendo lentamente haver alguma redução. Mesmo com uma queda dos juros no ano que vem, continuaremos, no entanto, com uma taxa real positiva ”, complementou.
Patrícia ressaltou, por outro lado, que as taxas de juros elevadas na região fazem soar o alerta sobre o nível de endividamento de empresas, famílias e do governo. “A América Latina até está com um nível de endividamento abaixo dos demais mercados emergentes. O que preocupa principalmente é o endividamento público aqui, que está acima da média dos emergentes em muitos países da região, incluindo o Brasil. Com certeza com a expectativa de desaceleração do crescimento no ano que vem, com os preços das commodities menos favoráveis, é um ponto de atenção como será a condução da política fiscal”, disse. “Apesar da insolvência ainda sob controle, há sinais de alerta no Brasil, como os índices elevados de endividamento das famílias e a alta da inadimplência das famílias e empresas”, acrescentou.
Europa e economia global
Para Patrícia, a chegada do inverno no final de 2022 coloca a Europa no centro da crise energética. Embora os países europeus tenham abastecido os estoques de gás para se proteger da interrupção dos fluxos russos, o volume pode não ser suficiente se o inverno for muito rigoroso. Nesse sentido, a expetativa é de recessão na Europa e desaceleração acentuada no resto do mundo. “Os estoques até se mantiveram elevados e, agora se aproximando o inverno, estão em um patamar de cerca de 94%, o que é bom. Há, entretanto, um custo de importação mais elevado e uma preocupação mais à frente porque o clima está ameno, mas pode chegar em dezembro, janeiro e fevereiro mais rigoroso e reduzir esses estoques mais rápido. Isso é um ponto importante e até como será a recomposição desse estoque para o ano que vem ”, afirmou a economista.
Nas projeções da Coface, o PIB mundial, que fechou o ano passado com crescimento de 5,8%, deve avançar 2,8% em 2022 e 1,9% em 2023. No caso da Europa, países como Alemanha (-0,5%), Itália (-0,4%) e Reino Unido (-0,8%), por exemplo, devem registrar queda da atividade em 2023. Para os EUA, a previsão é de expansão de 1% e 1,7% em 2022 e 2023, respectivamente, após avanço de 5,7% no ano passado.
A expectativa para China, por sua vez, é de alta de 3,2% neste ano e 4% no próximo, depois do crescimento de 8,1% em 2021. “Na China, é um dos poucos cenários em que esperamos alguma aceleração do crescimento, mas vemos riscos crescentes como o mercado imobiliário local, que ainda não apresenta uma reação significativa. Além disso, sabemos que o país continua com a política de Covid zero”, disse.
A inflação elevada, em especial nas economias avançadas, continua sendo um grande desafio. Em resposta à escalada de preços, os bancos centrais seguem aumentando as taxas de juros. “Há ainda uma pressão muito importante nos países avançados, quando olhamos a evolução mais recente da inflação no Reino Unido, Estados Unidos e a Zona do Euro. No Estados Unidos, a desaceleração da inflação tem sido mais lenta do que a esperada anteriormente. Outro ponto importante é que o núcleo da inflação mostra que ela está espalhada. Tudo isso reforça a política monetária de alta de juros nos mercados avançados”, analisou Patrícia.
Diante do cenário, segundo a economista, uma pergunta importante é como ficam as insolvências corporativas. Isso porque as medidas de apoio às empresas são, em geral, menos generosas do que durante a pandemia, ao mesmo em tempo em que a posição de caixa das empresas já está afetada pelo aumento dos custos de insumos e as condições de empréstimo bancário ficaram mais rígidas com a alta das taxas de juros. Além disso, o cenário aponta para uma demanda mais fraca, gerando queda nas receitas, e um aumento dos custos – ao contrário do que aconteceu durante a pandemia quando os fechamentos levaram a uma queda nos custos variáveis. “Assim, esperamos, sim, uma elevação das insolvências corporativas”, disse.