Por José Luiz Tejón
Semana passada comentamos sobre o novo calendário do plantio da soja que foi estendido de 31 de dezembro para meados de fevereiro. E registramos manifestações de entidades considerando esse fato oferecer um “banquete ambiental para a proliferação da doença ferrugem asiática”.
O presidente da Aprosoja Brasil, Antônio Galvan, nos ligou e pediu que ouvíssemos mais fontes científicas a respeito, pois haviam controvérsias sobre a informação. A Aprosoja Brasil defende o novo calendário, considerando-o correto.
Como é o fundamento de um jornalismo ético, este praticado aqui no Canal Rural, ouvi neste final de semana dois professores doutores a respeito da afirmação sobre a questão da ampliação do calendário de plantio da soja versus efeitos na proliferação da doença da ferrugem asiática, cujos danos conhecemos bem, pois com ela aprendemos a conviver ao longo dos últimos 20 anos.
Ouvi o professor Elmar Luiz Floss, foi professor de bioquímica vegetal, fisiologia vegetal, culturas de lavouras e conservação de solos na Universidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul . Doutor em agronomia pela Esalq/USP, um profundo conhecedor da soja, com um livro recém lançado de extraordinário valor: “Maximizando o rendimento da soja”.
Sobre essa questão o prof. dr. Elmar me disse: “o novo calendário será positivo para o Rio Grande do Sul, pois precisamos de milho para atender a produção da proteína animal. Temos custos proibitivos como importadores de milho de outros estados. Com a nova janela de plantio podemos plantar milho primeiro e fazer uma safrinha de soja depois. Quer dizer, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a soja seria a safrinha, e o milho a principal lavoura, isso se viabilizaria com o novo calendário indo além de 31 de dezembro para meados de fevereiro.
Ouvi também a informação do professor José Otávio Menten, doutor em fitopatologia da Esalq/USP e presidente do CCAS, Conselho Científico do Agro Sustentável, que afirma: “a quantidade de ferrugem é menor quando se semeia em 15 de fevereiro do que em 31 de dezembro. O número de aplicações de fungicidas é menor para as lavouras semeadas em 15 de fevereiro, este é o resultado das pesquisas”, assim explica o dr. Menten.
Em função das controvérsias de visões científicas, dedicaremos esta semana no Agrosuperação a ouvir outros pesquisadores com pesquisas realizadas e publicadas. O assunto é muito importante pois a soja impacta diretamente 50% do valor bruto da produção agropecuária do país, impacta o abastecimento interno da população, e da mesma forma cerca de 50% das exportações ao reunirmos sua cadeia produtiva do grão, óleos, farelo, aves, suínos, leite e ovos.
A soja é importante demais para não mergulharmos nesse debate. Por outro lado, no portal da Embrapa – www.embrapa.br/soja/ferrugem/soja/ferrugem há uma nota afirmando: “…o período ótimo para a semeadura da soja na maior parte do país é entre outubro e novembro. Com isso, até março todas as lavouras estariam colhidas. Como o fungo causador da ferrugem asiática precisa de plantas vivas para sobreviver, a ausência de plantas interrompe seu ciclo produtivo. Ao se semear em fevereiro, amplia-se até junho o período com plantas vivas no campo. Chamada de ponte verde, essa situação aumenta o número de gerações do fungo em uma única safra. Sabe-se que a semeadura em fevereiro apresenta menor severidade de ferrugem asiática do que a semeadura em dezembro, porém menor severidade não significa ausência”.“
Ou seja, será fundamental uma mesa de debates sobre essa questão. Então, estamos aqui no Agrosuperação do Canal Rural abertos a ouvir os cientistas, pesquisadores e agricultores, sem vieses de ordem econômica, ideológica e política. No assunto das doenças, a ciência precisa falar mais alto.
Vamos ouvir e tratar com transparência e integridade ambas as visões. E se você tiver a sua opinião, por favor, envie para nós. Na próxima quarta-feira traremos a opinião de mais pesquisadores. Esta semana está dedicada à questão. Novo calendário de soja versus ferrugem asiática: afinal quem tem razão?
José Luiz Tejón, membro do Conselho Científico Agro Sustentável