O think tank de energia Ember analisou os planos anunciados em toda a Europa de permitir um aumento da geração de energia a carvão caso o fornecimento de gás russo cesse repentinamente e descobriu que o impacto no clima não compensa. A geração a carvão planejada seria suficiente apenas para abastecer a região por cerca de uma semana mesmo se essas usinas reservas funcionassem no auge da produtividade ao longo de todo o ano de 2023. Ao mesmo tempo, a medida acrescentaria 1,3% às emissões já elevadas da União Europeia)
Alemanha, Áustria, França e Holanda anunciaram recentemente planos para permitir o aumento da geração de energia a carvão no caso de o fornecimento de gás russo parar repentinamente. Esta semana, o gasoduto Nord Stream 1 -- a principal ligação energética dos alemães com a Rússia -- foi fechado. Oficialmente, a Rússia afirmou que a interrupção é para reparos, mas as autoridades europeias demonstraram surpresa.
A analista sênior da Ember, Sarah Brown, descreve o cenário com apreensão. "Apesar dos numerosos sinais de alerta, os estados membros da UE ignoraram os riscos de dependência excessiva do gás importado e negligenciaram a necessidade de substituí-lo rapidamente por energias renováveis domésticas", explica. "Consequentemente, [o bloco] enfrenta agora a difícil e emergencial decisão de depender temporariamente do carvão enquanto aumenta substancialmente sua utilização de energia limpa."
A análise da Ember afirma que 14 GW de usinas a carvão foram colocados em espera, adicionando 1,5% à capacidade total instalada de geração de energia da UE (920 GW). A maioria está na Alemanha, que aprovou 8 GW de capacidade de reserva como parte de sua Lei de Provisão de Usinas de Substituição de Energia Elétrica, adotada em 8 de julho.
Mesmo no cenário de maior intensidade de uso, onde estas usinas reservas de carvão funcionariam ao longo de 2023 com um fator de carga de 65%, elas gerariam 60 TWh de eletricidade, o que é suficiente apenas para alimentar a Europa por cerca de uma semana, dizem os pesquisadores.
Do ponto de vista climático, as emissões líquidas adicionais de CO2 em 2023 seriam de aproximadamente 30 milhões de toneladas, representando 1,3% do total das emissões de CO2 da UE em 2021 e 4% das emissões anuais do setor elétrico.
O estudo indica ainda que a perspectiva a longo prazo continua clara sobre o carvão não ter futuro na Europa, já que nenhum país europeu reverteu seu compromisso de eliminar progressivamente o carvão até 2030, o mais tardar. E apesar do lobby dos combustíveis fósseis, a crise atual agiu como um catalisador para acelerar a transição de energia limpa na região.
Em maio, a Comissão Europeia publicou sua comunicação atualizada REPowerEU. Nesses planos, ela já havia incorporado um aumento da potência do carvão (+105 TWh) e uma queda da potência do gás (-240 TWh) sem descarrilar os objetivos climáticos da UE. A análise da Ember revela que, com base nas metas da RePowerEU, as energias renováveis responderiam por 69% da produção de eletricidade até 2030.
"A Europa se encontra nesta situação urgente devido a erros do passado na política energética. Erros que a Ásia não pode se dar ao luxo de repetir", afirma Brown.
Foto divulgação Epbr