Desastres naturais afetam fortemente as sociedades. Além das
perdas diretas – representadas pelos mortos, feridos e desabrigados, entre
outros – há também as indiretas, como queda na produção, no emprego, no Produto
Interno Bruto (PIB) ou no volume de exportações. Usando o Chile como modelo, um
grupo de pesquisadores avaliou o risco representado pelos terremotos à
economia.
O trabalho, apoiado pela FAPESP, apresenta um conjunto de indicadores de risco probabilísticos, a Perda Média Anual (AAL) e a Curva de Excesso de Perdas (LEC), para estimar os impactos dos terremotos no Chile. Os dados foram publicados na revista Nature Communications.
Entre os autores estão Eduardo Haddad, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), e o pós-doutorando Inácio Fernandes Araújo, que recebeu bolsa da FAPESP. Também assinam o artigo José A. León e Mario Ordaz, ambos da Universidad Nacional Autónoma de México (Unam).
“Nossa abordagem considera os danos induzidos e a frequência de ocorrência de um vasto conjunto de eventos que descrevem, coletivamente, todo o risco sísmico de um país, dando-nos uma compreensão melhor e mais completa de todas as consequências dos terremotos”, comenta Haddad.
Todos os grandes desastres naturais evidenciaram a importância de questões como governança de risco de desastres, estratégias de reconstrução, vulnerabilidade da economia dos países em desenvolvimento, e como os desastres podem se propagar. Mas, segundo os autores, a contabilização de perdas indiretas em risco “também é crucial e se torna mais proeminente à medida que a complexidade da cadeia de suprimentos aumenta, na era da globalização”.
Por outro lado, eles reconhecem que não é fácil contabilizar as consequências econômicas dos terremotos “apenas com informações históricas, porque esses eventos catastróficos são pouco frequentes, de modo que as informações relevantes são escassas e nem sempre é fácil distinguir entre perdas diretas e indiretas”.
Modelagem para perdas indiretas
A modelagem de danos físicos causados por sismos é hoje uma técnica bem desenvolvida, a ponto de ser possível estimar, de forma probabilística, o risco sísmico de bens individuais, como infraestruturas, edifícios, máquinas, equipamentos etc. No entanto, a modelagem de perdas indiretas, em comparação, fica muito atrasada, principalmente devido às dificuldades em traduzir empiricamente danos materiais em perdas indiretas e pela falta de modelos adequados que relacionem esses dois tipos de perdas.
“Os esforços têm se concentrado na análise de eventos individuais, sem a devida consideração de sua frequência de ocorrência. Decisões e políticas seriam muito diferentes caso se soubesse que os impactos econômicos são esperados, em média, uma vez a cada 100 ou a cada 1.000 anos”, analisa o professor da FEA.
De acordo com ele, a abordagem da pesquisa mostrou como o modelo Equilíbrio Geral Computável (CGE) e o modelo probabilístico para avaliação de risco sísmico podem trabalhar juntos, permitindo uma visão probabilística robusta e sistemática das consequências dos terremotos em toda a economia.
Haddad afirma que as estimativas baseadas nessa abordagem levam em conta que eventos naturais, no caso os terremotos, ocorrem como um “processo estocástico no tempo”; que a frequência de ocorrência é importante para a mensuração dos riscos; e que existe relação entre o nível de dano físico aos componentes econômicos e a redução do estoque de capital.
Resultados gerais de risco
Ao investigar as consequências dos terremotos no Chile, os pesquisadores computaram as curvas de perda média anual e superação de perda para vários componentes da economia chilena em nível nacional, regional e setorial. Entre as variáveis utilizadas estão o emprego, o PIB nacional, PIB regional, salários, receita tarifária, índice de preços ao consumidor (IPC), volume de exportações etc.
Os resultados mais agregados da análise mostram que a AAL direta (Perda Média Anual) para todo o país foi estimada em US$ 302 milhões, enquanto a AAL de perdas de produção chega a 0,132% do total anual da produção do país. As perdas diretas apuradas referem-se exclusivamente a edificações não residenciais.
A LEC (Curva de Excesso de Perdas) para perdas físicas é uma métrica padrão no mundo da avaliação de risco. No entanto, a LEC para perdas de produção é introduzida nessa pesquisa, permitindo estimar a perda de produção esperada para qualquer período de retorno.
Como exemplo, a perda de produção associada a 250 anos de período de retorno para o Chile foi estimada em US$ 15,9 bilhões, 3,58% da produção total anual, enquanto as perdas diretas foram de US$ 5,025 bilhões, ou 4,85% do valor total das edificações não residenciais. Para 1.000 anos de período de retorno, a produção e as perdas diretas foram de US$ 28,8 bilhões e US$ 9.8 bilhões, respectivamente.
No caso dos setores econômicos, a indústria de transformação do Chile apresenta as maiores perdas do país em termos absolutos. Já transportes, comunicações e serviços de informações apresentam as maiores perdas em termos de sua produção setorial, para qualquer período de retorno.
Além dos resultados agregados em nível nacional, a abordagem permite analisar o que acontece dentro de cada economia regional, computando tanto a AAL de perdas de produção, quanto a LEC de produção de setores econômicos em uma região específica.
O estudo também constatou que, para eventos menos severos, com baixo período de retorno, de até 50 anos, as perdas de produção seguem uma relação proporcional positiva com as perdas diretas. Além disso, foi observado que as perdas de produção são maiores do que as perdas diretas para perdas com período de retorno entre 50 e 400 anos.
O artigo Risk caused by the propagation of earthquake losses
through the economy pode ser lido em:
Agência Fapesp
* Com informações da Assessoria de Imprensa da FEA-USP
Foto divulgação Subpesca