Iniciativa voltada ao uso correto e seguro de defensivos
agrícolas não tem finalidade comercial, atende a pequenos e médios produtores e
já atingiu mais de 75 mil agricultores e trabalhadores rurais, em mais de 1 mil
cidades
Centrado principalmente na capacitação de pequenos e médios produtores, para usar corretamente os defensivos agrícolas, além de extrair desses insumos o máximo potencial produtivo, o programa Aplique Bem celebra 15 anos de existência na Agrishow 2022. No dia 28, uma solenidade oficial rememorará as realizações do programa. A iniciativa constitui uma parceria público-privada entre o Centro de Engenharia e Automação (CEA), do Instituto Agronômico (IAC) e a companhia de origem indiana UPL.
Órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP, o CEA-IAC lidera a execução do Aplique Bem com recursos da fabricante global de agroquímicos. Conforme o coordenador da iniciativa, o pesquisador científico Hamilton Ramos, Aplique Bem é itinerante e os treinamentos ocorrem diretamente nas propriedades agrícolas. Uma equipe de engenheiros agrônomos, explica ele, se desloca ao longo do ano em toda a fronteira agrícola, a bordo de laboratórios móveis de última geração ou “Techmóveis”.
Nas propriedades, a equipe do Aplique Bem leva ao produtor conteúdo didático e prático, que abrange desde a regulagem de pulverizadores agrícolas até o manejo sustentável da produção do campo. “O programa é totalmente gratuito e desvinculado de produtos ou marcas comerciais. Os módulos auxiliam pequenos e médios agricultores a reduzir perdas decorrentes do mau uso de defensivos agrícolas e a prevenir a contaminação de trabalhadores e do meio ambiente”, exemplifica Hamilton Ramos.
Segundo o pesquisador, desde que foi lançado, em 2007, o Aplique Bem realizou 3,9 mil treinamentos, dentro e fora do Brasil. O número de produtores beneficiados chega a mais de 75 mil. A equipe responsável pela execução do programa, treinada no CEA-IAC, percorreu em 15 anos a marca de 1 milhão de quilômetros – equivalente a três viagens entre a Terra e a Lua -, chegando a mais de 1 mil cidades. A UPL já investiu em torno de R$ 20 milhões no projeto.
Outros países, das lavouras à escola
Conforme Ramos, o manuseio de defensivos agrícolas com
suporte de equipamentos regulados e vestimentas de proteção diminui o volume de
ingredientes ativos nas lavouras, além de melhorar a produtividade e
indicadores de saúde ocupacional. “Tão importante quanto o número de pessoas
treinadas é a mudança de comportamentos de riscos que o Aplique Bem consegue
reverter”, afirma o pesquisador.
Ramos revela ainda que graças ao suporte da empresa parceira, e à interação entre o CEA-IAC e pesquisadores do exterior, o Aplique Bem atendeu também a demandas de pequenos agricultores em mais sete países, inclusive nações africanas onde o grau de vulnerabilidade social é elevado.
“Na África, o Aplique Bem capacitou famílias que tinham filhos menores trabalhando em lavouras de subsistência. Após o domínio de boas práticas pelos pais, essas crianças deixaram o trabalho rural para frequentar escolas.” Os países atendidos pelo programa, até agora, além do Brasil, são Burkina Faso, Costa do Marfim, Colômbia, Gana, Mali, México e Vietnã.
Com base em dados do IBGE, Hamilton Ramos esclarece que entre 25 milhões e 30 milhões de brasileiros trabalham no agronegócio. Destes, em torno de 5 milhões seriam analfabetos, enquanto outros 12 milhões atuariam como temporários. “Nos dias de hoje, 85% dos trabalhadores rurais do País se concentram nas pequenas e médias propriedades. É preciso fazer a educação rural chegar com força a esses locais, com vistas a preservar a segurança alimentar e a aumentar a sustentabilidade na cadeia do agronegócio.”