O tráfego de veículos pesados a diesel é um dos grandes vilões nas emissões de CO2, obrigando a cadeia logística a acelerar sua adequação às práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) com alternativas mais limpas e sustentáveis. Com este objetivo, muitas empresas começaram a adotar modais menos poluentes -- como o gás (GNV) e o etanol --, que emitem cerca de 70% menos de CO2 que a gasolina e o diesel, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Outra alternativa é o uso de dutos no transporte. Na safra 2017-2018, a Copersucar passou de 39% para 62% a participação dos dutos no transporte de etanol e movimentou um volume de 641 mil metros cúbicos durante a safra 2020--2021. "Uma de nossas políticas é a parceria com os fornecedores para que adotem o etanol como combustível em suas frotas de veículos leves", afirma Leandro Camporez, gerente de logística da Copersucar. A empresa tem um programa em que as transportadoras parceiras fazem um inventário sobre suas emissões de gás de efeito estufa e recebem apoio para reduzir esse volume. "Começamos com essa política há dois anos e contamos com a participação de 48% dos nossos fornecedores."
A Copersucar, que trabalha com 131 transportadoras, montou um ranking de empresas segundo as diretrizes internacionais de emissões da GHG Protocol. "Aquelas que atuam em prol de transportes mais sustentáveis e de baixo carbono, que mitigam as suas emissões e que apresentam a menor emissão de CO2 por quilômetro rodado e um melhor desempenho, têm prioridade na contratação do frete", diz Camporez. As dez melhores transportadoras deste ranking, que representam 23% do número total de empresas elegíveis, detêm 82% do transporte de açúcar da companhia por caminhões, volume que ultrapassa a marca de 3 milhões de toneladas de açúcar. "Mensalmente, realizamos um alinhamento com cada transportadora e discutimos em conjunto quais são as boas práticas e oportunidades de melhoria ambiental de cada uma", ressalta o executivo.
Uma parceria com a SOS Mata Atlântica ajuda na compensação da emissão de CO2 da Kuehne+Nagel, que tem sede na Suíça e atua no mercado de logística internacional, gestão da cadeia de transporte e distribuição interna, operando com cerca de 200 veículos que atendem aproximadamente 300 clientes no Brasil. Com o aperfeiçoamento do sistema de roteirização, obteve economia nos percursos das entregas e dá preferência para veículos movidos a etanol na distribuição na última milha. A empresa estuda o uso de veículos elétricos e carretas a gás para longas distâncias e está desenvolvendo um sistema de medição de emissão de CO2 em todas as viagens rodoviárias realizadas no país.
"Com isso será possível avaliar a quantidade de emissão em cada quilômetro rodado e aperfeiçoar ainda mais a roteirização das entregas", afirma Adriana Martins, diretora-presidente da Kuehne+Nagel. A meta global até 2020 é neutralizar emissões de CO2 dos escopos 1 e 2, que dizem respeito às emissões diretas e indiretas causadas pela companhia. "O próximo desafio é operar em um modelo de negócios de baixo carbono até 2030, incluindo o escopo 3, que contempla as emissões indiretas, geradas por nossos fornecedores e clientes", completa Adriana. Outra iniciativa é uma parceria com a SOS Mata Atlântica no plantio de mudas de árvores para compensar as emissões.
Além de manter uma frota atualizada de caminhões com um média de 3,9 anos de idade, a JSL começou a adotar veículos elétricos para a distribuição urbana e iniciou testes de ônibus elétricos para serviços de fretamento. Segundo Ramon Alcaraz, CEO da JSL, está no radar a aquisição de veículos de combustão híbrida -- diesel e gás --, que demandam menos investimento do que o exigido para caminhões elétricos. "Recentemente compramos dez caminhões a gás e nossa meta é reduzir em 15% a intensidade das emissões em um período de dez anos", destaca o CEO.
A eletrificação da frota é uma das estratégias do grupo Rodonaves, que opera três mil veículos. Em parceria com a JAC Motors, iniciou em 2020 um teste com seis caminhões que circulam na cidade de São Paulo. Firmou ainda uma parceria com a Rodonaves Iveco, uma das empresas do grupo, para ampliar a frota com veículos a gás (GNV) a partir de 2023, explica Vera Naves, vice-presidente do grupo Rodonaves. Nas sedes administrativas, o grupo está substituindo a energia elétrica por matrizes renováveis, com a meta de ter 86,33% das operações utilizando o sistema fotovoltaico até dezembro de 2023. As unidades de Ribeirão Preto, Campinas e Americana, no interior de São Paulo, e de dois bairros da capital paulista já operam com energia solar.
Para entender melhor a métrica das emissões de CO2, a Ghelere Transportes, com sede em Cascavel (PR) e 200 veículos distribuídos por dez filiais, participa do Programa Logística Verde Brasil (PLVB), que une empresas de diversos segmentos para incentivar a responsabilidade socioambiental. O programa definiu recomendações baseadas em métricas de emissão de gás carbônico (CO2) total produzido por uma transportadora. "Com base nessas informações, adotamos o diesel S10 aditivado, que melhora o rendimento do motor, evita desperdícios de combustível e gera menos emissões de poluentes", explica o diretor-executivo Eduardo Ghelere. As baterias dos caminhões são recarregadas por painéis solares instalados no topo dos veículos da frota, triplicando a vida útil do equipamento, que prevê contar com veículos movidos a gás e elétricos. A matriz da Ghelere é autossuficiente em água com o uso de um poço artesiano.
O transporte de cabotagem aderiu aos princípios da ESG, chegando a detalhes como a mudança na pintura dos navios. A Norsul, que operou 105 embarcações entre próprias e afretadas e atendeu 30 clientes no ano passado, adotou uma tinta especial anti-incrustante, fabricada pela fusão do hidrogel de silicone ativo com um pequeno percentual de biocida. Com ela, o casco do navio oferece menos atrito e menor resistência ao avanço, aumentando a eficiência energética e diminuindo o consumo de combustíveis fósseis. "Com essa redução de consumo de energia das embarcações, a expectativa é uma melhora na eficiência e performance do navio em quase 10% no comparativo com a média dos anti-incrustantes do mercado, reduzindo a emissão de CO2 em cerca de mil toneladas ao ano", afirma Gustavo Paschoa, diretor de novos negócios da Norsul.
Outra tecnologia adotada foi a Propeller Boss Cap Fin (PBCF), que consiste na troca de uma parte do hub da hélice para reduzir ou eliminar o vórtex causado na extremidade posterior do navio. O sistema melhora a performance do propulsor e a energia aplicada na navegação, alcançando uma economia de até 5% no consumo de combustível, contribuindo na redução das emissões de CO2. "O teste da tecnologia no navio Pio Grande teve como resultado uma economia de 207 toneladas de óleo combustível na embarcação e uma redução de 800 toneladas no consumo para o transporte de cargas", diz Paschoa. Agora o PBCF será aplicado em outras embarcações da frota.
A meta da Norsul é alcançar 100% carbono neutro no segmento de cabotagem no mundo por meio de créditos de carbono. A empresa gera créditos a partir de atividades de conservação na floresta amazônica brasileira, com o objetivo de reverter a tendência de desmatamento e evitar a degradação da cobertura vegetal em parceria com a Biofílica, responsável por viabilizar o processo. "Ao comprar esses créditos, a marca investe na redução do desmatamento, apoiando a conservação de estoques de carbono, e incentiva o desenvolvimento socioeconômico das comunidades locais", afirma Paschoa. A partir deste ano, a Norsul inicia a neutralização com a compra de créditos de aterros sanitários. O biometano produzido nos locais poderá futuramente ser utilizado como combustível alternativo para embarcações de emissão zero.
A Rodovico Transportes, com 30 bitrens graneleiros e mais de cem clientes, incluindo traders cerealistas, cooperativas e exportadoras, instalou energia solar na sua sede, em Cascavel (PR). São 184 módulos, cada um com capacidade de gerar de 360 Kw até 66.240 Kw. "Como geramos 7.5 Kw/h e consumimos apenas 5 Kw/h por mês, nos tornamos autossustentáveis nos gastos com energia e geramos um superávit que pode ser utilizado em outros locais incluídos nos contratos de aluguéis da empresa", diz Diego Nazari, diretor de desenvolvimento de negócios. Trabalhando com 3,5 mil motoristas terceirizados, a frota está recebendo placas solares para aumentar a vida útil da bateria, diminuindo o consumo com energia e a quantidade de resíduos eletroeletrônicos na natureza.
A guerra na Ucrânia, por enquanto, não alterou as políticas ESG das empresas. "A princípio, não haverá alterações no planejamento de ações, mas continuaremos acompanhando o cenário para entender eventuais necessidades de mudanças de rumo", afirma Adriana Martins, da Kuehne+Nagel. Com uma estratégia de médio e longo prazos, padrões de governança, qualificação de mão de obra e apoio às comunidades dos entornos onde a empresa atua, as frentes de atuação da Copersucar não vão se alterar diante das mudanças no cenário mundial, reforça o gerente de logística, Leonardo Camporez.
Fonte: Valor Econômico
Texto extraído do boletim SCA