Com mercado promissor, biogás e biometano de cana atraem novos investimentos

Com mercado promissor, biogás
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Cocal, Tereos, Raízen e UISA estão entre as companhias com aportes nos produtos renováveis e limpos  

Tradicionalmente, a cana-de-açúcar gera etanol, açúcar e eletricidade ou bioeletricidade, como se diz no meio. Para tanto, cerca de 300 usinas em operação no país processam aproximadamente 600 milhões de toneladas da matéria-prima por 10 meses, que é o período médio de duração da chamada safra. Tem aí um detalhe: a depender do mercado, a disponibilidade de cana pode ser direcionada mais para fazer açúcar ou para fabricar etanol. 

Na safra em fase final na região Centro-Sul, por exemplo, 45,08% da cana foi para açúcar e 54,92% seguiram para etanol, relata a UNICA.  

Detalhe: conduzir esse mix produtivo é exclusividade da cana porque, nos EUA, onde o etanol é quase todo feito de milho, esse direcionamento não pode ser feito.  

Outro detalhe: fora os tradicionais açúcar, etanol e eletricidade, a cana gera subprodutos como a vinhaça ou vinhoto. Normalmente quando se fala em subprodutos vem à mente dejetos, materiais descartáveis. Não é o caso. A vinhaça é um senhor subproduto.  

Em termos de volume, cada litro de etanol gera 12 litros de vinhaça. Significa, por baixo, 324 bilhões de litros por safra, levando em conta que 27 bilhões de litros de etanol foram fabricados até janeiro pelas usinas da região Centro-Sul.  

Tem também os termos qualitativos: grande parte da vinhaça, rica em potássio, é empregada como fertilizante na própria cana.  

A sobra desse subproduto simplesmente virou matéria-prima para fabricar biogás e biometano, produtos antigos em outros segmentos, mas considerados novos no setor sucroenergético.  

Em primeiro lugar, é preciso destacar que tanto biogás como biometano são ambientalmente limpos, uma vez que têm baixa emissão de gases geradores de efeito estufa como dióxido de enxofre (CO2).  

Em segundo lugar vêm as qualidades desses produtos. O biogás, por exemplo, é transformado em eletricidade e pode ser injetado na rede e ampliar a oferta com energia elétrica limpa. Leia aqui mais sobre ele.  

E tem o biometano.  

Processado a partir do biogás, é, em resumo, um gás disponível para atender a vários mercados. Um deles é o de fertilizantes, uma vez que o biometano substitui o gás convencional na fabricação de amônia.  

Já outro mercado tentador é o emprego de biometano para substituir o óleo diesel. Neste caso, o gás de cana entra no lugar do gás convencional em motores híbridos (diesel e gás).  

O gás de cana também pode entrar no lugar do gás encanado convencional que, no Brasil, é em boa parte importado da Bolívia.  

Neste último exemplo, o município paulista de Presidente Prudente será pioneiro no país em distribuir biometano encanado para os moradores.  

A previsão é de que o gás de cana seja entregue a partir de julho próximo por usina do grupo Cocal (leia mais aqui). 

Vale a pena voltar ao emprego de biometano em motores híbridos ou 100% a gás.  

Por conta do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve P8), criado pelo governo federal em 2018, os fabricantes precisam investir em motores menos poluentes.  

Meta semelhante já ocorre na Europa, onde a Euro 6 determina que esses motores estejam em caminhões e ônibus fabricados já a partir de 2023.  

No caso do Brasil, Volkswagen Caminhões, Mercedes-Benz e Volvo já anunciaram investimentos para os próximos anos. Tem também a italiana Iveco, que entre o ano passado e 2025 empreende investimentos de R$ 1 bilhão no Brasil. Entra nesse aporte o programa Brasil Natural Power, no qual a marca investe no desenvolvimento e produção de caminhões pesados movidos a gás (leia mais a respeito aqui).  

Assim como nos caminhões da Iveco, os de outros fabricantes entram no radar para serem abastecidos por biometano de cana. Afinal de contas, o país tem, registrados, 2,2 milhões desses veículos.  

Se pelo menos 10% deles rodarem a biometano, será um mercado atrativo para o setor sucroenergético e um ativo ambiental peso-pesado para o Brasil. 

Isso porque o motor movido a gás de cana pode reduzir as emissões de CO2 em até 95% na comparação com o óleo diesel.  

Quem investe em biogás e em biometano 

Entre as companhias sucroenergéticas com empreendimentos de biogás e biometano, estão a Raízen, a Cocal e a Tereos.  

No caso da Raízen, joint-venture entre Shell e Cosan, a produção de biogás é de joint dela com a GEO inicialmente na usina – ou parque de bioenergia – localizada em Guariba, no interior paulista.  

Já a Cocal, com duas unidades também no interior – em Paraguaçu Paulista e em Narandiba -, parte para nova frente de investimentos depois de consolidar a produção de biometano cuja distribuição em Presidente Prudente deve começar ainda neste primeiro semestre, em parceria com a distribuidora GasBrasiliano.  

A Tereos, com sete unidades no interior, possui empreendimento de biogás em parceria com a ZEG. E em relatório ambiental divulgado em janeiro, a companhia destaca seu objetivo “de substituir 100% do diesel utilizado nos caminhões canavieiros por alternativas limpas como o biometano.” 

Já a sucroenergética UISA (antiga Usinas Itamarati), controlada pelo fundo CVCB, formalizou no começo de fevereiro joint-venture com a GEO para produzir biogás e biometano na sua unidade industrial localizada em Nova Olímpia (MT) (leia mais aqui).  

De uma só tacada, a UISA entra neste promissor mercado e faz do Mato Grosso o primeiro estado fora do eixo Centro-Sul a produzir eletricidade e gás verde renovável.  

Por Delcy MAC Cruz

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