No momento em que a matriz energética é repensada, usinas sucroalcooleiras da companhia mostram potencial e evolução na geração de eletricidade a partir da cana-de-açúcar
Atualmente, a maioria das usinas de cana-de-açúcar brasileiras é autossuficiente, utilizando a bioenergia gerada a partir da queima bagaço da cana, incluindo todas as 34 usinas associadas à Copersucar, empresa brasileira e maior comercializadora de açúcar e etanol do mundo. Destas, 25 unidades também exportam energia para o Sistema Interligado Nacional (SIN), chegando também ao consumidor doméstico. Na última safra (2020/2021) as usinas da Copersucar produziram 191.088.673,74 GJ, equivalentes a 53.080,58 GWh dos quais 2.864,19 GWh foram destinados à exportação, volume suficiente para abastecer quase 1,5 milhão de residências durante 365 dias no ano.
A bioenergia é a produção de energia elétrica a partir de uma fonte orgânica renovável e limpa, como é o caso da cana-de-açúcar. Para o processo de geração da energia elétrica não é necessário o cultivo de áreas extras de cana-de-açúcar. Ele ocorre a partir do aproveitamento do calor gerado no processamento do bagaço para a produção de açúcar e etanol, utilizando-se a força do vapor das caldeiras industriais para movimentar os geradores.
Segundo dados da ÚNICA, a bioenergia produzida a partir da biomassa de cana-de-açúcar é a 4ª fonte mais importante com capacidade instalada de energia elétrica no país, atrás apenas da hídrica, eólica e do gás natural. De janeiro a agosto de 2021, a geração pela bioeletricidade à rede foi de 17.412 GWh. Essa geração acumulada no período representou atender o consumo anual de 9 milhões de unidades de residências.
O setor sucroenergético se desenvolveu aliado à sustentabilidade e, nos últimos anos, o aproveitamento do bagaço para geração, consumo e exportação de bioenergia ganhou mais espaço. A cana foi a principal fonte de bioeletricidade no último ano, com 82% da geração total, 22.604GWh, volume abasteceu mais de 11,7 milhões de unidades residências no País. Em 2020, o estado de São Paulo foi o que mais ofertou energia a rede, cerca de 12.000 MW, superando a usina hidrelétrica Belo Monte, com 11.233MW.
Entre as usinas associadas a Copersucar, que realizam exportação de energia, estão o Grupo Pedra Agroindustrial, composto pelas usinas da Pedra, de Buriti e Ipê, e a Usina Santo Antônio do Grupo Balbo, todas localizadas no interior de São Paulo, e a Jacarezinho, localizada no Paraná. A Usina da Pedra foi uma das pioneiras do setor no Brasil em geração de bioenergia através da biomassa de cana. Iniciaram seus processos há quase 40 anos, na década de oitenta, passando por atualizações em 2000, com a implementação da CERPA (Cooperativa de Infraestrutura e Eletrificação Rural de Palotina) e em 2010, com a implementação de ponto de conexão para a distribuição da energia.
Além de produzir 2.879,25GWh por safra e da experiência adquirida nesta atividade, a usina projeta um aumento de eficiência para os próximos anos em 5%, ou seja, mais 740mil GWh por safra. Atualmente, um terço é para consumo interno, em especial para o processamento da cana até a etapa final na produção de açúcar e etanol, e dois terços para exportação.
Danilo Gutierrez, Gerente de Novos Negócios Usina da Pedra, destaca que a maior diferença entre o início destas operações e o momento atual é a facilidade e capacidade de produção, que aumentaram drasticamente. A exemplo, os equipamentos antes movido por capacidade mecânica, mas que hoje são digitais, incluindo controle do processo e o sistema de proteção. Segundo ele, existem diferenciais que fazem da geração de bioenergia uma boa oportunidade para as usinas.
"Quando é definido um plano de metas, considerando a otimização de processamento da cana, uso interno e produção externa, definição de tamanho de produção, boas práticas e bons equipamentos, agrega-se mais valor para a cadeia, ao utilizar um produto cotidiano na produção do açúcar e do etanol e torná-lo um combustível adicional, a energia. É um ciclo de cogeração de energia elétrica e térmica" destaca Gutierrez. E completa, "Outro ponto que tem auxiliado o aprimoramento do setor é a modernização dos indicadores de eficiência, neste caso, o monitoramento dos níveis de consumo de vapor na usina e das caldeiras".
A recente seca que tem prejudicado, entre outras frentes, a geração de energia hidroelétrica no Brasil, é motivo de preocupação. A busca por diferentes recursos e produção de energia faz com que outros caminhos sejam repensados, principalmente aqueles que estão alinhados com a sustentabilidade e ESG, conceitos cada vez mais exigidos pela sociedade. Existe assim, uma oportunidade de crescimento para processos eficientes e em expansão que já estão alinhados com estas políticas, desde o cultivo até o produto final, como é o caso do setor sucroalcooleiro e da bioenergia produzida a partir da cana.
O uso da energia sustentável a partir da cana passou a ser fundamental para atender as usinas no período de estiagem no Brasil. Sua geração está alinhada com a produção de açúcar e etanol (abril a outubro), exatamente no período em que há menos chuva no Brasil (maio a agosto). Isso faz da bioenergia um importante e estável complemento de energia elétrica, especialmente em um momento de instabilidade e reservatórios mais vazios. Em 2020, 83% do total de energia ofertado pelo processo produtivo da cana aconteceu no período de seca.
Com as percepções deste cenário, os bons exemplos dentro do setor e a evolução da bioenergia para o desenvolvimento do mercado no país, gerando resultados consistentes, outras usinas estão se adaptando para impulsionar este crescimento. É o caso da Usina Jacarezinho, uma das mais recentes a iniciar operações neste segmento. Com histórico de baixo consumo de vapor por tonelada de cana desde o início de suas operações e grande sobra de bagaço, seus executivos perceberam uma boa oportunidade para investir no uso de bioenergia. Após integração e consolidação da Jacarezinho ao Grupo Maringá, a empresa realizou investimentos para implementação das tecnologias necessárias.
O projeto foi desenvolvido entre 2018 e 2019, utilizando pesquisas em tecnologias globais, incluindo visitas às usinas na Finlândia para conhecer os mais modernos maquinários e aplicações aos processos. Após este período, também foram conquistadas as licenças legais de operação para iniciarem suas operações em junho de 2021. Hoje, são responsáveis pela produção de 1.013,84 (GWh) por safra, ou 25 MW/h. Destes, 10 MW/h são destinados, principalmente, para a produção de etanol, enquanto que 15MW/h são para exportação no sistema. A usina já prospecta crescimento, com estudos para aumento de produção em 17MW/h com a expansão de um ponto de conexão e expectativas de aumento da capacidade em 50MW/h nos próximos dois anos.
"As usinas sucroalcooleiras estão ajudando o país a sofrer menos, com uma energia limpa e de fonte sustentável. Além disso, existe uma integração entre as usinas. As boas práticas são compartilhadas para que todo o setor cresça e se desenvolva, propiciando diversidade de produtos e melhoria contínua" ressalta Condurme Aizzo, Diretor da Usina Jacarezinho.
A geração de bioenergia a partir da cana-de-açúcar ganha ainda mais destaque na correlação entre a indústria sucroenergética e os créditos de carbono (CBios). No período de janeiro a agosto, a energia renovável ofertada à rede foi evitou a emissão de quase 5 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera de outras fontes de energia poluentes. Marca que seria atingida somente com o cultivo de 34 milhões de árvores nativas e captura de carbono ao longo de 20 anos.
A Usina Santo Antônio, do Grupo Balbo, é exemplo desta integração. Responsável pela emissão da primeira nota fiscal de venda de energia elétrica pela iniciativa privada, a empresa também alia sua produção de bioenergia para destacar-se no Programa RenovaBio e no mercado de créditos de carbono. Atualmente, a usina produz 2.037,83 (GWh) por safra.
Dessa forma, alterações no cenário nacional e internacional que estão alinhadas às demandas sustentáveis para bioenergia, como a expansão do mercado de créditos de carbono, o Programa RenovaBio e as Conferências das Nações Unidas sobre Mudança Climática, incentivam investimentos no setor. No RenovaBio, por exemplo, as usinas com geração de energia elétrica passam a ter uma melhora da nota de eficiência.
O Grupo estuda a implantação de exportação de excedente em outra unidade, a de Uberaba, com potência de exportação de 190.523,00 MWh/safra, o que deve dobrar sua capacidade instalada. Enquanto nas usinas Santo Antônio e São Francisco projetam investimento para 242.020,00 MWh/Safra, representando um potencial de acréscimo de 65,44%.
Potencial da Cana-de-Açúcar - Atualmente, a energia proveniente da cana-de-açúcar representa 19,1% da oferta interna de energia (OIE) ou 39,5% de toda a energia renovável utilizada no Brasil. Na geração de energia elétrica, a cana representa 7% da oferta ao mercado. Porém, se houvesse o aproveitamento pleno da biomassa nos canaviais, a bioeletricidade teria potencial de crescer seis vezes, o que representaria 30% do consumo de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN).
Investir nesta matriz energética sustentável já gera economia de recursos hídricos, poupando 15% da água nos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste. Além disso, contribui com uma redução significativa das perdas de energia que ocorrem durante o transporte e economia de investimentos em transmissão, uma vez que mais de 80% da bioeletricidade gerada é utilizada na região que representa 60% do consumo nacional. O setor de bioenergia proveniente da cana pode propiciar a criação de 200 mil empregos diretos, com a expansão do setor neste sentido.
"A bioenergia é analisada de forma estratégica, permitindo agregar valor a cana-de-açúcar, além de ser de grande importância para o setor elétrico, com sua geração predominantemente no período seco e crítico para o setor, ajudando a preservar água nos reservatórios. Em todos os cenários, a bioenergia representa um papel de fundamental importância por se tratar de uma energia limpa e renovável" destaca Jairo Menesis Balbo, Diretor Industrial da Usina Santo Antônio.