Na semana passada, uma intensa discussão tomou conta do mercado em torno do acordo firmado entre a União Europeia (UE) e o Mercosul em 6 de dezembro, embora ainda dependa de aprovações adicionais.
O pacto estabelece a isenção tarifária para a importação de determinados produtos do Mercosul para a UE. Produtos como café e frutas estão contemplados, mas a entrada de itens agrícolas mais sensíveis, como carne bovina, etanol, carne suína, mel, açúcar e aves, segue limitada.
“Para o açúcar, o acordo prevê uma cota tarifária de 180.000 toneladas com isenção de tarifas, mas sem mudanças expressivas em relação às condições atuais. Importações além dessa cota permanecerão sujeitas às tarifas existentes”, diz Lívea Coda, analista de Açúcar e Etanol da Hedgepoint Global Markets.
A analista exemplifica: “Atualmente, o sistema de importação segue uma estrutura preferencial, aplicando tarifas diferentes conforme a origem do produto. Por exemplo, para países dentro da cota CXL, como Brasil, Austrália, Cuba e Índia, a tarifa para açúcar bruto destinado a refino é de 98 euros por tonelada. Já Países Menos Desenvolvidos (LDC), dos Bálcãs ou dos países da África, Caribe e Pacífico (ACP) têm isenção tarifária, salvo para consumo direto de açúcar mascavo, que é taxado em 419 euros por tonelada. Para qualquer importação de consumo direto, a tarifa é de 419 euros por tonelada, e se o açúcar bruto for importado fora do sistema de cotas para refino, será cobrada uma tarifa de 339 euros por tonelada.
A cota de 180 mil toneladas é pequena comparada ao volume já exportado anualmente pelo Brasil para a UE, que, segundo a SECEX, alcança, em média, cerca de 600 mil toneladas, das quais 540 mil são de açúcar bruto.
“Embora o Brasil já exporte acima da cota proposta, o aumento da oferta de açúcar na Ucrânia e boas perspectivas europeias podem reduzir a fatia do mercado brasileiro na EU”, ressalta.
Até novembro de 2024, o Brasil exportou aproximadamente 400 mil toneladas para o bloco, um volume abaixo do ritmo habitual, mas ainda acima da cota estabelecida pelo acordo. “Portanto, é improvável que o pacto afete os preços ou a dinâmica do mercado de açúcar”, indica.
Produção na Índia
Enquanto isso, na Índia, a safra de 2024/25 começou de forma lenta devido às festividades do Diwali, eleições estaduais e questões climáticas. Apesar disso, a moagem de cana está acelerando.
“Dados da NFCSF mostram que, em novembro, 381 usinas processaram 33,2 milhões de toneladas de cana, gerando 2,79 milhões de toneladas de açúcar. Isso representa uma redução de 34% na produção em relação ao mesmo período do ano passado, quando 433 usinas produziram 4,23 milhões de toneladas”, observa Lívea.
Cenário macroeconômico: EUA e Brasil
No cenário macroeconômico, o mercado global projeta mais um corte de 25 pontos-base na taxa de juros do Fed, previsto para a reunião de 17 e 18 de dezembro. O dólar, no entanto, mostrou uma correção menor do que o esperado, em meio às incertezas geopolíticas no Oriente Médio.
“No Brasil, a alta da inflação elevou as expectativas de um aumento de 75 pontos-base na taxa Selic, para 12%, na próxima reunião do Banco Central. A medida visa conter a inflação e a desvalorização do real, embora desequilíbrios fiscais ainda limitem o potencial de valorização cambial”, aponta.
“Para o mercado de açúcar, o impacto macroeconômico parece limitado. Uma valorização do real poderia desestimular exportações, mas é improvável que a taxa de câmbio caia significativamente abaixo de 6 BRL/USD. No entanto, a entrada na entressafra no Centro-Sul brasileiro em 2025 pode restringir a oferta, especialmente no primeiro trimestre, o que pode dar suporte os preços em caso de aumento da demanda”, finaliza.
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