A Petrobras vive um momento de instabilidade com a troca recente de seu presidente, Caio Mário de Oliveira Prates, pela ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Magda Chambriard. A mudança abrupta, motivada por pressões políticas, gerou incertezas no mercado e receios entre os investidores sobre o futuro da empresa.
Especialistas do mercado financeiro expressaram opiniões divergentes sobre os impactos da troca de comando na Petrobras. Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, considera a mudança "bem ruim" e teme que a nova presidente, Magda Chambriard, tenha menor afinidade com o mercado do que seu predecessor.
"Com a Magda, as credenciais dela, na minha opinião, são um pouco piores, não em termos de experiência, mas em termos de envolvimento com o governo, com a Dilma, ex-presidente. A Magda foi presidente da ANP no governo dela. Teve um pouquinho de envolvimento com a OGX, mas que causou polêmica na época. Ela chegou a elogiar publicamente a OGX e cancelou uma multa da empresa. Então, não acho que o mercado vê o nome dela com bons olhos", afirma Cohen.
Já Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, reconhece que a troca de comando em meio a pressões políticas "pega mal" para a imagem da empresa e comenta que o mercado estava, até a notícia divulgada, de certa forma otimista com o papel.
" A Petrobras, até poucos dias atrás, estava sendo negociada próxima da sua máxima histórica. O mercado colocava no preço da empresa a forte geração de caixa, consequentemente distribuindo bons dividendos para seus acionistas, além da perspectiva da empresa ser uma das maiores no setor de petróleo e gás, estando bem posicionada em um cenário que o Brasil pode ser um dos maiores produtores daqui uns anos", explica Fernandes.
Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT CAPITAL, ressalta a importância de avaliar se a nova presidente terá autonomia para tomar decisões estratégicas ou se estará sujeita a pressões políticas.
"A principal questão é saber se a Magda vai ter autonomia, vai ter uma imposição para o bem da companhia ou ela vai fazer tudo que o governo solicita para a companhia? Quando o Pedro Parente assumiu a companhia, apresentou os melhores resultados. Depois o Prates fez um bom trabalho também. E então se começou toda uma intervenção na companhia", questiona Richetti.
Investidores devem se desfazer das ações da Petrobras?
Diante das incertezas, surge a dúvida: os investidores devem vender suas ações da Petrobras? Os especialistas oferecem diferentes perspectivas.
Cohen aconselha cautela, mas não recomenda a venda imediata das ações. "Na minha opinião, quem tem ações da empresa, não vale sair agora vendendo. Mesmo não ficando feliz com a situação, eu não sairia. É uma empresa que tem potencial muito bom, e o governo atual não fica para sempre", argumenta.
Fernandes, por outro lado, reconhece que a troca de comando pode ter um impacto negativo no curto prazo, mas acredita que a empresa tem potencial para se recuperar no longo prazo.
"Se a empresa se manter rentável com o novo comando, isso vai sendo absorvido pelo mercado, mas de início pega muito mal, visto que a Petrobrás tem um histórico de ingerência por conta de indicações políticas em sua história", pondera Fernandes.
Para ele, uma troca de comando como foi o caso dessa, por pressão política, também prejudica a visão do investidor estrangeiro, que quando aloca em bolsa brasileira tem preferência por ações de empresas que possuem boa liquidez dentro do mercado. “Da mesma forma que é mais fácil de ele ingressar na nossa bolsa comprando esse tipo de empresa, a saída também é mais fácil”, diz Fernandes.
Richetti, por fim, destaca que a decisão de investir ou não na Petrobras depende da tolerância ao risco de cada investidor. "O investidor precisa avaliar se ele aceita essa possibilidade, se ele aceita este risco adicional de intervenção política. Essa é a principal pergunta. Se ele aceitar, não tem problema nenhum em ter ações da Petrobrás. Se ele não aceitar, eu sugiro procurar outras companhias de mesmo segmento que não tenham intervenção política", conclui.
Foto: Fernado Frazão