Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 2024 – O Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo e estabeleceu o dia 11 de janeiro como dia de Combate à Poluição por Agrotóxicos com o objetivo de promover a conscientização sobre os impactos que o seu uso pode provocar para a saúde humana e o meio ambiente. Dados do “Atlas dos Agrotóxicos” mostram que esses produtos são associados ao risco aumentado para câncer de fígado e de mama, diabetes tipo 2, asma, obesidade, entre outras doenças. A publicação apresenta ainda fatos que indicam que o uso dos agrotóxicos foi identificado como uma das causas da deterioração rápida e desastrosa da abundância de diversas espécies animais e vegetais.
Pesquisadores e estudiosos são categóricos ao afirmar que os agrotóxicos desempenham um papel significativo na perda direta e indireta da diversidade biológica mundial. O controle de ervas daninhas por herbicidas de amplo espectro, como o glifosato, leva à dizimação de flores e brotos e, portanto, à escassez de alimentos para insetos que se alimentam de flores e ervas silvestres. Em 2017, as vendas totais de glifosato foram estimadas em mais de 46 mil toneladas em toda a União Europeia. No mesmo ano, no Brasil, 173 mil toneladas do ingrediente ativo foram vendidas.
Como as espécies de plantas selvagens nos campos são fontes importantes de néctar e de pólen, seu declínio como resultado do manejo intensivo com herbicidas também pode gerar um enorme impacto na diversidade e abundância de insetos na paisagem agrícola dominada por terras aráveis.
O declínio acentuado de insetos em áreas agrícolas foi documentado por muitos estudos. Um deles, publicado em 2017 encontrou agrotóxicos no mel do mundo todo e revelou que 75% de todas as amostras continham pelo menos um neonicotinoide, considerado muito tóxico para insetos polinizadores como as abelhas. Outro levantamento, realizado pela organização alemã BUND, revelou que mais da metade das amostras apresentavam resíduos de agrotóxicos como acetamiprido ou tiacloprido. Com base nos dados disponíveis, o tiacloprido foi classificado como provavelmente carcinogênico em humanos.
Baseando-se em reportagens publicadas entre 2022 e 2023, o “Atlas dos Agrotóxicos” mostra que o uso dos pesticidas pode ter provocado a morte de mais de 300 milhões de abelhas, ameaçando a polinização natural das plantas e, consequentemente, das plantações. Responsável pela publicação, a Fundação Heinrich Böll mostra que, com a perícia, ficou constatado que, na maioria dos casos, o contaminante foi o agrotóxico fipronil.
As variações de agrotóxicos têm impactos diferentes sobre os insetos. Embora sejam usados para “proteger” as plantas de pragas, os agrotóxicos prejudicam todos os insetos, incluindo os benéficos. Como esses produtos químicos matam os inimigos naturais das pragas agrícolas (joaninhas, moscas voadoras e crisopídeos, por exemplo), pragas como os pulgões se recuperam mais rapidamente. No entanto, uma única joaninha pode comer cerca de 50 pulgões por dia e cerca de 40 mil em toda a sua vida. Esses insetos chamados benéficos reduzem a necessidade do uso de agrotóxicos caros e horas de trabalho dos agricultores.
Os agrotóxicos representam uma ameaça não só para os insetos, mas também para a economia: os serviços de polinização prestados por eles equivalem a 153 bilhões de euros por ano. Dentre a perda de colheita ameaçada pela ausência de polinização por animais destacam-se a abóbora, melancia, cacau e castanha do Pará, amêndoa, pepino, cereja, maçã e ameixa.
Registro de novos agrotóxicos bate recordes consecutivos
O “Atlas dos Agrotóxicos” revela que desde 2016 o Brasil tem batido consecutivos recordes na série histórica de registro de agrotóxicos, que teve início em 2000. Em 2022, foram 652 agrotóxicos liberados, sendo 43 princípios ativos inéditos.
E a expectativa é de que esse número aumente. No último dia 28 de dezembro, o presidente Lula sancionou a lei que flexibiliza o registro de novos agrotóxicos no Brasil. O texto original, conhecido como PL do Veneno, sofreu alguns vetos pelo presidente, entre eles sobre a exclusividade do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para coordenação das reanálises dos riscos dos pesticidas. Com o veto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) permanecem responsáveis, junto ao Mapa, sobre esses pedidos técnicos de reanálises.
Embora concorde que o processo de registros atual seja lento, Alan Tygel, da Campanha Contra os Agrotóxicos, acredita que o ideal, na verdade, seria haver mais participação do Ibama, Anvisa e Ministério da Agricultura para análises em vez de flexibilização da lei. “O primeiro ano do Lula causou um descontentamento grande. Esperávamos sinalização de maior preocupação”, avalia Tygel, um dos autores do “Atlas dos Agrotóxicos”.
Foto divulgação PMA MS