Na sequência da 28ª Conferência do Clima, a COP28, realizada em Dubai, especialistas brasileiros, do governo e setor privado, desembarcam em Tóquio, no Japão, para discutir descarbonização do setor aéreo. O foco é o desenvolvimento de SAF, o combustível sustentável de aviação (do inglês Sustainable Aviation Fuel), a partir do etanol, energia renovável produzida no Brasil há mais de 40 anos.
O evento, no dia 13 de dezembro, é uma iniciativa da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE) e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), em parceria com o Ministério da Economia, Comércio e Indústria (METI) do Japão e apoio da Embaixada do Brasil no Japão.
“Queremos proporcionar uma oportunidade de cooperação e diálogo entre especialistas, formuladores de políticas, reguladores e representantes da indústria do Japão e do Brasil sobre o potencial do etanol no desenvolvimento de SAF”, afirma o presidente da UNICA, Evandro Gussi.
Serão realizados cinco painéis: Políticas públicas para SAF no Brasil e Japão; Expectativas do Japão para SAF – Produção, demanda e comércio; Rotas tecnológicas e Alcohol-to-Jet (ATJ); Atributos do etanol brasileiro e potencial para SAF; além de um painel abrangendo os próximos passos.
Net Zero até 2050
De acordo com a IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo), o SAF pode contribuir com cerca de 65% da redução de emissões necessária para o transporte aéreo atingir a neutralidade de CO2 em 2050 – o que exigirá um aumento maciço na produção de combustível sustentável de aviação.
O Japão tem uma das metas mais ambiciosas para a implementação de SAF como estratégia para a descarbonização do transporte aéreo. O governo japonês estabeleceu mandado para uso de 10% de SAF em 2030, para voos internacionais em aeroportos japoneses. E estima que a demanda por combustível sustentável de aviação pode chegar a 1,7 bilhão de litros por ano.
Atualmente, sete rotas de produção de biocombustíveis são certificadas para produzir SAF. Uma das rotas mais promissoras é a Alcohol to Jet (ATJ), que usa o etanol como base. Essa rota foi identificada por especialistas como a solução mais viável em curto prazo para cumprir a meta de neutralidade de carbono da aviação internacional até 2050.
“Com as matérias-primas disponíveis para a produção de etanol e a possibilidade de crescimento sustentável da produtividade, o Brasil tem o potencial para contribuir com a diversificação das fontes de energia no transporte aéreo japonês. Seja fornecendo insumos para a produção de SAF ou disponibilizando combustível sustentável para as aeronaves”, destaca o presidente da UNICA.
Desmatamento zero
Evandro Gussi ressalta que o etanol produzido no Brasil atende a todas as diretrizes de sustentabilidade estabelecidas em âmbito internacional. O RenovaBio, que é o maior programa de biocombustíveis do mundo, estabelece o desmatamento zero, ou seja, nem mesmo a supressão de vegetação prevista em lei é permitida para as usinas certificadas pelo RenovaBio.
Outro ponto reforçado pelo presidente da UNICA é que a competição entre alimentos e combustíveis (food versus fuel) não se aplica no Brasil. O país desenvolveu um modelo de produção em linha com o que a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) chama de Sistema Integrado de Produção de Alimento e Energia. “Quanto mais energia produzimos, mais alimento temos”, pontua Gussi.