Segundo dados do relatório “Perspectivas para Agropecuária 23/24”, divulgado pelo CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), o Brasil deverá alcançar 319,5 milhões de toneladas na produção total de grãos.
Para a soja, a companhia estima uma safra recorde de 162,4 milhões de toneladas. O número representa um crescimento de 5,1% em relação à safra anterior. O avanço é embasado por um aumento de 2,8% na área de plantio, abrangendo 45,3 milhões de hectares, e um aumento de 2,2% na produtividade, atingindo 3.585 quilos por hectare.
A informação de “novo recorde” pode abrilhantar os olhos e ser facilmente associada a uma forte rentabilidade, no entanto, outros fatores devem ser considerados na hora da análise financeira de uma safra.
De acordo com Enrico Manzi, country manager da Biond Agro, a rentabilidade pode ser vista pelo lado da receita e dos custos. “A receita é medida através de: volume x preço. Dito isso, por conta do evento climático El Niño, até o momento, é esperado que o produtor produza bem e com bons volumes, já que este fenômeno costuma provocar chuvas no centro-sul da américa do sul”, comenta o gestor.
A relação dos custos de produção e a interferência na rentabilidade
Um ponto fundamental de análise para a rentabilidade é a comparação de custos de produção em relação à safra anterior. Para 23/24, segundo o Conab, o produtor Mato Grossense deve observar uma rentabilidade de 39,66%, visto a redução de custos na produção registrada em -21,63%, com destaque para queda de -48,72% nos fertilizantes.
Com o produtor plantando uma safra menos custosa em relação ao ano anterior e uma boa produtividade, caso consiga vender a níveis de preços favoráveis, poderá encontrar uma boa rentabilidade.
Já o preço determinado para o grão é decorrência de oferta e demanda global. “Estamos vindo de uma grande safra brasileira e uma argentina, com quebra de produção. Entramos em uma safra norte-americana com problemas, produzindo menos do que o esperado e estamos voltando a uma safra esperada grande para América do Sul. Tudo isso somado a uma demanda que não cresceu no mesmo ritmo da produção”, afirma.
O balanço de maior oferta com demanda crescendo de forma lenta pode ser um indicativo de preços mais baixos para o produtor sulamericano como um todo. Como a comercialização está atrasada, caso o preço siga caindo e com a confirmação de dados produtivos positivos na América do sul, a rentabilidade pode estar em risco.
A capacidade de armazenagem e logística pode afetar a rentabilidade do produtor?
“Nem tudo o que é colhido é necessariamente vendido dentro do ano. Um fluxo de venda mais contínuo durante a colheita se dá por conta da capacidade menor de armazenagem. O processo de armazenamento facilita o escape da janela de colheita, momento repleto de ofertas de produtos, ocasionando no queda dos preços dos produtos e maior custo para logística e transporte, consequentemente afetando a rentabilidade do produtor”, diz.
Para atuar fora do período de colheita, é possível contratar armazenagem de terceiros. Os custos de armazenagem complementar devem ser sempre levados em conta nestes casos. Já os produtores que possuem estrutura própria de armazenagem - silos e armazéns - atuam no fluxo de “vender parte e armazenar a outra”.
Uma possível “safra perfeita” gera grande rentabilidade?
“Imagine uma safra, plantada na janela perfeita, com chuvas perfeitas, com sol perfeito, com produtividade máxima esperada e colheita perfeita (bastante improvável, mas sigamos o exemplo). Se este cenário acontecer, há grandes chances de que a armazenagem seja insuficiente, a execução da logística possa ter problemas para executar todo o volume e, se o cenário de demanda não é otimista, pode indicar preços baixos”, afirma.
Caminhando para um panorama de boa produtividade e rentabilidade, o produtor deve possuir um bom planejamento e execução de compra dos seus insumos, e assim reduzir o custo de produção, ao mesmo tempo ter uma estratégia clara de gestão da comercialização da produção, tentando assegurar e otimizar suas receitas, e assim, reduzindo riscos.