O sonho de ampliar a produção de mandioca está a um passo de se tornar realidade para a família do terena Oto Pauferro, da aldeia Brejão, em Nioaque. Ele foi o primeiro indígena do Brasil a obter um financiamento pelo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), que este ano passou a enquadrar também os povos tradicionais.
Quem elaborou o projeto para ser submetido ao crivo do banco foi o técnico em agropecuária Moacir Romoaldo, extensionista da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural). A autarquia do governo de Mato Grosso do Sul presta este tipo de serviço a todos os agricultores familiares interessados no crédito disponibilizado pelo Governo Federal.
Oto vai receber R$ 40 mil que serão utilizados para a compra de um microtrator com grade aradora, uma roçadeira e reformará uma cerca que está deteriorada na propriedade dele.
“É uma bênção. A vida toda nós esperamos por isso e agora que surgiu a oportunidade, estamos felizes. Por enquanto, eu plantava somente mandioca em quase um hectare. Agora, vou conversar com o cacique para aumentar para cinco e se tudo der certo, nosso projeto é conseguir plantar ainda mais”, afirma o terena.
Segundo ele, até o ano passado, toda a colheita era usada para subsistência. Em 2023, por outro lado, a terra foi tão generosa com a família Pauferro que eles conseguiram vender a raiz congelada para alguns mercados de Nioaque, gerando renda que fez toda a diferença na qualidade de vida.
A esposa de Oto, Livrada Pauferro, fez até pães enriquecidos com mandioca. “Não tivemos ainda a porta aberta para vender nossos produtos para um PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), prefeitura ou para a merenda escolar, mas com a produção que teremos, o que surgir de melhor com certeza nós vamos aproveitar”, diz a terena.
O casal já está ansioso para a chegada do microtrator e também para comprar os materiais para fazer as melhorias estruturais.
Indígenas e os demais agricultores familiares que precisarem de crédito pelo Pronaf podem procurar um dos escritórios da Agraer distribuídos em todos os municípios. Os extensionistas prestam auxílio com a documentação e ainda elaboram o projeto para ser apresentado ao banco. É a extensão rural fazendo toda a diferença.
Mais crédito para a Agricultura Familiar
Na manhã desta sexta-feira, 15 de setembro, o Secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck; o diretor executivo da Agraer Marcos Roberto Carvalho de Melo; o secretário da Seaf (Secretaria Executiva de Agricultura Familiar, Povos Originários e Comunidades Tradicionais) Humberto Mello Pereira e a gerente em substituição da Gerência de Desenvolvimento Agrário (GDA) Rosemeire Borges Cardoso se reuniram com o assessor da superintendência do Banco do Brasil Haroldo Cortez Martins e o gerente de mercado Breno dos Reis.
O objetivo foi dialogar sobre os atendimentos dos projetos do Plano Safra 2023/2024 para os agricultores familiares em razão do atual aumento do volume de crédito disponibilizado pelo Governo Federal.
Durante a reunião foram apresentados dados que reforçam o aumento de projetos de crédito rural destinados à agricultura familiar. Neste ano a Agraer já elaborou 1.390 projetos, totalizando mais de R$ 78 milhões investidos na Agricultura Familiar. Outros 502 projetos estão em fase de contratação que resultará em mais R$ 26 milhões nas mãos desse público.
Dentre esses projetos, 145 são propostas na linha do Pronaf A, que inclui os povos indígenas e as comunidades tradicionais de Mato Grosso do Sul. Nessa modalidade de crédito, 60 projetos já foram contratados e outros 64 estão protocolados no Banco do Brasil. O valor dos projetos do Pronaf A elaborados totalizam mais de R$ 2 milhões.
Para o diretor-executivo da Agraer, a aprovação desses projetos incentiva a produção nas áreas da agricultura familiar, em especial nos territórios dos povos indígenas e comunidades tradicionais, que antes careciam desse apoio. “Nós temos a honra de ter a aprovação do primeiro projeto de crédito rural voltado a um indígena, isso demonstra um alinhamento verticalizado entre o Governo Federal, o Governo Estadual e os municípios para nós atingirmos o maior número possível de beneficiados. Além disso, a Agraer está fazendo mutirões em todas as suas regionais para levantamento de emissão de CAF (Cadastro da Agricultura Familiar) e encaminhamento de novos projetos aos operadores de crédito”, ressaltou Beto Carvalho.