Apesar de gargalos logísticos e de infraestrutura, em meio ao cenário de dependência de 85% das importações dos insumos para produção de fertilizantes, as entregas ao mercado nacional no acumulado de janeiro a maio de 2023 registram alta de 1,5% ante o mesmo período de 2022
“Fertilizante, fundamental para a produção agrícola, é sinônimo de alimentos, de emprego, de oportunidades, de crescimento, estabilidade da economia e controle inflacionário. É segurança nacional e significa harmonia no mundo, porque onde tem comida tem paz”, declarou Carlos Fávaro, ministro da Agricultura e Pecuária, durante a cerimônia de abertura do 10º Congresso Brasileiro de Fertilizantes, promovido pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).
Realizado no dia 29 de agosto, o evento reuniu cerca de cinco mil pessoas, entre participantes presenciais e acessos à live transmitida nas redes sociais. Experts em várias áreas do agronegócio, com olhar apurado para as especificidades do setor de adubos, debateram mecanismos para transição energética, desafios globais, metas climáticas, logística, infraestrutura e o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF).
Sobre a recriação do Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas (Confert), o vice-presidente da República e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, que assume também a cadeira de presidente do colegiado, abordou a reformulação do PNF. Defendeu “um plano com medidas concretas para reduzir a dependência externa de fertilizantes, diminuir custos dos produtores rurais, gerar empregos e ampliar os mercados externos para a nossa produção agrícola brasileira”, já protagonista global na área.
Em consonância com os avanços e boas práticas ambientais, o congresso ocorreu com o selo livre de carbono zero. Abertura foi marcada por discurso do presidente do Conselho de Administração da Anda, Eduardo de Souza Monteiro. Seguiu-se a programação de debates voltada à agenda da agropecuária, contemplando formadores de opinião, empresários, estudiosos e público qualificado para jogar luz no desenvolvimento do setor e impulsionar a segurança alimentar e a sustentabilidade. Evidenciou-se o significado dos fertilizantes para o êxito do agronegócio, responsável por 25% do PIB nacional e consumidor de 42 milhões de toneladas anuais de adubos.
Para Monteiro, o número mostra como a indústria de fertilizantes não poupa esforços em atender à grande demanda do mercado brasileiro. Foram supridas todas as necessidades, “reforçando o protagonismo do Brasil como um dos grandes celeiros do mundo”.
“O setor de fertilizantes segue mantendo grande empenho no sentido de garantir o abastecimento, colaborando para aumentar as entregas no tempo certo, para que os agricultores tenham em mãos insumos necessários para organizar seu planejamento para o sucesso de uma boa colheita”, disse Monteiro, acrescentando: “Está sendo atendida em sua totalidade a demanda do mercado agrícola”, afirmou Monteiro, ao relembrar o trabalho ininterrupto de 55 anos da Anda para difundir a importância do fertilizante como insumo e alimento da terra.
O dirigente também enfatizou o marco de meio século da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Destacou a relevante contribuição da instituição para o avanço do setor.
Transição energética passa pelo agronegócio
O primeiro painel “Novos Mecanismos Globais para Transição Energética” contou com palestra de Marcos Jank, coordenador do Centro Insper Agro Global, abordando as novas possibilidades em indústrias complementares: etanol, biometano e hidrogênio verde, dentre outras. “Precisamos correr nesse assunto porque ele está acontecendo”, disse, enfatizando o potencial em bioenergia proporcionado pelo clima tropical no contexto global. Ele também comparou o adubo de amônia feito no Brasil com os disponíveis no mercado mundial.
Como debatedores, atuaram Carla Barroso Carneiro, representante permanente do Brasil na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), e Roberto Rodrigues, ministro da agricultura entre 2003 e 2006 e presidente da Academia Brasileira de Ciências Agronômicas (ABCA). A coordenação coube a Maicon Cossa, vice-presidente de Supply Chain da Yara Brasil.
Roberto Rodrigues, presidente da Academia Brasileira de Ciências Agronômicas (ABCA), indicou três grandes decisões a serem tomadas pelo mundo e que passam pelo agronegócio: “Busca da segurança alimentar, renovação energética e administração das questões ambientas”.
Solução e desafios no mercado brasileiro de fertilizantes
No segundo painel, Alexandre Mendonça de Barros, palestrante reconhecido da área do agronegócio e sócio consultor da MB Agro Consultoria, falou sobre os desafios globais dos fertilizantes. Os debatedores foram Maisa Romanello, especialista no mercado de fertilizantes da Safras & Mercado, e Guilherme Bastos, coordenador do FGVAgro. A coordenação coube a Gustavo Horbach, diretor-presidente da EuroChem América do Sul.
Mendonça de Barros apresentou análises da relação de troca de grãos e o consumo dos insumos, como os fertilizantes, reiterando os impactos dos gargalos logísticos e de infraestrutura no desempenho do mercado, que segue rumo à recuperação. “No nosso entendimento, há áreas novas que precisam ser corrigidas. E trabalhamos este ano pensando em certa recomposição”, comentou.
Horbach reiterou o uso fundamental do fertilizante como aliado para a agricultura sustentável e explicou o potencial da atividade no Brasil, interpretando o momento do agro quando existe aumento da demanda por alimentos e maior preocupação com segurança alimentar: “O setor continua em franca expansão. O uso de fertilizante é essencial para aumentar a produção e a qualidade das lavouras, além de ser um poderoso instrumento na recuperação de solos degradados, evitando a abertura de novas áreas”.
NPV, homenagem à EMBRAPA e Prêmio Carlos Florence
A iniciativa da Anda “Nutrientes Para a Vida” (NPV), criada para difundir e esclarecer a importância dos fertilizantes para a agricultura, saúde das plantas, animais e seres humanos, foi apresentada por Valter Casarin, seu coordenador Científico, e Bianca Naves, sua coordenadora de Nutrição. A NPV vem realizando várias ações, dentre elas cursos, talkshows e coberturas de eventos do segmento agrícola, como a feira Agrishow.
Durante o congresso, a NPV revelou o resultado do levantamento sobre a percepção da população sobre o uso de fertilizantes: nos últimos dois anos, 50% dos entrevistados responderam que apoiam e entendem o uso dos fertilizantes. A sondagem considerou as diferenças e interpretações entre adubos e outros insumos usados para o plantio, indicando a preferência dos entrevistados pelos alimentos orgânicos.
Houve celebração e homenagem à Embrapa pelas cinco décadas de serviços na área de pesquisa agrícola. Clenio Nailton Pillon, diretor-executivo de Pesquisa e Inovação da instituição, recebeu das mãos do vice-presidente do Conselho de Administração da Anda, George Wagner Bonifácio e Sousa, placa alusiva à história e realizações em favor do agronegócio.
A segunda edição do Prêmio Carlos Florence, maior reconhecimento em pesquisa da área de fertilizantes no País, contemplou os cinco melhores trabalhos: 1º lugar - “Tecnologias para fertilizantes nitrogenados: eficiência agronômica e emissões de gases de efeito estufa”, de Leonardo Fernandes Sarkis; 2º lugar - “Potencial agronômico de fertilizantes organominerais a partir da compostagem de lodo e esgoto”, de André Luiz de Freitas Espinoza; 3º lugar - “Caracterização química, mineralógica e eficiência agronômica de diferentes fosfatos brasileiros”, de Jéssica Franciele Kaminski Ramos; 4º lugar - “Gestão 4C de selênio na soja brasileira: dose, fonte e modo de aplicação”, de Maila Adriely Silva, Gustavo Ferreira de Sousa e Luiz Roberto Guimarães Guilherme; e 5º lugar - “Inibidores de nitrificação e urease como estratégia de mitigação da volatilização de NH3 em áreas de cultivo de cana-de-açúcar com adição de resíduos orgânicos”, de Maria Carolina Teixeira.
Metas climáticas, logística e infraestrutura
A segunda parte de painéis iniciou os debates com o tema “Desafios para atender às novas metas climáticas globais, impactos na logística e infraestrutura”, sob coordenação de Susana Martins Carvalho, diretora-executiva da Campo Forte Fertilizantes. Os debatedores foram Daniel Furlan Amaral, diretor de Economia e Assuntos Regulatórios da ABIOVE, Joanita Maestri Karoleski, presidente do Fundo JBS pela Amazônia, e José Firmo, CEO do Porto do Açu.
José Firmo destacou a necessidade da descarbonização para ampliar a logística. “Não podemos nos dar ao luxo de demonizar nenhum modal”, ponderou, defendendo a diversificação dos meios de transporte.
Daniel Furlan Amaral comentou a necessidade da coexistência de modais. “Sem boas condições, o frete aumenta, a produtividade obtida até o embarque se perde, as empresas não conseguem se planejar e a competitividade é diluída”, explicou.
Na visão de Joanita, há uma janela de oportunidades de aliar ações sociais com práticas para que se tenha oferta de combustíveis sustentáveis. Para ela, “quando a gente olha a renda das famílias na Amazônia, por exemplo, vê-se a oportunidade que nós temos para combustíveis sustentáveis. São 27 milhões de pessoas com um dos menores índices de desenvolvimento do Brasil’.
Plano Nacional de Fertilizantes
No último painel, sobre o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), Antonio Josino Meirelles, diretor de Relações Governamentais e Sustentabilidade da Mosaic Fertilizantes, coordenou a conversa entre os debatedores Bruno Fonseca, analista de Pesquisa e Análise Setorial para o Mercado de Insumos do Rabobank Brasil, João Pieroni, superintendente de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, Carlos Leonardo Durans, diretor de Desenvolvimento da Indústria de Insumos e Materiais Intermediários do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), e Marcelo Silvestre, presidente da Galvani.
Também foram debatidas as perspectivas de importação de fertilizantes, que podem crescer 20% até 2030, segundo estimativa de Bruno Fonseca. João Pieroni abordou as contrapartidas fiscais previstas no Regime Especial da Indústria Química (Reiq). Citou a atuação do BNDES para aproximar indústrias e retomar projetos nacionais de fertilizantes.
Fertilizantes na agenda do agronegócio
No discurso de encerramento, Eduardo de Souza Monteiro, presidente do Conselho de Administração da Anda, destacou a configuração do evento voltada a apresentar temas relevantes para a agenda do agronegócio e o fertilizante como base sustentadora para a produção de alimentos.
“Sentimo-nos muito honrados e felizes pelo setor de fertilizantes poder impulsionar o agronegócio brasileiro, que, cada vez mais, tem sido a base de sustentação da economia nacional, do crescimento do PIB, dos resultados positivos da nossa balança comercial e da geração de empregos”, destacou.
Monteiro reiterou a posição do setor de fertilizantes como ‘player’ fundamental na produção de alimentos, agradeceu a resiliência dos empresários e trabalhadores, que, somados, representam a força do agronegócio brasileiro. Também enfatizou que o Brasil continuará quebrando recordes anuais nas safras e ampliando cada vez mais seu protagonismo como fornecedor de alimentos.
A 10ª edição do Congresso da Anda teve público superior a cinco mil pessoas, entre presentes e audiência online. Contou, ainda, com a participação de líderes, empresários e autoridades, incluindo a ex-ministra da Agricultura e ex-senadora pelo Tocantins Kátia Abreu. No próximo ano, o evento será realizado no dia 27 de agosto.