Há duas semanas, comentei aqui que havia na indústria automobilística brasileira uma importante movimentação para volta do carro popular. Essa movimentação cresceu nesse meio tempo, ganhou o nome de Carro verde e as discussões para a volta da sua produção no Brasil cresceu em diferentes áreas, ainda mais com as recentes notícias de paralisação das linhas e férias coletivas por baixa demanda de mercado. O objetivo é contornar a elevação do preço, os altos juros e a rigorosa seletividade da concessão de financiamento, que têm reduzido as vendas e afetado a economia do País, lembro da música Mulheres de Atenas, criada por Chico Buarque, em 1976, como crítica ao período do regime militar, que impedia a liberdade de expressão.
Chico Buarque, com Mulheres de Atenas, mostrou que, naquele momento, a mulher brasileira não tinha voz nem direitos e que seus desejos eram anulados. Mas, hoje, quase 50 anos depois, as mulheres estão diferentes, já ocupam importantes posições e dividem com homens as decisões importantes nas empresas e continuam lutando bastante para ter os mesmos direitos dos eles, sobretudo nas áreas que ainda mantêm a ranço machista.
Hoje, mudo o título da música para “Lembrem-se do exemplo daqueles italianos da Fiat” para sugerir às empresas automotivas que espelhem-se na decisão da marca italiana na concepção do primeiro programa de carro popular brasileiro e se apressem para motivar a Anfavea a mostrar ao governo que a alternativa do carro popular pode aumentar as vendas, mantendo intacto os quadros de pessoal com a oferta ao mercado de modelos populares para aproveitar a atual tendência que pode incentivar a comercialização de veículos.
Na década de 1990 enquanto Ford, General Motors e Volkswagen simplesmente analisavam a decisão de acompanhar a ideia da Fiat, começar a desenvolver um motor 1.0 e esperara decisão das respectivas diretorias, a Fiat reduziu a capacidade cúbica do motor Fiasa, com originais 1.049 cm3 de cilindrada, para 994 cm3, antecipou-se no desenvolvimento, lançou o primeiro carro popular no País e deu um show de vendas.
Enquanto General Motors e Volkswagen conformavam-se por não possuir um motor que permitisse a redução de sua capacidade cúbica sem comprometer o desempenho dos automóveis, a Ford demorou demais para usar o CHT que abreviava a denominação da tecnologia Compound High Turbulence que fabricava.
Nesse tempo, também assistiu à evolução de vendas da Fiat, desprezando a ajuda do experiente piloto gaúcho Clóvis de Morais e do engenheiro paulista Eugênio Martins que desenvolveram motores para ajudar a Ford a concorrer com a Fiat, mas tiveram seus trabalhos obstados pelo presidente da empresa, o inglês James Donaldson. Eugênio Martins comprou um Escort básico para, com a ajuda de Luís Antonio Greco, chefe da área de competições da empresa, desenvolver o motor Ford 1.0. e colocou o automóvel à disposição da engenharia da montadora americana para uma avaliação de seu desempenho.
Donaldson não permitiu o uso desses motores por julgar que comprometeriam o nível de segurança, principalmente pela falta de resposta do motor em ultrapassagens em estradas e só autorizou o ingresso da empresa no mercado de carro populares tardiamente quando a sua engenharia terminou o processo de desenvolvimento.
E a Ford, por não seguir o exemplo dos italianos da Fiat e ficar à espera de uma decisão da diretoria, perdeu a participação do mercado e passou a ocupar a quarta posição no ranking brasileiro enquanto a marca italiana assumiu a vice-liderança do mercado brasileiro.
Lançado em 1990, o Fiat Uno Mille, com potência de 48,5 cv e torque de 7,4 kgfm foi o pioneiro entre os carros populares do mercado brasileiro. Com desempenho modesto, pela potência de 48,5 cv e torque de 7,4 kgfm, o Uno Mille acelerava de 0 a 100 quilômetros em 19,7 segundos e alcançava a velocidade máxima de 139 quilômetros por hora. Realmente, era uma eternidade fazer de zero a 100 km/h em quase 20 segundos, mas a maior utilização do veículo era na cidade em trânsito que mal passava dos 60 km/h com muito anda-e-para.
Por ter sido desenvolvido antecipadamente, o Fiat Mille foi muito bem recebido pelo público, pela ideia inovadora, que beneficiou as pessoas que não tinham condições de comprar um automóvel melhor equipado. E pelo fato de se tornar uma opção para pessoas de menores recursos tornou-se um marco para o mercado e para a história da Fiat no Brasil, ajudando-a a superar a Ford e a GM em vendas no nosso País.
Acesse nossos podcasts clicando aqui.
Fotos: Arquivo Internet