A conservação do solo é decisiva para a preservação do meio ambiente e, também, para maior eficiência do agronegócio. E neste quesito, o estado de Mato Grosso sai da frente com o programa AgriSciences. Promovido pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o projeto oferece aos produtores rurais aprendizado in loco sobre a aplicação prática das técnicas e tecnologias desenvolvidas, apresentando as vantagens e desvantagens no solo da região. As boas práticas agrícolas para conservação do solo permitem a sua proteção e se mostram benéficas na absorção e captação de carbono da atmosfera, reduzindo sua presença no ar.
O programa, que atua em parceria com as Universidades de Minnesota, Ohio, Maine, Texas e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, começou a ser desenhado em 2016, quando Rattan Lal, especialista em conservação do solo e vencedor do prêmio Nobel da Paz em 2007 como membro do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês), visitou Mato Grosso. Com a articulação de Abreu, Lal apresentou os detalhes do que seria a parceria entre instituições dos Estados Unidos e o estado de Mato Grosso.
"A agricultura no Brasil, especialmente na região do Cerrado, é uma história de sucesso global, chamada “o Milagre do Cerrado”. Foi em 1977 que visitei o Cerrado pela primeira vez. Naquela época, o Cerrado Center era um quarto para armazenar ferramentas agrícolas. Agora, ele compreende instalações de campo de laboratório de nível mundial e dados de pesquisa de alta qualidade são gerados a partir de lá", afirmou Rattan Lal com exclusividade ao MTVerso.O especialista reconhece o protagonismo de Mato Grosso. "A agricultura no estado de Mato Grosso, desde 2000, é uma história de sucesso mundial, tanto para as regiões do Cerrado, como para as de floresta", afirmou Lal.
Rattan Lal (à esq.) e Daniel Abreu, idealizadores do AgriSciences.
O programa
Com a recuperação de pastagens e adoção de práticas como a integração de sistemas biodiversos de cultivo e criação, que conservam e melhoram a saúde e resiliência do solo, Mato Grosso pode escalar a produção de alimento e energia com sistemas que contribuem para adaptação e mitigação da mudança do clima.
Para se ter uma ideia da grandiosidade do AgriSciences, somente a Universidade de Ohio colocou à disposição da UFMT 65 mil alunos e 570 mil formados que atuam ao redor do mundo. O programa já apoiou direta e indiretamente mais de 3.000 produtores e jovens do meio rural e mais de 600 profissionais por meio de ações de extensão e capacitação. No Brasil conta com apoio da Universidade Federal de Viçosa, Famato, Senar-MT, Aprosoja-MT, Acrimat e Embrapa.
Mato Grosso é o maior produtor de grãos do país, responsável por 27,2% da produção nacional. Também é líder em soja (28%), milho (33%); algodão (69%) e gergelim (98%), além de deter o maior rebanho bovino do país (15% do que é produzido nacionalmente). "Esses números foram conquistados em razão do desenvolvimento e adoção de tecnologias que permitiram o eficiente aumento de produção por unidade de área, reduzindo a pressão sobre as florestas nativas", afirma o professor Daniel Abreu, coordenador do programa AgriSciences.
Abreu explica que com a adoção dos sistemas de cultivo/criação propostos para agricultura de baixo carbono, a agropecuária no estado de Mato Grosso apresenta grande potencial de sequestro de carbono da atmosfera. Diversas pesquisas corroboram a eficiência verificada na prática pelos produtores de Mato Grosso. Entre os trabalhos mais recentes, está um estudo divulgado pelo Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em janeiro deste ano. A conclusão da pesquisa, feita com 23 fazendas de criação de gado em cinco estados brasileiros, é a de que manter a boa qualidade do solo é decisivo no balanço negativo de carbono, visando maior sustentabilidade e produtividade.
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