Cooperativas de crédito têm papel fundamental na disseminação da educação financeira

Programas desenvolvidos atingem crianças e adultos, abrindo espaço para falar de orçamento familiar em casa

Cooperativas de crédito têm

Manter o orçamento equilibrado, pagar todas as contas, não extrapolar no cartão de crédito e ainda guardar uma parte do dinheiro para investir. Para muitas pessoas, fazer a gestão do próprio orçamento é um bicho de sete cabeças. É por isso que os cursos de educação financeira vêm crescendo. Márcia Tolotti, psicóloga e psicanalista, consultora financeira e especialista em educação psicofinanceira, desenvolve diferentes programas do tipo, junto a empresas e cooperativas.

A especialista, que já escreveu sete livros sobre o tema, como O Desafio da Independência, financeira e afetiva e As Armadilhas do Consumo, explica que as cooperativas de crédito dão uma atenção especial ao tema porque está no DNA delas. Ela esclarece que as noções que são passadas dentro de empresas e cooperativas são as mesmas. "Em todas elas, o grande viés é a questão do aspecto psicológico e emocional que interfere no apelo de consumo, para as crianças e para os adultos. Os pequenos conseguem entender questões como o que eles querem, o que eles não podem ter, de onde vêm o dinheiro, a relação de troca. Pedagogicamente transformamos esse aspecto psicológico em um modo de ver as coisas. Ele funciona nesse sentido para adultos também. Todos eles partem dessa questão do autoconhecimento, o que representa ter ou não ter algo", afirma Márcia.

Na instituição financeira cooperativa Unicred, ela criou e implementou o programa de educação financeira Vida que Prospera, que atingiu 300 mil pessoas em 2021 e continua com diversas ações. "Tem um ônibus itinerante, um jogo e vídeos exclusivos. Ele atende crianças e adultos, colaboradores e comunidade", explica Márcia. Para falar com o público infantil, foi criada uma série de desenhos animados. Além disso, o programa conta com um site, artigos, e-books, palestras em empresas e para formação de professores em educação financeira e EAD.

A profissional também atuou junto ao Sindicato Rural de Flores da Cunha, com diversos programas, incluindo palestras nas comunidades e a criação do projeto Colônia Valorizando a Vida, que atingiu 2 mil jovens. Outro programa criado junto ao sindicato foi o Agricultura Lucrativa Familiar, que inclui um documentário, um livro, uma visita técnica e a realização de oficinas com mais de 2 mil alunos do 5º ao 8º ano do Ensino Fundamental, das cidades de Flores da Cunha e Nova Pádua. Ao todo, essas iniciativas beneficiaram mais de 20 mil pessoas.

A especialista em educação psicofinanceira, que é palestrante de diversas empresas e rodou o Brasil com o evento de educação financeira Expo Money, colaborou ainda com diferentes unidades do Sicredi. Atuou na programação para a Fundação Sicredi da Semana Enef, durante três anos. Trabalhou para o Sicredi Pioneira, estruturando site, podcast, artigos e dicas. "Também desenvolvemos há dois anos um jogo para pessoas com algum grau de endividamento", conta Márcia. No Sicredi Botucaraí, forneceu conteúdo para testes.

O sucesso de todas estas ações é muito grande. Além do número de pessoas atingidas, existem exemplos de crianças que levaram para casa o que aprenderam na escola, compartilhando com os pais. A consultora financeira destaca que a falta de educação financeira causa um índice maior de endividamento. As pessoas acabam sendo acionadas em seu aspecto psicológico, assim pegam empréstimos ou fazem compras sem planejamento.

"Temos o caso de uma empresa que adotou a educação financeira na integração. Ou seja, no momento em que era contratada, a pessoa já recebia noções do aspecto emocional dentro da educação psicofinanceira. Com isso, os novos entrantes não solicitavam empréstimos ou adiantamento de salário. Antes desta introdução, eles já pediam adiantamento no primeiro ou segundo mês de trabalho. Depois que foi implementado isso, se mapeou durante um ano e não houve solicitação".

Para se ter uma ideia, no Rio Grande do Sul uma estimativa indica que mais de 800 mil jovens, dos 16 aos 24 anos, estão inadimplentes. "Além da questão óbvia do problema financeiro, eles têm dificuldade para entrar no mercado de trabalho e baixa produtividade, porque vão trabalhar preocupados com suas contas. Esse cenário gera problemas psicossociais, familiares, de relacionamento e um adoecimento físico, que é mais difícil de mapear. Mas é fato que as pessoas acabam adoecendo por problemas financeiros", explica Márcia.

A especialista esclarece que não existe um modelo único de programa de educação financeira. É possível desenvolver e customizar de acordo com cada instituição. Tem coisas que são básicas que qualquer cooperativa pode ter, como um site, ações comunicativas para escolas, empresas e comunidades. "Cada instituição tem o seu formato, pode fazer podcast, jogo, artigo, lives, games eletrônicos ou jogos ao vivo. Pode promover competições nas escolas para que os alunos participem. Essa pegada do cooperativismo, a economia colaborativa, o empreendedorismo e a educação financeira estão em um composto para ampliar o grau de cidadania financeira, que é um conceito propagado pelo Banco Central e muito pouco usado, mais amplo que a educação financeira".

Ela conclui que é preciso um engajamento para que os programas de educação financeira gerem resultados. "Não pode ser uma propaganda, um cumprir meta. Se o alto escalão das cooperativas não adere à ideia, o programa não avança. Justamente por ele pertencer às pessoas, os associados têm que votar, aprovar o programa em assembleia, destinar verba. Como a adesão precisa partir de uma questão de cultura dentro das cooperativas, se não tiver esse acompanhamento, ele não anda. Isso vale para empresas e para todas as instituições", finaliza.


Foto Marcelo Casal Jr


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