Tomar decisões no campo sem que sejam seguidas as
recomendações do manejo integrado de pragas pode levar a um desequilíbrio do
agroecossistema. É o que afirma o biológo da Embrapa Cerrados, Sérgio Abud. Ele
foi um dos palestrantes do webinar serviços ecossistêmicos e agricultura: a
constante busca por equilíbrio na avaliação do risco ambiental, evento
promovido pela Croplife Brasil no ultimo dia (04) - acesse aqui a gravação.
A palestra do especialista da Embrapa tratou do tema "O manejo integrado e
sua importância para a paisagem agrícola".
O manejo integrado de pragas (MIP) é a junção de todas as
principais táticas de controle com o objetivo de reduzir a população de insetos
prejudiciais na lavoura e mantê-la abaixo do nível de dano econômico. Dentre os
impactos do não uso do MIP pode-se destacar: a eliminação dos inimigos naturais
com consequentes surtos de pragas secundárias; ressurgência e o aparecimento de
novas pragas, devido ao desequilíbrio agroecossitêmico; e seleção de pragas
resistentes aos inseticidas e acaricidas.
De acordo com o biólogo da Embrapa, houve uma mudança nos
últimos anos na maneira de se interpretar as variadas práticas do manejo
integrado. "Antes elas eram olhadas de forma isolada, como se fosse um
quebra cabeça. Hoje, o manejo passou a ser visto como um cubo mágico, em que
todas as ações estão integradas e interferem uma nas outras", explicou. E
quais seriam essas táticas de controle? Segundo Abud, elas abrangem tanto
questões relacionadas ao manejo cultural, quanto ao genético, ao biológico e ao
químico.
No caso do manejo cultural, a ideia é provocar a
indisponibiliade de alimentos para a praga levando à redução da população de
insetos. "Isso se consegue tomando algumas medidas que vão desde o preparo
do solo, até a dessecação antecipada da palhada e instalação de barreiras
vegetais no tempo, com a rotação de cultura, ou mesmo no espaço, com a
instalação de faixas de cerrado ou policultivos", afirmou.
Outra tática de controle tem relação com o manejo genético,
que é a manipulação de genes na cultura alvo capaz de conferir resistência à
praga específica. "Isso pode ser feito a partir do melhoramento genético
clássico, com cultivares resistentes, ou por meio de engenharia genética, usando
genes específicos que auxiliam nesse controle genético na praga, como a soja
intacta". Há ainda o manejo biológico, com uso de parasitoides ou
organismos entomopatogênicos, e o químico, que é a utilização de determinadas
substâncias (inseticidas, hormônios e ferormônios) para atrair, repelir ou
matar insetos.
Mas, antes de colocar em prática essas variadas táticas de
controle, o especialista orienta que o produtor deve seguir algumas estratégias
para embasar sua tomada de decisão. Nesse sentido, segundo ele, o monitoramento
da lavoura é fundamental. "A tomada de decisão passa pela amostragem
desses insetos, a identificação da praga e a determinação do nível de controle.
Sabemos que um inseto só é considerado praga quando ele atinje aquela população
capaz de causar dano. O controle no campo começa quando o nível de controle é
atingido", explica.
Cenário atual
Dos anos 70 para os dias de hoje, o Brasil passou de
importador para exportador não só de alimentos, mas de fibras e bioenergia.
Toda essa mudança acabou impactando a paisagem agrícola do país. "Temos
exemplos de muitas áreas contínuas pelo Brasil em que são cultivadas várias
espécies dentro de um sistema de produção integrado que permite até três safras
por ano. Isso faz com que as pragas tenham alimento o ano todo e muito mais
tempo para a multiplicação. Essas regiões produtoras são vistas pelos insetos com
uma única fazenda. E num ambiente como esse, é preciso que o produtor pense no
complexo de pragas advindo desses sistemas de produção", alerta.
O biólogo da Embrapa orienta os produtores que fiquem
atentos para evitar esse manejo com alto risco de desequilíbrio
agroecossitêmico. Ele pode ocorrer ao se produzir de forma contínua os mesmos
cultivos nas mesmas áreas (soja/soja, soja/milho, soja/algodão), ou as mesmas
variedades em grandes áreas, ano após ano, sem que se faça a rotação de
variedades; cultivos de transgênicos expressando as proteínas Bt em áreas de
refúgio ou áreas de manejo da resistência; uso inadequado de inseticidas sem
uma tomada de decisão mais técnica; e,
ainda, exploração intensiva de culturas hospedeiras suscetíveis para essas
pragas. Com isso, segundo ele, não há uma interrupção do ciclo biológico dessas
pragas.
De acordo com Abud, é importante que os produtores adotem
cada vez mais a prática do manejo integrado de pragas e sigam as recomendações
técnicas. "Nem sempre o monitoramento para a tomada de decisão é feito.
Muitas vezes as ações são tomadas de forma calendarizada, com base na aplicação
dos defensivos", relata. Como consequência há a redução da presença de
inimigos naturais na região e podendo levar a surtos de pragas secundárias,
como a Helicoverpa armigera, a mosca branca e a cigarrinha do milho. "Tudo
isso leva a resistência das pragas às principais moléculas que temos hoje de
inseticidas e de outros produtos como herbicidas e fungicidas. É um manejo de
altíssimo risco", adverte.
Juliana Caldas
Embrapa Cerrados
Foto Capa: Alessandra de Carvalho