Avaliações de campo do Rally da Safra reduzem estimativa de produção de soja para 125,8 milhões de toneladas

Organizadora da expedição, Agroconsult derruba projeção de soja após constatar os prejuízos causados pela estiagem nas lavouras do Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul

Após percorrer mais de 20 mil quilômetros, o Rally da Safra 2022 divulga a primeira revisão da estimativa de produção com base nas avaliações das lavouras de soja realizadas até o momento.  Desde 9 de janeiro, nove equipes oficiais percorreram os estados do Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná — uma equipe extra percorreu o Rio Grande do Sul. No caminho, os técnicos coletaram 640 amostras, cujos dados confirmam a expectativa inicial: uma boa safra no Centro-Norte do Brasil e uma quebra no Sul do país. A estimativa de produção foi revisada para 125,8 milhões de toneladas, 8,4 milhões de toneladas abaixo das projeções pré-Rally, que eram de 134,2 milhões de toneladas. A diferença entre a projeção atual comparada ao seu potencial, estimado pela Agroconsult em setembro do ano passado, já ultrapassa 18 milhões de toneladas. O que mudou em pouco mais de um mês foi a magnitude dos problemas no Sul, acentuados pela continuidade do clima predominantemente seco e quente em janeiro e início de fevereiro. 

Poderia ser pior, não fosse o excelente desempenho das lavouras no Cerrado. Em Mato Grosso e Goiás, a estimativa de produção aumentou 1,6 milhão de toneladas desde o início do Rally – pouco para compensar a quebra de 10,6 milhões de toneladas no Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Considerando a estimativa de produção numa área plantada de 40,5 milhões de hectares (+4,1%), a produtividade média desta safra é projetada no momento em 51,7 sacos/hectare (-12,7%)– a mais baixa desde 2015/16. “É importante considerar que esses números podem mudar até o fim da safra”, diz André Debastiani, coordenador da expedição. “A safra no Sul ainda precisa de chuva até meados de março, caso contrário os resultados podem piorar – por outro lado a produtividade pode surpreender positivamente nas áreas mais tardias do Centro-Oeste e do MAPITO-BA”.

Revisões negativas

As revisões negativas em relação à estimativa pré-Rally estendem-se por uma área que vai do Sul do Mato Grosso do Sul até o Sul do país. No Rio Grande do Sul, a seca se agravou em meados de janeiro. “Parte das lavouras do estado está atualmente numa situação tão crítica quanto as do Oeste do Paraná estavam no início do ano, quando o Rally começou a rodar”, explica Debastiani. A pior situação se concentra na região gaúcha das Missões e nas áreas próximas situadas no Planalto e no Sul do Rio Grande do Sul.

A produtividade estimada para o Rio Grande do Sul é, no momento, de 27 sacas por hectare, uma quebra de mais de 53% em relação à safra passada, levando a uma produção de 9,9 milhões de toneladas – a menor das últimas dez temporadas. “O Rally volta ao Rio Grande do Sul em março e, caso não haja uma regularização das chuvas, podemos ter nova revisão negativa”, diz o coordenador do Rally.

No Paraná, a produtividade é estimada em 41 sacas por hectare, quebra de 33% sobre a safra passada. O pior cenário encontra-se no Oeste do estado, onde 65% das lavouras amostradas pelo Rally indicam uma produtividade inferior a 20 sacas por hectare. O potencial produtivo das regiões Norte, Centro e Sudoeste ainda foi parcialmente preservado, mas é preciso que chova nas próximas semanas para que a soja complete seu ciclo.

Revisões positivas

A surpresa registrada pelas equipes do Rally fica por conta do bom início de safra no Centro-Oeste. A avaliação das lavouras de soja de ciclo precoce e tardio no Mato Grosso e em Goiás levou a uma revisão positiva na produtividade média dos dois estados, indicando produtividades recordes. Os dias nublados e o excesso de chuva que vinha atrapalhando os trabalhos de campo não parecem ter limitado o potencial das lavouras. Para o Mato Grosso, a produtividade é estimada em 61,5 sacas por hectare, 6,2% acima da safra passada, o que deve permitir que a produção do estado ultrapasse as 40 milhões de toneladas. Em Goiás, a estimativa de produtividade deve chegar a 64,5 sacas por hectare, 5% acima da temporada passada. De acordo com as avaliações realizadas pelas equipes no Sudoeste do estado, aproximadamente 95% das amostras coletadas indicam produtividade superior a 60 sacas por hectare. Esse desempenho deve fazer do estado o segundo maior produtor nacional, ultrapassando o Paraná e o Rio Grande do Sul.

Próximas equipes

Em fevereiro e março, as equipes do Rally continuarão a avaliar as demais regiões produtoras e em contato com produtores para verificar os números de safra. Nesta semana, duas equipes do Rally estarão em campo: uma percorrerá a região Sul de Goiás (passando por Paraúna, Caiapônia e Itumbiara), e outra o Leste do estado, avaliando lavouras em Cristalina, entre outros municípios – e ambas encerram o roteiro em Catalão. O Rally também percorre nesta semana as regiões do Noroeste e Triângulo Mineiro, que também possui condições de registrar novos recordes de produtividade, em função do bom desempenho das lavouras.

Milho segunda safra

A etapa de avaliação do milho segunda safra começará em 15 de maio, com seis equipes – as duas primeiras percorrem o Oeste e o Médio-Norte do Mato Grosso. Outras duas avaliarão lavouras no Sudeste do Mato Grosso, Norte do Mato Grosso do Sul e a região Sudoeste de Goiás. As últimas equipes visitarão áreas no Sul do Mato Grosso do Sul e Oeste do Paraná.

As perspectivas para a segunda safra de milho são positivas, em função do bom calendário de plantio no Centro Oeste. Ressalta-se, porém, a contínua preocupação com as previsões de falta de chuva no Paraná e Mato Grosso do Sul em abril, período crítico de definição das produtividades.

A projeção para esta temporada é de área plantada 7% maior do que na safra anterior, chegando a 15,7 milhões de hectares – segundo Debastiani, a expansão poderia ser ainda maior, não fossem os gargalos na oferta de insumos. A estimativa de produção é de 92,2 milhões de toneladas, 51,3% acima da safra passada.

Em abril e maio, quatro equipes do Rally serão dedicadas a visitas a produtores e eventos regionais, inicialmente agendados para ocorrerem em Não-Me-Toque/RS (12/04), Cascavel/PR (19/04) e Rio Verde/GO (03/05).

Mais de 80 mil quilômetros deverão ser percorridos em 11 estados durante a 19ª edição do Rally da Safra, principal expedição técnica do agronegócio brasileiro. A expectativa é coletar 1600 amostras em campo. Organizada pela Agroconsult, a expedição técnica tem o patrocínio do Banco Santander, FMC, OCP Fertilizantes e Serasa Experian e apoio nacional da Hidrovias do Brasil e Unidas Agro.

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