Alta do barril pode levar a reajuste dos combustíveis

A recente alta no preço do barril de petróleo no mercado internacional pode levar a Petrobras a anunciar novos reajustes nos preços dos combustíveis no mercado brasileiro nos próximos dias, apontam analistas.

Nas contas do presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e especialista em energia, Adriano Pires, os preços do diesel e gasolina no mercado interno chegaram a uma defasagem de 10% em relação à paridade internacional na semana passada. Na manhã de sexta-feira, o barril de petróleo tipo Brent, principal referência internacional, e o WTI, índice americano para a commodity, ultrapassaram a barreira dos US$ 90 pela primeira vez desde 2014.

Além do preço do barril no mercado internacional, os preços dos combustíveis no mercado interno também sofrem influência do câmbio. Na sexta, o dólar comercial fechou a R$ 5,32. Para o presidente do CBIE, a recente valorização do real frente ao dólar não deve ser suficiente para compensar a alta nos preços internacionais do petróleo.

Na sexta-feira os preços do barril ultrapassaram a barreira dos US$ 90 pela primeira vez desde 2014

"Com o aumento do barril, a defasagem dos combustíveis tende a aumentar. O câmbio pode ajudar a fazer com que esse aumento seja menor, tem uma compensação, mas não reduz significativamente a defasagem", diz Pires

O analista sênior de óleo e gás da Bloomberg Intelligence, Fernando Valle, concorda que o preço do Brent teve maior influência nas últimas semanas sobre os preços internos de combustíveis do que o câmbio. "É provável que o Brent continue sendo o fator mais relevante para os preços dos combustíveis no Brasil. O barril subiu mais do que a queda do dólar, ao mesmo tempo em que temos um aumento no custo de logística. A alta no preço do barril também está levando a um aumento no custo de serviços e equipamentos para a produção de petróleo, que a Petrobras e outras empresas devem sentir ao longo de 2022", explica Valle.

Pires lembra ainda que é possível que ocorra uma nova depreciação do real frente ao dólar nas próximas semanas, com a perspectiva de novo aumento nas taxas de juros americanas em março e a aproximação das eleições presidenciais no Brasil.

Uma análise da consultoria S&P Global Platts apontou que em janeiro deste ano o diesel importado dos Estados Unidos pelo Brasil chegou a US$ 117 por barril, maior preço de paridade desde novembro de 2018. "Apesar da recente fraqueza do dólar em relação ao real permitir algum alívio para os importadores de combustível americano, o atual cenário é de preços absolutos altos", aponta o gerente de análise de preços de petróleo e perspectivas regionais da S&P Global Platts, Lenny Rodriguez.

Na quinta-feira, o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, reafirmou em evento promovido pelo Credit Suisse que a companhia evita repassar reajuste conjunturais nos preços aos consumidores. O executivo, no entanto, ressaltou que a empresa precisa continuar a seguir a paridade com os preços internacionais, caso contrário, o mercado pode ter problemas de desabastecimento com o enfraquecimento da atuação de importadores.

"Temos procurado evitar que a volatilidade seja repassada de forma imediata, esperamos movimentos mais estruturais. Isso demonstra que a Petrobras consegue acompanhar a paridade de preços, manter o mercado abastecido e dar oportunidade para que outros importadores participem do mercado, ao praticar um preço competitivo", disse Silva e Luna.

O mais recente reajuste realizado pela Petrobras nos preços de venda para as distribuidoras nas refinarias ocorreu no dia 12 de janeiro, quando a companhia anunciou que a gasolina passaria a ser vendida ao preço médio de R$ 3,24 por litro, alta de 4,85%. Já o diesel passou a ser vendido ao preço médio de R$ 3,61 por litro, acréscimo de 8,08%.

Os preços do barril de petróleo no mercado internacional têm se recuperado nos últimos meses, influenciados pelo fato de a retomada da demanda por derivados pós-pandemia estar ocorrendo de forma mais rápida do que o aumento da produção, que segue restrita em países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e aliados, além dos Estados Unidos. Outro fator que tem contribuído para a alta dos preços no mercado internacional é a incerteza geopolítica sobre o comportamento da Rússia em relação à Ucrânia.

O analista de petróleo e gás da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, acredita que a tendência é que os preços do barril continuem altos nos próximos meses. Para ele, isso deve fazer com que o tema dos combustíveis fique no centro do debate da corrida eleitoral no Brasil este ano. "É muito difícil evitar com que todos esses choques globais batam aqui. Hoje, o dólar está sim ajudando [a reduzir a alta nos preços de combustíveis], mas essa é uma variável muito difícil de se precificar e que está muito relacionada ao ciclo de expectativas do país. Não dá para dizer que o câmbio vai seguir ajudando a segurar preços", afirma.

Nesse contexto, o governo federal está discutindo o envio de uma proposta de emenda constitucional (PEC) ao Congresso para zerar tributos sobre combustíveis, sem necessidade de compensação com a elevação de outros impostos. Os esforços ocorrem no momento em que o presidente Jair Bolsonaro busca a reeleição.

Arbetman, da Ativa, afirma que apenas será possível quantificar o tamanho do impacto da PEC no preço ao consumidor quando o texto final da proposta for apresentado. Pires, do CBIE, entretanto, lembra que ao longo do governo Bolsonaro o principal fator de influência para a alta dos derivados no país foi o câmbio. "Em 2008, quando também tivemos o barril acima de US$ 90, o câmbio no Brasil estava abaixo de R$ 4, então não houve essa sensação. O que aconteceu nesse atual governo foi a tempestade perfeita, com a combinação do preço do petróleo alto e o câmbio depreciado", explica.

Fonte: Valor Econômico
Texto extraído do boletim SCA

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