Contradições energéticas

Por: Oscar de Mattos

A produção acumulada de eletricidade dos aquecedores solares de água instalados no Brasil é de 13,5 GW, o que equivale à quase totalidade da de Itaipu, de 14GW. O montante é exatamente igual ao déficit em relação ao que foi programado para o aumento da geração no País nos últimos dez anos, apontado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética). Apesar da obviedade dos números, essa companhia ligada ao Governo Federal não reconhece oficialmente e desconsidera em seus planos anuais uma tecnologia nacional capaz de contribuir para evitar apagões, equilibrar a demanda e ajudar pessoas físicas e jurídicas a reduzirem o valor da conta de luz.
 

É fundamental a incorporação dos aquecedores solares de água no planejamento da matriz energética nacional, sua ampliação e diversificação. A medida torna-se ainda mais premente a partir da crise hídrica desencadeada em 2021, risco de interrupções no fornecimento e majoração expressiva das tarifas, fator que pressiona os índices inflacionários e aumenta o custeio das empresas e as despesas das famílias. Assim, parece bastante contraditório o fato de a EPE apontar que, na última década, o País não atingiu os valores planejados e, ao mesmo tempo, ignorar uma tecnologia cuja disseminação contribuiria para as necessárias soluções.
 

Temos uma solução brasileira e sustentável para enfrentar a crise energética e até mesmo equipar casas dos programas governamentais de habitação. Os aquecedores solares de água são cerca de quatro vezes mais eficientes do que os painéis fotovoltaicos e atendem a aplicações residenciais de baixa até alta renda, comerciais, industriais e serviços. Sem dúvida, trata-se da alternativa mais eficaz para a redução expressiva do consumo nos chuveiros elétricos, que sobrecarregam muito o sistema no horário de ponta (entre 17 e 21 horas), representando mais de 7% de toda a eletricidade gasta no País e cerca de 37% da residencial, segundo dados do Balanço Energético Nacional da Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2021) e Pesquisa de Posse de Hábitos de Uso e Consumo (Eletrobrás, 2019).
 

Estamos falando de uma tecnologia totalmente nacional, presente há mais de 40 anos, que gera empregos apenas no País, utiliza somente matérias-primas brasileiras e tem certificação do Inmetro, com base em normas internacionais. Ou seja, produtos de alta qualidade e eficiência. A energia solar térmica é uma solução barata para o aquecimento de água, sustentável e eficiente. Também reduz a emissão de gases de efeito estufa. Seu sistema não é ligado à rede elétrica. Sua fonte de eletricidade é exclusivamente o Sol. Assim, possibilita expressiva redução de custo nas contas de luz e do consumo nacional. Portanto, é uma solução que não pode continuar sendo ignorada pelo governo e as autoridades do setor energético!
 

*Oscar de Mattos é presidente da Abrasol (Associação Brasileira de Energia Solar Térmica).

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