À medida que a transição energética global se acelera, a construção de sistemas de energia baseados em fontes renováveis — como solar, eólica, hidrelétrica e bioenergia — precisa ir além da descarbonização. Segundo o novo World Energy Transitions Outlook 2024, publicado pela Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), a resiliência climática deve se tornar um pilar estratégico da transição.
Com o aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas, enchentes e furacões, a infraestrutura energética está cada vez mais exposta a riscos operacionais e econômicos. Esse cenário atinge diretamente ativos como turbinas eólicas, painéis solares, redes elétricas — e também usinas de bioenergia, incluindo as usinas de cana-de-açúcar.
Planejar para resistir, recuperar e continuar operando
De acordo com o relatório da IRENA, a eletricidade deve representar mais da metade do consumo final de energia até meados do século. Essa eletrificação torna ainda mais crítica a capacidade dos sistemas energéticos de absorver choques, manter o fornecimento e se recuperar rapidamente após desastres naturais.
O estudo defende a adoção de medidas estruturais de resiliência climática que passam por três frentes principais:
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Infraestrutura de Qualidade (QI) — com normas técnicas, testes, certificações e monitoramento contínuo desde a fase de planejamento até a operação;
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Planejamento estratégico e intersetorial, com políticas públicas voltadas à prevenção e à mitigação de riscos climáticos;
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Financiamento inteligente, com mecanismos como títulos verdes, PPPs e incentivos fiscais para projetos resilientes.
O papel do setor sucroenergético
Para o setor sucroenergético brasileiro, que já combina produção de energia renovável e biocombustíveis, a resiliência também é uma questão prática. Com usinas em áreas rurais e muitas vezes expostas a extremos climáticos, a adoção de tecnologias como microrredes, armazenamento de energia, smart grids e medição inteligente pode garantir o funcionamento mesmo durante falhas na rede principal.
Essas soluções também reforçam o papel das usinas de cana na segurança energética nacional, especialmente em regiões onde o acesso à energia ainda é frágil ou vulnerável a interrupções.
Resiliência é eficiência de longo prazo
O relatório destaca que os custos preventivos são menores do que os prejuízos causados por falhas estruturais, interrupções de fornecimento ou atrasos operacionais. Avaliar lacunas de resiliência, estimar impactos potenciais e monitorar melhorias permite tomar decisões baseadas em dados e atrair confiança de investidores.
A abordagem proposta pela IRENA é clara: resiliência climática é um investimento, não um custo — e deve ser tratada como prioridade nos projetos de energia renovável, tanto em países desenvolvidos quanto em nações emergentes como o Brasil.
Fonte: Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), World Energy Transitions Outlook 2024
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