A Confederação Nacional da Indústria (CNI) promoveu nesta segunda-feira (26), em Brasília, a edição 2025 do Dia da Indústria, reunindo autoridades dos três poderes, empresários e representantes do governo para debater os desafios e as oportunidades do setor produtivo brasileiro. O evento foi marcado pelo lançamento de novas chamadas públicas do Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que prevê R$ 319 milhões em recursos voltados à inovação e à sustentabilidade no setor automotivo nacional.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, abriu o encontro reforçando a relevância estratégica da indústria de transformação para o crescimento econômico do país. Em tom direto, alertou sobre os impactos negativos de propostas como a redução da jornada de trabalho sem aumento de produtividade. “Nossos estudos apontam que o aumento de custos pode chegar a R$ 88 bilhões por ano apenas no setor industrial. Precisamos, antes de tudo, falar de produtividade”, afirmou.
Alban também criticou o alto custo da taxa básica de juros — atualmente em 14,75% ao ano — e o desequilíbrio fiscal. “Temos que encarar com responsabilidade a taxa de juros abusiva e o excesso de gastos públicos. Não há ambiente para investimentos com insegurança jurídica e imprevisibilidade econômica.”
Na pauta internacional, o presidente da CNI demonstrou preocupação com os impactos da nova guerra tarifária iniciada pelos Estados Unidos. Já em relação à China, defendeu um comércio mais equilibrado. “O estreitamento com a China precisa vir acompanhado do fortalecimento da nossa indústria manufatureira, responsável por disseminar tecnologia e gerar empregos qualificados.”
Inovação em pauta: R$ 319 milhões para mobilidade verde
Entre os anúncios do dia, o destaque foi o reforço no Programa Mover, parceria entre o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o SENAI e a Embrapii. Serão investidos R$ 319 milhões em projetos que envolvem eficiência energética, digitalização, capacitação e soluções de mobilidade de baixo carbono. Desse montante, mais de R$ 190 milhões serão aplicados pelo SENAI em iniciativas estruturantes.
A programação também contou com dois painéis estratégicos. O primeiro abordou os impactos e as oportunidades do Mover para a cadeia automotiva. Já o segundo discutiu o papel da política industrial brasileira diante das transformações globais, com a participação do vice-presidente Geraldo Alckmin. “Temos que ter obsessão por custo e produtividade. A China avançou porque produz mais barato”, declarou, defendendo ainda a reforma tributária e a transição verde como pilares do futuro industrial brasileiro.
Tecnologia e governança: a inteligência artificial no foco das atenções
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, também participou do evento com uma palestra magna sobre os desafios da regulamentação da inteligência artificial no Brasil. “A dificuldade está na velocidade das mudanças. O ChatGPT, por exemplo, alcançou 100 milhões de usuários em dois meses. Isso exige respostas ágeis e eficientes do legislador”, pontuou.
Barroso destacou a necessidade de um marco legal que garanta proteção aos direitos fundamentais, à democracia e à governança transparente, considerando o impacto transversal da IA na sociedade e na economia.
Sustentabilidade e COP30: protagonismo do setor produtivo
A CNI também lançou a Sustainable Business COP (SB COP), iniciativa que pretende estruturar a contribuição do setor empresarial às negociações climáticas internacionais, especialmente na COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém (PA). Alban saudou o novo marco do licenciamento ambiental como avanço para uma gestão mais eficiente e juridicamente segura no campo ambiental.
Reconhecimento a quem impulsiona a indústria
Encerrando a programação, a CNI entregou a Ordem do Mérito Industrial a empresários e personalidades que contribuíram significativamente para o fortalecimento da indústria brasileira.
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, resumiu o espírito da ocasião: “Perder o bonde da Revolução Industrial 5.0 é condenar o país à estagnação. Precisamos investir em pesquisa, desenvolvimento e capacitação para competir com igualdade no cenário global.”
A indústria brasileira se move — e cobra reformas, inovação e protagonismo à altura do seu papel na economia nacional.