Mercado de açúcar enfrenta tendências de curto e longo prazo distintas

Expectativas para a safra brasileira influenciam o mercado, enquanto players monitoram oferta e demanda

Mercado de açúcar enfrenta t

O mercado de açúcar segue em um cenário de forte volatilidade, impulsionado por questões de disponibilidade e macroeconômicas. A recente valorização do real frente ao dólar e as incertezas fiscais no Brasil continuam influenciando as decisões de exportação por parte do produtor brasileiro, afetando os preços internacionais. No entanto, estes tem voltado a responder mais fortemente a fatores fundamentalista, com tendências distintas para o curto e longo prazo.

No curto, a dinâmica da safra 24/25 da Índia e do Hemisfério Norte permanecem no radar dos investidores e produtores, dando suporte aos preços.

Já no médio-longo prazo, a expectativa de uma safra robusta no Centro-Sul brasileiro em 25/26 e a recuperação gradual da produção em outras regiões do mundo indicam um possível equilíbrio entre oferta e demanda no médio prazo.

Inflação e impactos no mercado global

De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação global deve cair de 4,2% para 3,5% em 2025, com uma convergência mais rápida para a meta nas economias avançadas. Com isso, os EUA e a União Europeia estão mais próximos de atingir seus objetivos do que o Brasil, a Índia e a China, que são diretamente relacionados ao setor.

A preocupação com a persistência da inflação nos EUA como antecipação da nova administração de Trump impulsionaram o dólar a novos patamares ao final de 2024. Como o Brasil é o principal fornecedor de açúcar, a desvalorização do real, frente ao cenário internacional e a deterioração da política fiscal brasileira, incentivou os produtores a venderem ao final de 2024, contribuindo para uma correção dos preços do adoçante.

A recuperação do real em janeiro limitou novas vendas, especialmente depois de o real recuar para menos de R$ 6. O Comitê de Política Monetária (COPOM) elevou a taxa Selic em sua última reunião e indicou que novos aumentos podem ocorrer em 2025. Esse movimento favorece a moeda brasileira, ao sugerir um maior diferencial de juros entre o Brasil e os EUA, o que pode atrair capital estrangeiro. No entanto, as questões fiscais não resolvidas ainda atuam como uma barreira para uma valorização mais consistente do real.

Como resultado, o patamar para o real permanece incerto, podendo atuar tanto do lado altista como baixista para o mercado de açúcar. Assim, não é uma surpresa que o adoçante tem respondido mais fortemente aos seus próprios fundamentos.


 Oferta e preços: Na busca do equilíbrio

Após quatro anos de déficit, o mercado de açúcar caminha sobre uma linha tênue entre oferta e demanda. O Brasil segue para um nível de maior disponibilidade de açúcar em 25/26, enquanto o Hemisfério Norte ainda enfrenta desafios na safra 24/25, com a 25/26 altamente dependente do clima futuro. Durante a entressafra brasileira, o mercado dependerá de fornecedores com custos mais elevados, dando suporte aos preços no curto prazo.

Já para o médio e longo prazo, a tendência é mais baixista para preços, em especial, para o açúcar bruto. O principal motivo para essa tendência é uma maior disponibilidade brasileira, que pode atingir o patamar de 34Mt de exportações. Além disso, a depender do clima durante o período de desenvolvimento das safras do Hemisfério Norte, poderemos ver uma continuidade da recuperação da região em 25/26.

As expectativas para a safra 2025/26

A umidade do solo na região Centro-Sul se recuperou, impulsionada pelo clima favorável entre novembro e janeiro. Em comparação com anos anteriores, o índice NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) indica uma recuperação da saúde da planta, aumentando sua capacidade de absorção da luz solar. Combinando esses fatores à temperatura média registrada, nossos modelos estatísticos sugerem uma produção de 630 milhões de toneladas de cana em 25/26. Com um mix de açúcar de 51%, nossas estimativas apontam uma produção potencial de 43.3 milhões de toneladas do adoçante.

Desde a pandemia da Covid-19, o etanol tem encontrado dificuldades para competir com o açúcar. Alterações na política fiscal seguidas pelo fim da PPI dificultaram qualquer reação de preços do biocombustível. Para período 24/25, estimamos um crescimento do ciclo Otto de 2,3% para o centro Sul e 5,8% para o NNE. Já para 25/26, dada a expectativa de desafios econômicos, o crescimento deve ser mais limitado, em torno e 2% em cada região. Ainda, para esta estimativa, consideramos a alteração da mistura de anidro de 27% para 30% em junho de 2025.

A partir da maior disponibilidade de matéria-prima, 630 Mt de cana-de-açúcar, combinada com a expansão esperada do etanol de milho, a expectativa é de que os estoques de biocombustível estejam em patamares bem confortáveis na próxima safra, considerando nossa estimativa de demanda.

Com relação a discussão das possíveis tarifas a serem impostas pelos EUA sobre o etanol brasileiro, espera-se que os efeitos sejam mais extensos para o mercado doméstico americano. Nos últimos cinco anos, o Brasil exportou 500 milhões de litros de etanol para os EUA e importou apenas 300 milhões de litros. Sem comércio, o excedente médio de 200 milhões de litros poderia aumentar a disponibilidade doméstica, desde que não seja redirecionado para outros países. Esse volume corresponde a menos de 1% da produção brasileira, tendo um baixo impacto esperado nos preços.

Perspectiva de oferta no cenário internacional

A Índia teve uma precipitação próxima da média durante o desenvolvimento da cana, o que sustenta a projeção de 30 milhões de toneladas. No entanto, se a safra for encerrada mais cedo, um déficit global pode surgir, dando ainda mais suporte aos preços. Além disso, vale destacar que o governo indiano aprovou uma cota de exportação de 1 milhão de toneladas.

Deste volume, 300 mil toneladas são estimadas como já exportadas. Como resultado da dependência do mercado internacional das principais origens do Hemisfério Norte durante a entressafra brasileira, se fez (e faz) necessário pagar os custos de produção mais elevados da região, o que tem sustentado os preços do adoçante.

Além disso, o menor estoque doméstico indiano tem dado suporte a sua paridade de exportação e, consequentemente, ao contrato de março. Para 25/26, o mercado discute uma recuperação do país, já que o clima foi mais positivo para o plantio e espera-se um aumento de área. Entretanto, a extensão da recuperação é contingente do clima durante seu período de desenvolvimento.

Na Tailândia, a área de cana se expandiu devido à maior rentabilidade em relação à mandioca. Com boas condições climáticas, a produção deve se recuperar para mais de 11 milhões de toneladas em 2024/25, ampliando sua participação nos fluxos globais.

A Europa deve produzir 16,5 milhões de toneladas de açúcar, considerando um desvio médio de produto para o etanol. O aumento da disponibilidade de açúcar na Ucrânia pode reduzir as importações do bloco europeu e impactar o plantio da próxima safra.

O México apresentou melhores condições para o desenvolvimento da cana-de-açúcar, mas a produção ainda deve ficar abaixo da capacidade. No entanto, espera-se uma maior disponibilidade para exportação. Prevê-se que os EUA terão maior disponibilidade doméstica, reduzindo sua dependência do comércio internacional, especialmente considerando os maiores estoques de 24/25.

Com a nova administração de Trump, a incerteza em relação às revisões tarifárias pode levar o país a buscar outras fontes de importação. Ainda, estudos apontam que mesmo com a imposição de tarifas, o México ainda deve ser o país com maior vantagem competitiva, sendo o principal efeito um aumento dos preços domésticos americanos.

Em termos de demanda, o maior importador, a China, tem apresentado ótimos resultados. Sua produção estimada para a safra 24/25 é de 11Mt, reduzindo sua necessidade de importação. Em tempo, a produção de açúcar na China já aumentou 28% até janeiro, chegando a 7,5 milhões de toneladas.

As importações já apresentam uma tendência de queda, em cerca de 36% para o açúcar. Quando consideramos a possibilidade de compras futuras, é importante observar sua arbitragem. A tendência de uma arbitragem praticamente fechada sugere níveis menores de importações para a temporada. O ritmo de importações, no entanto, pode tomar ritmo com a chegada da nova safra brasileira e uma possível correção nos preços.

Em uma análise mais global, vale levar em consideração que a produtividade da beterraba na Rússia caiu devido ao clima adverso e à área marginalmente menor, reduzindo a produção total de açúcar. No entanto, o Ministério da Agricultura planeja aumentar a área de 82,6 milhões para 83,7 milhões de hectares na próxima temporada. A produção de açúcar na Guatemala caiu 11%, quase 100 mil toneladas até o final de janeiro, mas espera-se um aumento marginal.


Balanço global

Considerando todos os países analisados para a construção de um cenário de disponibilidade, ficam claras duas tendências muito distintas de curto e longo prazo.

No curto, depende-se da disponibilidade do Hemisfério Norte, região que possui custos de produção mais altos e cujos principais países produtores permanecem aquém de sua capacidade. Assim, constrói-se uma tendência altista que da suporte ao contrato de março e ao de maio.

Espera-se que este segundo seja o mais altista após o vencimento de março ao final de fevereiro. A principal razão para isto é que com um início tardio esperado para a nova safra brasileira e resultados um pouco piores em suas quinzenas iniciais pelo clima adverso de 2024, a disponibilidade brasileira deve atingir o mercado internacional de forma mais lenta.

Assim, os demais contratos de 2025, julho e outubro, se tornam baixistas pela disponibilidade brasileira. A questão de qual será o mais baixista depende do clima durante o desenvolvimento da safra do Hemisfério Norte. Caso o período registre condições favoráveis, outubro se torna o contrato mais baixista ao combinar a maior disponibilidade brasileira com o início da precificação da recuperação do Hemisfério Norte, possivelmente afetando também o contrato de março 2026. Caso contrário, julho pode vir a se tornar o contrato mais baixista.

Notícias relacionadas
© Senado avança em PL que isenta canavieiro de pagar cultivares. Feplana estava na votação em Brasília

Senado avança em PL que isenta canavieiro de pagar cultivares. Feplana estava na votação em Brasília

© Preço do açúcar cristal cai no mercado paulista mesmo com entressafra

Preço do açúcar cristal cai no mercado paulista mesmo com entressafra

© Inteligência artificial se torna grande aliada no combate às plantas daninhas na produção brasileira de cana-de-açúcar

Inteligência artificial se torna grande aliada no combate às plantas daninhas na produção brasileira de cana-de-açúcar

© Governo de SP participa de evento de abertura de Safra de Cana, Açúcar e Etanol

Governo de SP participa de evento de abertura de Safra de Cana, Açúcar e Etanol

Comentários 0
Deixe seu comentário
or

For faster login or register use your social account.

Connect with Facebook