O avanço da inteligência artificial (IA) generativa vem acompanhado de preocupações crescentes sobre seu impacto ambiental, especialmente em relação ao consumo de energia. Estima-se que, sem a construção de novas hidrelétricas, a demanda por eletricidade da IA à noite e na madrugada poderá triplicar a geração a partir de fontes como petróleo, carvão, gás e urânio. O tema será um dos principais debates em uma cúpula internacional sobre a tecnologia que acontecerá neste mês em Paris.
O impacto ambiental da IA generativa em números:
1. Consumo dez vezes maior que o Google
Cada pesquisa feita no ChatGPT, um dos chatbots mais populares da OpenAI, consome cerca de 2,9 Wh de eletricidade, um gasto dez vezes maior do que uma pesquisa no Google, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA). Atualmente, a OpenAI estima que seu chatbot tenha 300 milhões de usuários semanais e recebe aproximadamente um bilhão de solicitações diárias.
2. 3% do consumo de eletricidade até 2030
Os data centers, essenciais para armazenar informações e garantir a capacidade computacional da IA, já respondem por 1,4% do consumo global de eletricidade, de acordo com a Deloitte. Com a crescente adoção da IA, este percentual pode chegar a 3% até 2030, o equivalente ao consumo anual somado da França e da Alemanha.
Além disso, a AIE prevê um aumento de mais de 75% na demanda energética dos data centers entre 2022 e 2026, impulsionada pela IA e pelas criptomoedas. Nesse ritmo, 40% dos centros de dados dedicados à IA podem não ter fornecimento de energia suficiente até 2027, conforme estudo da consultoria Gartner.
3. 300 toneladas de CO2
O treinamento de um grande modelo de linguagem de IA gera cerca de 300 toneladas de CO2, o equivalente a 125 voos de ida e volta entre Nova York e Pequim, segundo pesquisadores da Universidade de Massachusetts Amherst. Um estudo de Oxford apontou que o treinamento do GPT-3, usado no ChatGPT, produziu cerca de 224 toneladas de CO2.
Com o avanço da tecnologia, milhares de modelos precisam ser treinados, ampliando significativamente a pegada de carbono da IA. No entanto, especialistas apontam a dificuldade de mensurar com precisão as emissões devido à falta de transparência sobre os data centers e as condições de fabricação desses sistemas.
4. 6,6 bilhões de metros cúbicos de água até 2027
Os data centers utilizam sistemas de resfriamento que demandam grandes volumes de água. O GPT-3, por exemplo, consome cerca de meio litro de água para gerar entre 10 e 50 respostas, segundo estimativas de pesquisadores da Universidade da Califórnia Riverside e da Universidade do Texas Arlington. Até 2027, o consumo total de água para a IA pode chegar a 6,6 bilhões de metros cúbicos, equivalente ao consumo anual de um país como a Dinamarca.
5. 2.600 toneladas de lixo eletrônico
Em 2023, a IA gerou aproximadamente 2.600 toneladas de lixo eletrônico, incluindo placas gráficas, servidores e componentes de memória, conforme estudo publicado na revista Nature Computational Science. Caso a tendência se mantenha, a quantidade pode atingir 2,5 milhões de toneladas até 2030, o equivalente a 13,3 bilhões de smartphones descartados.
Além disso, a produção de chips e servidores depende da extração de metais raros, muitas vezes realizada por processos altamente poluentes. A Agência Francesa de Transição Ecológica alerta para os impactos ambientais dessa cadeia produtiva, que inclui mineração intensiva em regiões da África.
Sustentabilidade e desafios futuros
O crescimento acelerado da IA traz desafios críticos para a infraestrutura energética global. A necessidade de fontes de energia mais sustentáveis é cada vez mais evidente, especialmente em horários de pico. A menos que investimentos em energia renovável sejam ampliados, a demanda da IA poderá aumentar significativamente o uso de combustíveis fósseis, contrariando metas de descarbonização.
A discussão sobre esses desafios deve ganhar força na cúpula internacional sobre IA em Paris, onde especialistas e lideranças mundiais buscarão soluções para equilibrar o avanço tecnológico com a sustentabilidade ambiental.
Fonte: ENERCONS