A Lei do Combustível do Futuro, sancionada pelo Governo Federal, representa um marco para a indústria de energias renováveis no Brasil, estabelecendo novas perspectivas para o setor sucroenergético e, especialmente, para a produção de cana-de-açúcar. Com a previsão de atrair cerca de R$200 bilhões em investimentos, a legislação visa acelerar a transição para fontes de energia mais limpas, estabelecendo que a margem de mistura de etanol à gasolina passará a ser de 22% a 27%, podendo chegar a 35%. Atualmente, a mistura pode chegar a 27,5%, sendo, no mínimo, 18% de etanol.
Por isso, a produção de cana, principal matéria-prima para a fabricação de etanol, é vista como estratégica para o futuro energético do Brasil, com um foco redobrado na eficiência da produção. Para isso, as tecnologias que visam otimizar a produtividade, reduzir custos e garantir a sustentabilidade da produção agrícola ganham ainda mais relevância.
Fabio Perna, Diretor Comercial e de Serviços da divisão de Autonomy & Positioning da Hexagon, destaca que a adoção de tecnologias avançadas desempenha um papel fundamental para aumentar a produtividade e reduzir os custos no setor sucroenergético, sem a necessidade de expandir significativamente as áreas cultivadas. Algumas das soluções mais relevantes incluem ferramentas para planejamento agrícola, monitoramento em tempo real e otimização logística.
Planejamento estratégico de plantio
“Tudo começa por um bom planejamento”, afirma Perna, falando sobre ferramentas que auxiliam no planejamento agrícola. “A partir de dados georreferenciados e análises preditivas, existem sistemas que podem ajudar a organizar as operações de maneira eficiente. Elas permitem que produtores identifiquem as áreas de maior potencial produtivo, além de planejar as etapas de plantio, tratos e colheita de forma integrada.” Esse tipo de tecnologia contribui para maximizar o aproveitamento do solo e reduzir desperdícios, otimizando o uso de recursos como água, fertilizantes e combustível.
Além disso, elas são úteis para definir o melhor momento para a colheita da cana. “A cana-de-açúcar é uma espécie que tem comportamento cíclico de acordo com o clima. Em períodos mais secos, ela aumenta a concentração de açúcar para sobreviver. Este é o momento ideal para a colheita, porque o aproveitamento será maximizado”, explica.
Sistemas de planejamento apoiam nesse processo de decisão, determinando um plano de colheita de acordo com a necessidade de cada empresa, considerando produção estimada por área, curvas de maturação, distribuição geográfica, amostragens de campo, curvas de laboratório, previsões meteorológicas, estratégias de colheitas e até mesmo a demanda da indústria.
Monitoramento em tempo real e logística
Dispositivos embarcados em máquinas agrícolas oferecem um controle preciso das operações realizadas no campo, garantindo que atividades como plantio, pulverização e colheita sejam executadas com alta eficiência. Essas tecnologias utilizam sensores e dados georreferenciados para monitorar o desempenho das máquinas, identificar áreas que necessitam de ajustes e assegurar que os insumos sejam aplicados uniformemente. “O resultado é o aumento na produtividade e uma redução significativa nos custos operacionais”, afirma Perna.
O monitoramento permite que os tomadores de decisão acessem informações diversas, desde o preparo e trato de solo até a colheita, mas também garante uma função essencial no mercado atual: a rastreabilidade de todas as etapas do processo. “Ela é útil não somente para medir produtividade, mas também para haver transparência na produção da cana-de-açúcar”, complementa o profissional.
Além disso, um dos grandes desafios no setor de cana-de-açúcar, segundo o especialista, é a logística da colheita e do transporte da matéria-prima até as usinas. Tecnologias que integram sistemas de gestão dinâmica ajudam a otimizar o fluxo de transporte, ajustando rotas e alocando recursos em tempo real. Com o uso de algoritmos inteligentes de alocação dinâmica de transbordo, essas ferramentas garantem que a cana seja colhida e transportada no menor tempo possível, preservando a qualidade do produto e reduzindo custos com combustível e mão de obra, um desafio crescente no campo.
Para facilitar a utilização dessa combinação de tecnologias, Perna aponta que um diferencial é que elas estejam integradas em um só equipamento de bordo. “Vemos hoje pelo mercado máquinas agrícolas cheias de displays, um para cada solução. Isso complica para o operador da máquina, que tem a experiência diária no campo e precisa de agilidade.”
Agricultura de precisão
A agricultura de precisão tem apoiado o agronegócio ao oferecer um grande potencial de aumento de produtividade e eficiência no campo. Tecnologias como piloto automático e controle de fertilização automatizado permitem otimizar o uso de insumos, reduzir desperdícios e aumentar a qualidade das colheitas.
No entanto, desafios como a cintilação ionosférica, intensificada pelo atual ciclo de alta atividade solar, podem comprometer a precisão do posicionamento das máquinas agrícolas, afetando diretamente a eficiência das operações. “Esse fenômeno distorce as coordenadas recebidas pelo GNSS, impactando negativamente o desempenho das tecnologias de navegação e controle”, explica Perna.
Para mitigar esses efeitos, soluções de correção de sinal como o TerraStar, desenvolvido pela NovAtel, uma marca Hexagon, são essenciais. Integradas aos sistemas GNSS, elas oferecem uma precisão de até 2,5 centímetros, garantindo a confiabilidade necessária para operações agrícolas de alta precisão. “Combinando robustez e precisão, a correção de sinal é um componente indispensável para os avanços da agricultura de precisão e para sustentar os resultados consistentes esperados pelos produtores”, complementa.