São Paulo, 13 de agosto de 2024 – O Greenpeace Brasil investiu em um projeto de crédito que pretende destinar até R$ 10 milhões para agricultores familiares de base ecológica do Rio Grande do Sul que tiveram suas produções destruídas pelas enchentes. A iniciativa, idealizada pelo Grupo Gaia, concederá financiamento para três cooperativas do estado, que reúnem aproximadamente 1200 pequenos agricultores gaúchos de 125 cidades impactadas pelas chuvas ocorridas em maio. Os recursos arrecadados estão sendo destinados à compra de máquinas, adubos e sementes para os agricultores cooperados.
Diante de um contexto no qual milhares de famílias da zona rural perderam toda a sua produção, o objetivo do investimento do Greenpeace Brasil é apoiar a reconstrução e o fortalecimento da agricultura familiar de base ecológica no Rio Grande do Sul, destinando recursos para quem está na ponta e auxiliando na revitalização das produções severamente impactadas.
"Estamos destinando nossos recursos para financiar o futuro que acreditamos: agroecológico, organizado em cooperativas, solidário e justo, fazendo o dinheiro chegar onde queremos", comenta a diretora-executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali.
A ação do Grupo Gaia é realizada por meio de parceria com o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), do Instituto Cultural Padre Josino e da CGM Advogados. Além do Greenpeace Brasil, a iniciativa conta com apoio do Pacto Contra a Fome, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
"Queremos replicar esse modelo em possíveis novos eventos climáticos extremos, para seguir fazendo uso do mercado de capitais para gerar investimentos de impacto social positivo, que efetivamente cheguem na ponta, às pessoas que precisam de ajuda", explica o CEO do Grupo Gaia, João Pacífico.
Entenda como o dinheiro vai chegar a quem precisa
Por meio da oferta pública do grupo Gaia, empresas e organizações não governamentais optam por investir em CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) voltado ao Rio Grande do Sul. Os recursos investidos chegam às cooperativas selecionadas e são distribuídos na forma de produtos, assistência técnica e insumos variados entre as 1200 famílias selecionadas.
A iniciativa estrutura uma oferta pública de CRA no valor de R$ 10 milhões de reais. Esses recursos serão canalizados de forma simplificada através das cooperativas gaúchas CooperBio; Origem Camponesa e Coptil, que serão responsáveis, em parceria com o Instituto Padre Josimo, pelo mapeamento das necessidades de agricultores e agricultoras, pela aquisição e distribuição dos materiais e insumos necessários para a reconstrução e retomada das atividades.
Os agricultores terão dez anos para pagar o empréstimo, com uma taxa de juros de 3% ao ano e três anos de carência - ou seja, só começam a pagar no quarto ano. É uma condição que busca priorizar o impacto na ponta. Os investidores também receberão em dez anos, com 3% ao ano de juros, depois dos mesmos três anos de carência.
Instituições financeiras destinam recursos a desmatadores
O uso do mercado de capitais para ações de impacto social positivo vem como contraponto a um cenário, identificado pelo Greenpeace, no qual bancos estão financiando grandes produtores rurais envolvidos com crimes e irregularidades ambientais.
Em abril, o Greenpeace Brasil divulgou o relatório "Bancando a Extincão", que revelou financiamentos bancários a milhares de imóveis rurais sobrepostos a terras indígenas, com evidências de desmatamento ilegal e violações de direitos humanos. Todos na Amazônia, os casos foram identificados após uma investigação de quase um ano.
No início de junho, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou que oito bancos encerrem os financiamentos de crédito rural, antes do término previsto nos contratos, para imóveis rurais na Amazônia citados no estudo do Greenpeace por envolvimento com grilagem, desmatamento, criação de gado em áreas protegidas, violação de direitos humanos e outras irregularidades. A recomendação do MPF é dirigida aos seguintes bancos: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia, Banco de Lage Landen Brasil, Banco Sicredi, Bradesco, Itaú e Santander.