Da Redação
A alta recente do dólar e o aumento das incertezas econômicas fizeram o Banco Central (BC) interromper o corte de juros iniciado há quase um ano. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic, os juros básicos da economia, em 10,5% ao ano. A decisão era amplamente esperada pelos analistas financeiros.
A manutenção ocorre após o Copom reduzir a Selic por sete vezes consecutivas. Na última reunião, em maio, a velocidade dos cortes diminuiu. De agosto do ano passado até março deste ano, o Copom reduziu os juros básicos em 0,5 ponto percentual a cada reunião. Em maio, a taxa foi cortada em 0,25 ponto percentual.
Diferentemente da última reunião, que teve um placar dividido, a decisão ocorreu por unanimidade. Em comunicado, o Copom justificou a interrupção do ciclo de queda dos juros devido ao cenário global incerto e à alta da inflação doméstica. As expectativas “desancoradas” exigem maior cautela, segundo o Comitê.
Cenário Econômico e Inflação
O Copom destacou que, no cenário doméstico, os indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho mostram dinamismo maior do que o esperado. A inflação ao consumidor tem mostrado uma trajetória de desinflação, mas as medidas de inflação subjacente ainda estão acima da meta.
“A conjuntura atual está marcada por uma desinflação mais lenta do que o esperado, um cenário global desafiador e a desancoragem das expectativas de inflação pelo mercado financeiro. A situação demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”, ressaltou o comunicado.
A taxa Selic está no menor nível desde fevereiro de 2022, quando estava em 9,75% ao ano. De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas devido à alta dos preços de alimentos, energia e combustíveis. Por um ano, de agosto de 2022 a agosto de 2023, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano, quando então começou a ser reduzida.
Impactos da Selic na Economia
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em maio, o IPCA subiu para 0,46%, puxado principalmente pelos alimentos após as enchentes no Rio Grande do Sul. Com isso, o índice acumula alta de 3,93% em 12 meses, afastando-se do centro da meta de 2024.
Para 2024, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou uma meta de inflação de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. No último Relatório de Inflação, divulgado em março, o Banco Central projetou que o IPCA termine 2024 em 3,5%, antes da alta do dólar e das enchentes no Rio Grande do Sul. O próximo relatório será divulgado no fim de junho.
As previsões do mercado são mais pessimistas. Segundo o boletim Focus, a inflação oficial deverá fechar o ano em 3,96%, abaixo do teto da meta. Há um mês, as estimativas estavam em 3,8%.
Perspectivas para a Economia
A redução da taxa Selic ajuda a estimular a economia, pois juros mais baixos tornam o crédito mais barato, incentivando a produção e o consumo. Por outro lado, taxas mais baixas dificultam o controle da inflação. No último Relatório de Inflação, o Banco Central aumentou para 1,9% a projeção de crescimento para a economia em 2024. O mercado projeta um crescimento um pouco melhor, estimando uma expansão de 2,08% do PIB.
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas de juros da economia. Ao ajustá-la para cima, o Banco Central controla o excesso de demanda que pressiona os preços, enquanto a redução da Selic barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação.
Conclusão
A decisão do Banco Central de manter a Selic em 10,5% ao ano reflete a cautela necessária diante do cenário econômico atual, marcado por incertezas globais e uma desinflação mais lenta que o esperado. A política monetária continuará a ser ajustada conforme as condições econômicas evoluam, com o objetivo de assegurar a estabilidade dos preços e fomentar um crescimento econômico sustentável.
Foto: Marcello Casal Jr