Campo Grande, 05 de junho de 2024 - Com processo produtivo cada vez mais eficiente nas usinas de bioenergia, cerca de 12,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2eq.) deixaram de ir para a atmosfera a partir da produção de etanol em Mato Grosso do Sul nas últimas quatro safras da cana-de-açúcar. O saldo é contabilizado a partir dos 10,9 bilhões de litros de etanol, de 2020 a 2024, produzidos pelas unidades certificadas no RenovaBio - Programa Nacional de Biocombustíveis neste período.
Para se ter uma ideia, o volume representa a absorção feita por cerca de 89 milhões de árvores plantadas e mantidas de pé por 20 anos, o que seria representado por uma área equivalente a 1.584 campos de futebol.
Para o presidente da Biosul, Amaury Pekelman, o número reflete o ganho ambiental que o setor de bioenergia representa para o Estado e na agenda de transição energética do País. “A sustentabilidade do etanol não está apenas no consumo do biocombustível, que é 90% mais limpo que o concorrente fóssil, ela é do poço à roda (conceito que considera todo o ciclo de vida do combustível). E o RenovaBio é um programa que estimula ainda mais as usinas a tornarem o seu processo de produção cada vez mais eficiente, provocando inovação no setor que, consequentemente, eleva a sua nota no programa e gera mais Cbios (Créditos de Descarbonização). As usinas de Mato Grosso do Sul abraçaram o programa e hoje toda a sociedade se beneficia”, destaca o presidente. Pelo programa, cada crédito de descarbonização corresponde a 1 tonelada de CO2eq. evitada na atmosfera.
No primeiro ano do RenovaBio, em 2020, todas as usinas em operação no Estado passaram pelo processo de certificação executado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Após o terceiro ano, as unidades passaram pela renovação do título e todas elas permanecem certificadas pelo RenovaBio.
“A auditoria da agência reguladora faz a avaliação da quantidade de carbono emitida em cada fase de produção do etanol, da área agrícola até a frota de veículos utilizada por cada unidade, atestando todas as práticas sustentáveis aplicadas na produção do etanol no nosso Estado”, explica Pekelman. Entre os requisitos do RenovaBio, está a proibição do uso de áreas de desmatamento ou de supressão de vegetação nativa.
As perspectivas é que o saldo de emissões evitadas seja ainda maior nos próximos anos com a complementariedade do etanol produzido a partir do milho. “A sustentabilidade está no DNA do setor bioenergético que passou por transformações e há alguns anos atua totalmente alinhado à visão de governo em tornar Mato Grosso do Sul um estado carbono neutro e às políticas públicas federais, a exemplo do Combustível do Futuro, Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten), Programa de Mobilidade Verde (Mover) e Mobilidade de Baixo Carbono (MCB Brasil), além de contribuir para que o Brasil alcance as metas de redução de emissões assumidas na COP-21 e avance na transição energética”, avalia o presidente da Biosul.
Créditos de Descarbonização (Cbio)
O RenovaBio é um programa brasileiro, considerado um dos maiores projetos de descarbonização do mundo. Ele tem como estratégia incentivar a produção e uso dos combustíveis verdes em substituição dos fósseis, como forma de reduzir a emissão dos gases causadores do efeito estufa (GEE).
Na prática, o programa reconhece o valor dos biocombustíveis como promotores de sustentabilidade ambiental, monetiza esse valor através dos Créditos de Descarbonização, o Cbio, e faz com que distribuidoras de combustíveis fósseis compensem o índice de poluição dos seus produtos por meio da aquisição obrigatória desses créditos.
A partir da auditoria nos processos de produção, cada usina recebe uma nota de eficiência energético-ambiental, que é multiplicada pela quantidade de etanol produzido e resulta na quantidade de Cbios gerados para comercialização no mercado financeiro.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, todas as unidades certificadas no Brasil emitiram o total de 31,1 milhões Cbios em 2023. A participação de Mato Grosso do Sul corresponde a 11% desse total, com 3.491.428 CBIOs gerados no último ciclo
Sustentabilidade está no DNA do setor
A produção de cana-de-açúcar está presente em Mato Grosso do Sul desde meados dos anos 70, ou seja, há mais de 45 anos a cultura da cana faz parte da economia sul-mato-grossense e fez do Estado um produtor de energia limpa e renovável.
Os ciclos de crescimento do setor bioenergético acompanharam o próprio crescimento do Estado, que com uma boa oferta de áreas subutilizadas o tornou um dos grandes produtores de bioenergia do país, ocupando posição de destaque no ranking de produção nacional de açúcar, etanol e bioeletricidade a partir da cana, e mais recentemente, se tornando o segundo maior produtor de etanol a partir do milho do Brasil.
No último ciclo 2023/2024, que se encerrou no dia 31 de março, o processamento da cana bateu recorde histórico, atingindo 52,4 milhões de toneladas. Essa recuperação no processamento da matéria-prima refletiu também na oferta de produtos, que bateu recorde na produção de açúcar e etanol, incluindo o incremento do biocombustível produzido a partir do milho.
Ao todo, 42 municípios são impactados de forma positiva pelo setor bioenergético em Mato Grosso do Sul. As usinas estão presentes nas comunidades e na vida das pessoas que vivem em torno das unidades. No Radar Industrial (Fiems), o setor se destaca entre os que mais geram empregos no campo e na indústria, oferta as melhores médias salariais e contribui para o desenvolvimento das pessoas através de capacitação da mão-de-obra e programas inovadores de inclusão de Pessoa com Deficiência, mulheres e diversidade.
“Hoje, em sua terceira fase de expansão podemos dizer que o setor bioenergético se consolidou no Estado como um dos principais segmentos agroindustriais não apenas em termos de produção, mas também como um importante pilar de práticas sustentáveis que alia produção e preservação, além dos aspectos sociais e econômicos com a geração de empregos formais, capacitação de mão-de-obra e desenvolvimento econômico nos municípios e região onde as usinas estão instaladas”, destaca Pekelman.
“Do campo à indústria, temos exemplos de mudanças que impactaram principalmente na preservação dos recursos naturais, na melhoria da produtividade dos canaviais, no reaproveitamento dos resíduos industriais, que agora são subprodutos, além da compensação do dióxido de carbono emitido ao longo da produção, que é absorvido pela cana-de-açúcar que está no campo”, complementa.
Novos investimentos e novos produtos
O perfil de produção de bioenergia no Estado conta com 19 unidades em operação. Todas são produtoras de etanol hidratado, 11 produtoras de anidro, 2 produtoras de etanol a partir do milho, 10 produtoras de açúcar. Todas cogeram bioeletricidade, energia elétrica gerada a partir da biomassa da cana, sendo 13 usinas exportadoras do excedente para a rede nacional de energia elétrica, que chega a milhares de residências pelo Brasil.
Em 2022, o Estado deu início a produção de etanol de milho que trouxe um incremento de 25% na produção do biocombustível na última safra, até então produzido a partir da cana-de-açúcar. Esse potencial deve aumentar neste novo ciclo com o início das operações da unidade Neomille, do Grupo CerradinhoBio, em Maracaju (MS), e da segunda unidade da Inpasa, em Sidrolândia (MS), em fase de instalação.
Outros dois projetos voltados para a cana-de-açúcar também avançam no Estado. Em Paranaíba, a Usina Cedro, do Grupo Pedra Agroindustrial, deve entrar em operação ainda em 2024. Recentemente, foi anunciado também investimento do Grupo Agroterenas para reativação da antiga Usina Aurora, em Anaurilândia.
São R$ 5,3 bilhões em investimentos de novas plantas e ampliações anunciados pelo setor bioenergético para Mato Grosso do Sul, segundo o presidente da entidade. “São investimentos que serão transformados em novas oportunidades de empregos e desenvolvimento econômico para as pessoas que vivem aqui”, destaca.
Produzidos a partir da vinhaça da cana-de-açúcar, o biogás e o biometano já são novos produtos do portfólio bioenergético de Mato Grosso do Sul. O primeiro projeto foi desenvolvido pela Adecoagro, em Ivinhema (MS), a primeira usina a realizar uma transação financeira de biogás produzido a partir da cana no Brasil. No último ano, o projeto avançou e deu início ao abastecimento de parte da frota de caminhões canavieiros da unidade, substituindo diesel por biometano.
Etanol de 2ª geração também já é uma realidade. O novo produto faz parte do investimento anunciado pela Raízen, na unidade Caarapó (MS). O biocombustível é obtido através da fermentação controlada e da destilação de resíduos vegetais, especialmente de resíduos da produção de etanol e açúcar.
“O setor vive um importante momento de verticalização da sua produção, onde resíduos se tornam subprodutos e dão origem a novos biocombustíveis, a exemplo do biogás, biometano e etanol de segunda geração. Importante destacar que essa ampliação do portfólio se dá sem exigir aumento de área para cultivo da cana”, conclui o presidente da Biosul.
Eliane dos Santos Biosul