Associação de Pequenas Hidrelétricas é contrária ao PL que prevê alterar a taxação do setor elétrico

Projeto de Lei, proposto no Senado, deverá aumentar os custos ao consumidor final na tarifa de luz e impactar negativamente na distribuição de recurs

Associação de Pequenas Hidre

A Associação Brasileira de PCHs e CGHs (Abrapch) se manifestou contrária ao PL 2.918/2021, de autoria do Senador Luis Carlos Heinze, que pretende alterar a forma de cálculo da Compensação Financeira pela Utilização do Recurso Hídrico (CFURH). A associação entende que isso vai onerar excessivamente as pequenas usinas, que além de pagar duplamente a CFURH, terão que bancar um novo encargo que será criado. O resultado desta oneração excessiva, acabará sendo repassado ao consumidor final, que pagará uma tarifa de energia mensal mais cara.

A Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado Federal realizou uma audiência pública para discutir o PL, na última terça-feira (9). Muito antes disso, ainda no ano passado, o Fórum de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Setor Elétrico (FMASE) - que congrega 16 entidades de classe de âmbito nacional dos segmentos de geração, transmissão, distribuição, comercialização e consumo de energia elétrica, incluindo a Abrapch - já havia encaminhado ao senador uma carta explicando suas razões para discordar do PL, que pede a alteração das Leis nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989; Lei nº 9.648, de 27 de maio de 1998; e Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990.

Entre as propostas do PL está a mudança na forma de cálculo do CFURH. Hoje, a taxação é de 7% em cima da energia elétrica produzida (MWh) em cada usina. O PL pretende trazer a taxação para cima da receita operacional bruta da atividade de geração de energia elétrica (R$/MWh). Segundo Verônica Sánchez da Cruz Rios, diretora-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), a mudança vai onerar o setor elétrico em cerca de R$1,7 bilhão.

No entanto, conforme a Abrapch, isso não leva em conta o aumento de custos que as empresas geradoras de energia tiveram como resultado da última crise hídrica de 2020/2021. "O consumidor final passou pelo menos 17 meses seguidos em bandeira tarifária vermelha ou de escassez hídrica. Ainda assim, as bandeiras tarifárias não foram suficientes para cobrir o custo adicional gerado pela crise. O déficit ainda gira em torno de R$8 bilhões ao Sistema Elétrico Brasileiro (SEB)", informa a presidente da Abrapch, Alessandra Torres de Carvalho.

O PL ainda quer alterar a distribuição desta taxa. Veja como é feita hoje a compensação pela utilização dos recursos hídricos:


No gráfico acima, entenda-se: FNDTC (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), MDR (Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional), MME (Ministério de Minas e Energia) e ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico).

O PL propõe mudanças na distribuição aos entes federados (estados e municípios), que hoje podem usar o valor para qualquer melhoria e benefício à população. Ou seja, não é um recurso “engessado”. Via de regra, a gestão pública só não pode usar o dinheiro para folha de pagamento ou quitação de dívidas (Lei 7.990/1989).

Os valores do CFURH somam enormemente no orçamento de algumas cidades onde as usinas hidrelétricas estão instaladas. Um exemplo é Altamira (PA), onde cerca de 14% do orçamento municipal provém dos royalties da Usina Belo Monte. Outro exemplo a ser citado é da empresa Engie que, em 2020, ainda sob os impactos da crise hídrica, pagou R$87,5 milhões em royalties, beneficiando mais de 70 cidades nas quais mantém operações.

O PL ainda prevê que a porcentagem federal não seja mais distribuída entre os ministérios envolvidos, e sim que entre de forma “global” à União. No entender da Abrapch, isso vai prejudicar a execução de políticas ambientais nacionais executadas por cada um destes ministérios e que dependem dos valores hoje distribuídos pelo CFURH para acontecerem. As pesquisas científicas, que impulsionam o desenvolvimento da economia, podem ser interrompidas. Ou seja, há um risco grande de desvio de finalidade do recurso destinado à Política Nacional de Recursos Hídricos.

Sem contar que o PL ainda prevê excluir a contribuição de 0,75% do CFURH, que hoje é destinada à ANA e que depende integralmente deste orçamento para funcionar. Como o Brasil tem 41.642,27 km² alagados pelos reservatórios, a CFURH arrecadada pela ANA em 2023 chegou a mais de R$ 2,2 bilhões. Para manter as atividades da agência reguladora, o PL pretende criar uma nova contribuição. E isso vai fazer com que as usinas hidrelétricas paguem o triplo das contribuições que pagam hoje.

“Isso é mais que injusto, porque ao criar outro encargo, os empreendedores vão ter que jogar o preço para a tarifa. E isso vai refletir no bolso do consumidor final. Então somos contra o PL porque, da forma como está sendo proposto, as hidrelétricas saem no prejuízo de uma forma ou de outra”, alerta Alessandra Torres.

Diante disso, a Abrapch, junto ao Fórum de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Setor Elétrico, pede a retirada do PL da pauta para um aprofundamento nos debates. "Deixamos claro que não somos contrários a correção de distorções que a base de cálculo atual do CFURH possa estar trazendo. No entanto, pede-se que a matéria seja mais debatida com toda a sociedade e esteja amadurecida antes de sua tramitação", explica a presidente da entidade.


Notícias relacionadas
© Governo faz propaganda da transição energética na COP 29, enquanto aumenta imposto para frear crescimento da energia solar

Governo faz propaganda da transição energética na COP 29, enquanto aumenta imposto para frear crescimento da energia solar

© Indra Energia proporcionou cerca de R$40 milhões de economia para postos de combustíveis

Indra Energia proporcionou cerca de R$40 milhões de economia para postos de combustíveis

© Mato Grosso do Sul supera 1,3 gigawatt de potência na geração própria solar

Mato Grosso do Sul supera 1,3 gigawatt de potência na geração própria solar

© CorSolar amplia presença no mercado mineiro de energia solar e reúne empreendedores para série de treinamentos e debates sobre o futuro do setor

CorSolar amplia presença no mercado mineiro de energia solar e reúne empreendedores para série de treinamentos e debates sobre o futuro do setor

Comentários 0
Deixe seu comentário
or

For faster login or register use your social account.

Connect with Facebook