A certificadora brasileira de créditos de carbono Tero Carbon lançou uma metodologia inédita para verificação de créditos de carbono gerados a partir de uma cultura do agronegócio. Trata-se da TERO܂004 – Estoque de Carbono em Sistema Agrossilvipastoril, que, nesta primeira versão, é voltada para o cultivo de café. A intenção é atestar os projetos que promovam remoção, conservação e preservação dos estoques de CO2, por meio de culturas agrícolas.
O CEO da Tero Carbon, Francisco Higuchi, doutor em Ecologia e Manejo de Florestas Tropicais (UFPR/INPA/ FFPRI Japão) e que possui mais de 15 anos de experiência em projetos de estimativa de carbono, explica que a TERO܂004 é a primeira metodologia que quantifica a contribuição do agronegócio ao equilíbrio climático através dos cultivos. “Toda planta pratica fotossíntese, que se resume na absorção de carbono para produção de biomassa, liberando oxigênio para a atmosfera como resultado da operação. Por isso, em maior ou menor escala, todas as propriedades agrícolas realizam algum estoque, sequestro ou remoção de carbono por meio dos plantios e pastagens”, ressalta.
Higuchi esclarece que já existiam metodologias que quantificavam os créditos de carbono no agronegócio a partir da adoção de práticas sustentáveis, levando-se em consideração a redução das emissões no processo produtivo. Porém, quem já adotava práticas sustentáveis historicamente não podia pleitear a certificação de créditos de carbono, pois não há variação ou mudança em relação ao nível das emissões. Agora, com a TERO܂004, abre-se a possibilidade para que mais produtores rurais se beneficiem com a geração desses ativos ambientais. “Reconhecer os créditos de carbono gerados pelos cultivos cria oportunidades para que os agricultores tenham uma renda extra e, também, uma menor dependência a fontes de fomento. É um incentivo para que se mantenham no agronegócio, garantindo a segurança alimentar da sociedade”, ressalta Higuchi.
Embora a primeira versão da TERO܂004 seja voltada para a cultura de café, em breve devem ser lançadas versões que incluam cultivos de cacau e de mexerica ponkan. Também devem ser desenvolvidos métodos relacionados à soja, abacate, limão, laranja e cupuaçu. “Um cultivo agrícola pode possuir estoque de carbono inferior à vegetação nativa. Entretanto, os aspectos socioeconômicos atrelados ao projeto agregam valor aos ativos”, argumenta Higuchi.
Créditos de carbono de qualidade
A TERO܂004 leva em consideração não apenas as questões ambientais, mas também aspectos como a geração de empregos e o apoio à comunidade no entorno do projeto. Segundo Higuchi, essa metodologia tem uma abordagem diferenciada. “Nós olhamos para o impacto socioeconômico combinado com a contribuição para o equilíbrio ambiental. O mercado de carbono é reputacional. As empresas querem adquirir créditos de carbono de projetos os quais se orgulham em apoiar”, acrescenta o CEO da empresa. Por esse motivo, ele reforça que os projetos certificados pela TERO܂004 devem conter processos sustentáveis, incluindo questões de governança (como a situação fundiária regular) e o respeito às legislações ambiental, trabalhista, do uso da terra, etc.
Além disso, as metodologias Tero Carbon são desenvolvidas de forma que a geração de créditos de carbono seja facilmente verificada, o que garante a qualidade dos ativos. A empresa possui uma plataforma que adota uma série de dispositivos de segurança, alguns comumente utilizados pelo sistema bancário, para evitar problemas como o da dupla contagem dos créditos de carbono.
O registro e rastreio do ativo ambiental é feito por meio de NFTs (em inglês, Non-Fungible Tokens), que são disponibilizados na plataforma OpenSea, local onde os interessados podem encontrar as principais informações públicas relacionadas aos projetos certificados e suas transações. A Tero Carbon ainda utiliza a rede pública Blockchain Polygon, para conferir transparência, rastreabilidade e integridade aos ativos gerados.
Outro diferencial é que a empresa mantém relação de proximidade com diversas instituições de pesquisa e ensino. No caso da TERO.004, a metodologia está baseada nos estudos desenvolvidos para a tese de doutorado do agrônomo Diego Rezende, na Universidade Federal de Goiás (UFG). Também foi utilizado um trabalho científico realizado pelo Laboratório de Manejo Florestal do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), para mensuração dos estoques de CO2 nos cultivos de café. Foram pesados frutos, flores, raízes, folhas e sementes da cultura, com o objetivo de ajustar a equação de estimativa de carbono, com uma margem de incerteza conhecida e que representa a diversidade da população amostral.
A empresa ainda contou com as contribuições de pesquisadores e instituições como Emater-MG, Universidade Federal de Uberlândia, Centro Universitário Unifucamp e Instituto Federal do Mato Grosso. Mais um aspecto é que todas as metodologias da Tero Carbon passam por audiência pública, como forma de garantir a participação de todos os atores envolvidos no processo.
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