São Paulo, 11 de julho de 2024 - O fenômeno El Niño tem tido um impacto devastador no Rio Grande do Sul em 2024, causando chuvas intensas e inundações que resultaram em uma catástrofe sem precedentes na região. Mais de 2.3 milhões de pessoas foram afetadas e milhares ficaram desabrigadas, atingindo 475 municípios do estado (95% de todo RS). As inundações também causaram interrupções importantes nos serviços de energia elétrica e água potável, além de destruir estradas, pontes e outras infraestruturas críticas.
O impacto da tragédia que assola o Rio Grande do Sul já marcou 2024 com desafios significativos para o cenário agrícola brasileiro. Estima-se que mais de 851 mil toneladas de grãos, especialmente arroz, deixarão de ser produzidos nos próximos meses para abastecimento do país.
Mas as incertezas não param por aí, principalmente devido à iminente transição do fenômeno El Niño para La Niña, prevista para o segundo semestre. Essa mudança climática trará diversos impactos regionais, afetando a produção agrícola e, consequentemente, as exportações de grãos de outras áreas como o Centro-Oeste, Sudeste e Matopiba (acrônimo que denomina a região que se estende por territórios de quatro estados do Brasil: Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Segundo dados da NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos, na sigla em inglês), principal referência internacional de monitoramento dos fenômenos climáticos, há 75% de chances de os efeitos da La Niña estarem ativos no Brasil durante a safra 2024/2025.
André Lins, vice-presidente de Agro da Alper Seguros, destaca que, além do cenário que o Brasil vive hoje, com efeitos na produção e abastecimento a partir da região Sul, a previsão é de que as novas mudanças com o La Niña incluam aumento nas chuvas, alterações nas temperaturas, potencialmente maiores incidências de fenômenos climáticos extremos, influindo diretamente a produtividade das culturas, a viabilidade do plantio e a saúde dos rebanhos. “O Brasil é o terceiro maior exportador mundial de produtos agropecuários, e estima-se que, mesmo com a redução na produção prevista para 2024, o país mantenha-se na posição. Porém é natural que crie incertezas e traga riscos financeiros para os agricultores, uma vez que tais perdas têm implicações não apenas a nível doméstico, mas também no mercado externo”.
Para além das condições climáticas, Lins aponta que uma maior paridade do real e dólar pode desestimular as exportações de grãos, concentrando sua comercialização no mercado interno. “Diante desse cenário desafiador, a adoção de medidas preventivas e o investimento em seguros são cruciais para a resiliência do setor agrícola e a minimização dos impactos em cadeias produtivas interligadas. O seguro rural é essencial para garantir a continuidade e a estabilidade da produção agrícola no Brasil, protegendo os agricultores de riscos diversos e fortalecendo a posição do país como um dos maiores exportadores de grãos do mundo”, arremata.
Especialistas da Alper Seguros fazem as seguintes previsões de impacto da La Niña nas commodities:
Milho Verão: regiões do Centro-Oeste e Sul do Brasil, que são importantes áreas produtoras de milho, podem experimentar condições de seca devido ao La Niña. Isso pode levar a uma redução nos rendimentos de milho devido à falta de umidade durante o período de crescimento relevante.
Soja: o fenômeno pode resultar em chuvas abaixo da média em algumas partes do Brasil, afetando negativamente o desenvolvimento da soja. Isso pode levar a rendimentos mais baixos e atrasos no plantio e na colheita em algumas áreas.
Cana-de-açúcar: em certas regiões do Brasil, o La Niña pode trazer condições de clima mais seco, o que pode ser benéfico para a produção de cana-de-açúcar. Mesmo o clima seco sendo favorável para a cultura, em um caso de seca mais severa a perda será significativa.
Arroz: com sua produção já impactada pelos efeitos do El Niño, especialmente na Região Sul, o La Niña pode causar mais chuvas intensas nas regiões produtoras no Brasil, afetando ainda mais os rendimentos.
Feijão: especialmente em regiões que dependem das chuvas para irrigação. Se o La Niña resultar em chuvas abaixo da média, isso pode levar a uma redução nos rendimentos de feijão devido à falta de umidade no solo.
Algodão: as condições de seca associadas ao La Niña podem prejudicar a produção de algodão em algumas regiões do Brasil, especialmente no Nordeste. A falta de umidade durante o período de crescimento pode resultar em rendimentos mais baixos e menor qualidade das fibras de algodão.
Hortaliças e Frutas: o La Niña pode afetar a produção de hortaliças e frutas em diferentes partes do Brasil, dependendo das condições climáticas locais. Chuvas abaixo da média podem resultar em menor rendimento e qualidade de produtos como tomate, melancia e banana.
Café: em regiões produtoras de café no Brasil, o La Niña pode levar a condições climáticas mais secas, o que pode afetar o desenvolvimento das plantas de café. Isso pode resultar em rendimentos mais baixos e menor qualidade dos grãos de café.