As empresas do agronegócio, cuja produção vem sendo impactada continuamente pelos eventos climáticos intensos, estão buscando, cada vez mais, usar tecnologias de monitoramento do clima para planejar o plantio e a colheita de suas safras. Essa demanda é detectada pela Climatempo, a maior e mais reconhecida empresa de consultoria meteorológica e previsão do tempo do Brasil e da América Latina, que vem fornecendo ao setor serviços de previsão do tempo e de mudanças climatológicas, com boletins diários e alertas para eventos extremos. Atualmente, mais de 350 produtores estão conectados à plataforma da Climatempo e utilizando as previsões e análises da fornecidas para a tomada de decisões.
“A maioria dos produtores rurais demanda previsões de curto e médio prazo, a fim de definir quando começar a plantar e realizar a colheita”, afirma Nadiara Pereira, meteorologista da Climatempo. “Já os fornecedores de insumos, de máquinas e implementos buscam previsões de maior alcance, para planejarem a produção e terem estoque para vender no momento oportuno.”
Nadiara explica que a demanda por serviços meteorológicos tem crescido nos últimos anos devido ao aumento da incidência de eventos climáticos extremos registrados. “Os produtores buscam informações meteorológicas mais precisas, especialmente os das regiões mais centrais do Brasil, como os estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e os da região conhecida como Matopiba”, salienta Nadiara.
Ano de El Niño e o impacto na safra 2023/2024
O ano de 2023, caracterizado pelo fenômeno do El Niño, foi globalmente o ano mais quente já registrado e um dos períodos de maior número de registros de eventos climáticos extremos, com chuvas acima da média na região Sul do País, estiagem severa no Centro-Oeste e no Norte e atraso no período de chuvas, afetando diretamente o plantio de diversas culturas no início da primavera.
“O impacto do El Nino na produção da safra a ser colhida este ano será inevitável. A Conab já prevê queda no volume de várias culturas, mas os produtores estimam que ela poderá ser ainda maior, fazendo com que esta seja semelhante à safra de 2015/2016, que também sofreu o efeito do mais forte El Niño registrado até então”, observa a meteorologista da Climatempo. O agravante, acrescenta, é que as ondas de calor agora têm sido muito mais fortes, como se viu em novembro passado, um mês muito atípico em termos climáticos. “A tendência é de que as perdas na safra 2023/204, em regiões como o Matopiba, por exemplo, sejam ainda maiores do que foi registrado em 2015/2016, quando 36% da produção foi perdida”, alerta Nadiara Pereira.
Já no Sul do País, o excesso de chuva é que vem atrapalhando a produção agrícola. De acordo com a meteorologista, todos os cultivos estão enfrentando problemas, desde os mais resistentes. Hortaliças, arroz, soja, milho e tabaco, por exemplo, têm sofrido com a abundância de água e a ausência de maior luminosidade do Sol.
“Após três anos de seca e estiagem, o Rio Grande do Sul sofre com muita chuva. Era algo esperado por ser um ano de El Niño, já que o estado situa-se em uma zona de convergência de eventos climáticos extremos, tornando os produtores mais vulneráveis”, ressalta Nadiara.
Outro ponto de atenção nesse atual ciclo do El Niño é a região sudoeste do Paraná, que vem sendo castigada por chuvas. Grande produtor de soja, o Estado, assim como São Paulo e o Mato Grosso do Sul, está em uma área de transição climática, normalmente menos afetada por extremos do clima, mas que foi muito impactada pelas ondas de calor”, acrescenta a meteorologista da Climatempo.
Nesse cenário, muitos produtores estão avaliando o nível de risco do plantio de certas culturas para a safra 2023/2024, e alguns estão inclusive apostando em culturas mais resistentes aos extremos climáticos, como o algodão. “Em MT e RO, além do algodão, os produtores estão cultivando o gergelim, que é mais resistente e capta melhor a umidade”, explica Nadiara.
Colheita
Ainda de acordo com previsões da Climatempo, o período de colheita da atual safra será turbulento. O Rio Grande do Sul vai enfrentar umidade excessiva durante a colheita. Já no Matopiba, a chuva não ocorreu durante o plantio, mas virá justamente na colheita.
“A chuva atrasou e deve vai chover demais na hora de colher, assim como aconteceu na safra de 2015/2016”, antecipa a especialista da Climatempo, ao destacar que o excesso de umidade pode causar problemas de contaminação de doenças ou pragas. Isso deve acontecer entre janeiro e fevereiro de 2024, na faixa leste do Brasil, que engloba desde São Paulo, passando por Minas Gerais até a Bahia. “As previsões estendidas indicam uma mudança de padrão, aumentando a chuva na faixa leste, o que vai causar impacto no momento da colheita”, conclui Nadiara Pereira.