Por: Fábio de Salles Meirelles
Neste ano de pandemia, seca, crise energética, frio intenso, geadas e tensões políticas, o Dia da Agricultura, 17 de outubro, foi comemorado com especial ênfase, pois os homens e mulheres do meio rural superaram todas as adversidades, numa demonstração de resiliência e força. Seu trabalho e atitude estão expressos no 12º e mais recente Levantamento da Safra 2020/2021 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Em meio à difícil conjuntura, ainda colheremos 252,3 milhões de toneladas de grãos, apenas 1,8% a menos do que na temporada anterior, redução causada principalmente por perdas nas lavouras de milho e feijão. Porém, a soja, com crescimento de 8,9%, teve o volume recorde de 135,91 milhões de toneladas e o arroz, com 11,75 milhões, registrou aumento de 5,3%.
Além disso, conforme dados de setembro do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), o PIB do agronegócio segue em forte ritmo de crescimento, com alta de 9,81% no primeiro semestre. Com isso, sua participação no PIB brasileiro deverá manter-se em 30%. São Paulo tem expressiva influência nesses resultados, pois seu agronegócio representa 20% do PIB nacional do setor, segundo a mesma fonte.
A agricultura brasileira desde sua origem, com o ciclo da cana-de-açúcar, desencadeado no Nordeste, no Século 16, jamais parou de crescer. Cabe destacar que uma de suas fases mais significativas foi o desenvolvimento da cafeicultura, que representou um período econômico relevante, com forte base em São Paulo, a partir de meados do Século 19. Seu ciclo deixou marcas profundas, com efeitos presentes até hoje, considerando que foi naquela época que o Estado conquistou a condição de maior economia do País. O café impulsionou investimentos, a industrialização, a construção de ferrovias e até mesmo o desenvolvimento urbano. Hoje, o agro paulista e brasileiro consolida-se como um dos mais avançados do mundo, com produção diversificada, crescente aporte tecnológico, produtor e exportador de alimentos e commodities, principal pilar do comércio exterior e protagonista global.
O setor tem feito tudo isso com base nos mais contemporâneos conceitos de sustentabilidade, a começar pelos ganhos de produtividade. Nos últimos 40 anos, a área plantada aumentou 33%, mas a produção agrícola nacional registrou crescimento de 386%. Isso significa que o Brasil produziu muito mais, ampliando em proporção bem menor as terras ocupadas pelas culturas.
Ademais, segundo pesquisa da Embrapa Territorial, a área destinada à preservação da vegetação nativa e mananciais nos imóveis registrados e mapeados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) equivale a 25,6% do território brasileiro. Com isso, são protegidos no interior das propriedades 2.180.096 quilômetros quadrados. Se fosse um país, essa área preservada pelos produtores rurais seria o 12º segundo maior do mundo, atrás apenas do próprio Brasil, Rússia, Canadá, Estados Unidos, China, Austrália, Índia, Argentina, Cazaquistão, Argélia e República Democrática do Congo.
Esta nação rural, com muita força e determinação, transformou o Dia da Agricultura numa data de luta, trabalho e mobilização cívica em favor da economia, do desenvolvimento e de um Brasil melhor e mais justo. São cinco séculos de uma história escrita no ventre da terra!
*Fábio de Salles Meirelles é presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp)