Qual é o potencial do mercado brasileiro de carbono?

Gestoras globais estimam algo em torno de 1,5 bilhão de créditos de carbono ao ano, algo que pode ser alavancado pela cobrança de ações para mitigar as mudanças climáticas

Por: Luis Felipe Adaime

A mídia internacional tem dado maior destaque para o tema da sustentabilidade, e parece que falar em ESG e “produtos carbono zero” tornou-se uma “modinha”. Mas é um movimento estrutural, que veio para ficar. Tanto pelas razões de sentirmos na pele o castigo climático de nossas irresponsabilidades ambientais do passado, como também pela emergência dos millennials – pessoas de 20 a 40 anos -, que se tornaram o grupo demográfico mais numeroso do mundo. Esse grupo hoje em dia representa 30% da população global, 50% da força de trabalho, e em 5 anos será 70% da força de trabalho do mundo.

Essa parte expressiva do público consumidor faz cobranças para que empresas que fornecem seus produtos e serviços mitiguem seu impacto ambiental ou reduzam suas emissões de gás de efeito estufa. O produto gerado pelo agronegócio brasileiro é global e, cada vez mais, a entrada nos diferentes mercados importadores está atrelada ao cumprimento de requisitos ambientais. As maiores indústrias de alimentos do Brasil e mesmo os pequenos produtores estão atentos a esse movimento e às discussões que se desenrolam desde que o Protocolo de Kyoto e, agora mais recentemente, com o Acordo de Paris. 

Em relação a esse último, você já deve ter lido algo sobre o artigo 6. Criou-se uma expectativa enorme que, dado o impacto exponencial das mudanças climáticas em nosso dia a dia, e que o tema ambiental está “em voga”, que haja maior pressão dos países partícipes em chegar a um acordo sobre as regras e funcionamento do notório artigo 6, que possibilita a criação de um mercado global de carbono

O argumento, válido a meu ver, é que devemos seguir as decisões e consequências desta Conferência, e torcer pela aceitação de créditos de carbono florestais e de desmatamento evitado. Devemos torcer porque há um potencial gigantesco para o Brasil se e quando os governos globais se alinharem num mercado global de carbono. Como temos 40% das florestas tropicais do mundo, e como (de acordo com a FAO) temos mais de 50% do carbono do mundo (mais que a soma do 2o ao 11o colocados), poderíamos conservar nossas florestas, gerar milhões de certificados digitais chamados créditos de carbono, e vendê-los a empresas e governos de países desenvolvidos.

A gestora global Schroders estima que a economia brasileira poderia crescer 6% a 7% ao ano se o Brasil atingir seu potencial de certificação de 1,5 bilhão de créditos de carbono ao ano – vendidos ao preço atual europeu de US$ 60, esse valor seria de US$ 90 bilhões de exportações (e portanto entrada de dólares) a mais para o país. A COP26, em Glasgow, na Escócia, pode ser uma grande oportunidade para o Brasil, mas não é nossa única esperança.

Fluxos para fundos ESG (que usam métricas socioambientais e de governança para investimentos) aumentaram de US$100 milhões em 2019 para estimados US$60 bilhões em 2021. E gestores de fundos ESG exigem que as empresas calculem e compensem suas emissões através de maior eficiência energética e a compra e aposento de créditos de carbono.

Consumidores, especialmente os millennials, e investidores exigindo, as cadeias produtivas vão capturar essa exigência e passar a calcular suas emissões de gás de efeito estufa. O que fazem as empresas após saber quanto poluem? Assumem o compromisso de fazer parte da mudança. A compra de créditos de carbono no mercado voluntário, que é global e auto regulado, pode trazer um resultado  interessante para o mercado brasileiro de carbono: os preços de crédito de carbono triplicaram globalmente no último ano, para uma média de 7,5 dólares.

Se o planeta validar na COP26 os créditos gerados por conservação de florestas e desmatamento evitado, melhor ainda: mais um grande aval para o mercado privado e voluntário de créditos. E será uma grande notícia para o Brasil, que deve ter seus créditos florestais mais valorizados no mercado internacional.

*Luis Felipe Adaime é fundador e CEO da Moss, pioneira plataforma global de compra e venda de tokens de crédito de carbono

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