O Brasil voltou a ser destaque internacional como referência em soluções sustentáveis para a mobilidade e o setor energético. Em visita ao país, o ministro indiano de Transportes Rodoviários e Rodovias, Nitin Gadkari, reafirmou que o modelo brasileiro de etanol foi a principal inspiração para a Índia alavancar seu programa nacional de biocombustíveis, que já atinge 20% de mistura de etanol na gasolina — um salto expressivo em relação aos 1,4% registrados em 2014.
A declaração foi feita durante encontro realizado nesta sexta-feira (16), na sede da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), em São Paulo, que reuniu autoridades indianas e representantes do setor sucroenergético e da indústria automotiva brasileira. A visita da comitiva indiana também incluiu passagens pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), em Piracicaba (SP), e pela fábrica da Toyota, em Sorocaba (SP).
Segundo Gadkari, o etanol representa uma solução estratégica para reduzir a poluição, fortalecer a economia rural e diminuir a dependência de combustíveis fósseis. “Hoje, já temos 11 montadoras na Índia prontas para operar com motores flex. Isso mostra como as alternativas sustentáveis podem caminhar junto com o desenvolvimento econômico e social”, afirmou.
Etanol como ponte para um futuro de baixo carbono
Durante o evento, o presidente da UNICA, Evandro Gussi, destacou que a parceria entre Brasil e Índia extrapola as fronteiras comerciais e serve de modelo para outras economias emergentes, como Japão, Filipinas, Indonésia, Malásia e África do Sul. “O etanol é uma resposta tecnológica já disponível para enfrentar a emergência climática global”, ressaltou.
Gussi também apontou os limites enfrentados por países desenvolvidos na rota da eletrificação veicular, defendendo uma abordagem equilibrada e plural para a descarbonização da matriz energética. “Todos os caminhos são importantes, mas precisamos reconhecer que há barreiras econômicas e estruturais significativas. O biocombustível, sobretudo o etanol, é uma solução viável, escalável e acessível, principalmente para os países do Sul Global.”
Segundo estimativas da Agência Internacional de Energia, a produção global de bioenergia precisará crescer quatro vezes até 2035 para atender à demanda de uma economia mundial mais limpa. “Por isso, é essencial consolidar um mercado global de etanol e biometano, pautado pela segurança energética, cooperação internacional e baixa intensidade de carbono”, completou.
RenovaBio e a mistura E30: avanços do Brasil
O encontro também foi marcado pela apresentação de políticas públicas brasileiras de apoio ao setor, como o RenovaBio — que valoriza a eficiência energética e a descarbonização da produção de biocombustíveis — e os estudos sobre a viabilidade da mistura de 30% de etanol à gasolina (E30), que já demonstraram segurança e eficiência técnica.
A reunião foi conduzida por Luis Roberto Pogetti, membro do Conselho da UNICA, e contou com a presença de empresas parceiras como Toyota do Brasil e John Deere, além de representantes da comitiva indiana, como o conselheiro geral Hansraj Verma e o diretor fundador da Federação Indiana de Energia Verde, Vaibhav Dange.
Representantes das empresas associadas à UNICA também compartilharam suas perspectivas sobre o futuro dos biocombustíveis e o papel da bioenergia na mobilidade sustentável.