Acordo Mercosul-União Europeia: Oportunidades e Desafios para o Setor Sucroenergético

Por: Wilson Nascimento

Após 25 anos de negociações, o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE) foi finalmente assinado, trazendo novas perspectivas para o comércio internacional de bens agropecuários. Para o setor sucroenergético, esse tratado representa tanto oportunidades significativas quanto desafios que demandarão atenção e estratégia por parte dos produtores e exportadores brasileiros.

Impactos Diretos no Setor Sucroenergético

Um dos principais destaques do acordo é o etanol. O documento prevê uma cota de 450 mil toneladas de etanol industrial sem tarifas a partir da entrada em vigor, além de uma cota adicional de 200 mil toneladas para o etanol combustível e para outros usos, com alíquotas reduzidas gradualmente. Isso significa que o etanol brasileiro, reconhecido mundialmente por sua eficiência produtiva e sustentabilidade, terá um acesso mais competitivo ao mercado europeu.

Outro ponto importante é o açúcar, que terá uma cota inicial de 180 mil toneladas com tarifa zero. Embora essa cota seja limitada, ela representa uma oportunidade de crescimento nas exportações do produto, especialmente para atender às exigências europeias por produtos mais sustentáveis e alinhados com os compromissos ambientais.

Vantagens para o Brasil

O acordo reflete a força do setor agropecuário brasileiro e reforça a competitividade do país no mercado internacional. A redução gradual das tarifas facilitará a entrada de produtos como etanol e açúcar no mercado europeu, o que pode impulsionar a demanda e gerar mais receitas para o setor sucroenergético. Além disso, o fortalecimento do comércio com a União Europeia pode incentivar investimentos no setor, especialmente em tecnologia e inovação, para atender aos padrões de qualidade e sustentabilidade exigidos.

Desafios a Serem Superados

Apesar das vantagens, o acordo traz também desafios. A concorrência com os produtos europeus e a necessidade de atender a exigências ambientais e sanitárias rigorosas podem pressionar os produtores brasileiros. Para aproveitar as oportunidades geradas pelo tratado, será necessário um esforço conjunto do setor e do governo para garantir que os produtos brasileiros atendam aos critérios estabelecidos pela União Europeia, como a origem ambientalmente correta e a rastreabilidade da produção.

Além disso, as cotas limitadas, tanto para o açúcar quanto para o etanol, podem restringir o crescimento das exportações no curto prazo. Superar essas barreiras dependerá de negociações futuras e de uma estratégia de longo prazo que valorize a eficiência produtiva e a sustentabilidade do setor sucroenergético.

Sustentabilidade como Diferencial Competitivo

O compromisso do Brasil com o Acordo de Paris e a redução de emissões de gases do efeito estufa são elementos que podem beneficiar o setor sucroenergético no âmbito do acordo. O etanol brasileiro, como biocombustível de referência mundial, se destaca pela sua pegada de carbono reduzida. Isso poderá abrir portas para parcerias estratégicas e maior inserção no mercado europeu, que valoriza cada vez mais práticas sustentáveis.

Perspectivas Futuras

O acordo Mercosul-União Europeia é um marco histórico que poderá transformar as relações comerciais entre os blocos. Para o setor sucroenergético, ele representa uma oportunidade de expandir mercados e consolidar a posição do Brasil como líder global na produção de etanol e açúcar sustentável. No entanto, será crucial monitorar a implementação do tratado, adaptar-se às exigências e trabalhar em estratégias de fortalecimento da competitividade.

O Brasil, com sua expertise e capacidade produtiva, tem todas as condições para se destacar neste novo cenário. O setor sucroenergético, que já desempenha um papel central na economia brasileira, tem agora a chance de reforçar sua relevância no mercado internacional e contribuir para um futuro mais sustentável.

Wilson Nascimento é diretor executivo do Portal Canal da Cana